LilianMeus filhos são tudo de mais precioso que tenho. Por eles, mato e morro.
E não me importo que me achem superprotetora, invasiva até.
Só eu sei, o temor e a culpa que carrego há anos.
Para ser mais específica, desde a gravidez de Noah, quando descobri que transmitiria aos meus filhos, o gene de pseudartrose necrosante. Uma doença degenerativa e sem cura, capaz de torná -los incapacitados fisicamente.
Desde que recebi essa informação, meu mundo virou de cabeça para baixo.
Passei a observar cada passo, cada detalhe de Colin minuciosamente, fazendo o mesmo com Noah depois.
Felizmente, eles passaram pela infância e adolescência, incólumes. Quer dizer, me deram alguns sustos, por gostarem de esportes em geral e trazerem as consequências disso para casa.
Contudo, nada relacionado à doença. E agora, que eu estava prestes a relaxar , Noah tem demonstrado os sintomas dessa maldita patologia.
Luís acha que é exagero da minha parte e, que tudo não passa de descuido da parte dele ao praticar seus exercícios.
Porém, eu sinto que vai além. Sinto que meu medo de anos, está se concretizando.
E não posso fazer nada para evitar ...Para tentar me distrair, meu marido, insistiu que viessemos para nosso sítio em Ibiúna.
Afirmando que o contato com a natureza, aliviaria a tensão constante em que tenho vivido, desde que essas dores de Noah começaram.
Entretanto, meu pensamento permanece a mil.
- Meu amor, o que aflige a tanto ?- ele questiona sentando- se ao meu lado no balanço da varanda.
- Noah e essas dores ...
- Lilian, não é nada relacionado com a doença. - afirmou tentando me convencer - Ele mesmo, afirmou que tinha exagerado nos exercícios...
- Luís, eu sei que não é apenas isso. - insisti - Vi como ele chegou ontem, estava completamente tomado pela dor. Meu medo...
- Seu medo tem que ser controlado !!! - me interrompeu- Nós temos que ser racionais e convencê -lo a consultar o médico, realizar os exames. Só assim, para sabermos o que está acontecendo.
- Mas para isso teremos que contar sobre a doença e que ele herdou isso de mim. - Me senti apavorada com a possibilidade de ele me culpar.
- Meu amor, seja racional !!! - segurou minhas mãos como nas diversas vezes, que tivemos essa conversa anteriormente - Nossos filhos jamais irão te culpar por nada, muito menos por algo como isso, que está fora do seu controle. Você é uma mãe excepcional...
- Excepcional ?! Dei de herança aos meus filhos, a possibilidade de ficarem inválidos !!! Como posso ser considerada, assim ?! - angustiada, não contive o choro.
- Lilian, já falamos tanto sobre essa questão !!! E você se martiriza há tanto tempo ...- passou as mãos pelo cabelo cansado - Temos que lidar com essa possibilidade juntos, como a família forte que somos.
- Não irei suportar, amor ...
- Acalme - se !!! Nós estamos juntos para o que der e vier ...
- Ele vai me odiar !!! Eu sei ...
- Você está considerando nosso filho um completo desinformado, para não dizer imbecil. Óbvio, que se por ventura, Noah vier a desenvolver essa patologia, jamais irá te culpar. Nosso filho é extremamente esclarecido, além de generoso.
- Tenho medo ...
- Você tem medo de manchar a imagem de mãe perfeita que criou em sua mente e para os amigos, Lilian !!! - disse irritado- Não está realmente preocupada com o bem- estar do nosso filho ...Só me dei conta do que havia feito, quando senti minha mão arder e vi o vergão que se espalhou na lateral do rosto dele.
- Meu Deus !!! Me perdoe !!! - supliquei- Eu não sei o que me deu ...
Ele passou a mão pela área atingida, ficou de pé e se afastou alguns passos, antes de murmurar :
- Vou dar uma caminhada.
- Luís, por favor ...
- Agora não, Lilian.- saiu sem olhar para trás.Meu Deus, o que estava acontecendo comigo ?!
Esse descontrole ...
Chorei como há muito não fazia. Por medo, por raiva da vida e do destino.
E por me dar conta, que Luís tinha certa razão ao dizer, que eu não queria arranhar minha imagem de mãe perfeita.
Afinal, era à ela que me agarrava, para calar a frustração de ter me tornado apenas esposa e mãe, largando minha vida profissional de lado.
De fato, eu concentrava todas as minhas energias, para fazer a vida da nossa família funcionar perfeitamente, como uma máquina. Sendo assim, essa maldita doença, era uma ameaça à minha vida de comercial de margarina. Ao sucesso que é minha família, principalmente, por ser uma doença transmitida somente pela mãe.Depois do que pareceram horas, ele voltou para casa.
- Lilian, assim que voltarmos para casa, vamos conversar com os meninos e esclarecer essa situação. - falou taxativo.
- Mas ...
- Não tem mas, nem meio mas !!! Chega de viver à sombra desse medo. E mais, caso seja a doença se manifestando, quanto antes Noah procurar tratamento melhor. Além disso,vai precisar de todo o nosso apoio.
- Você tem razão. - concordei com a voz embargada - Já protelei demais para resolver isso.
- Exatamente. - disse secamente.
Permaneceu de braços cruzados me encarando por algum tempo, antes de se aproximar e me abraçar.
- Eu sinto muito... - disse deixando que as lágrimas corressem livremente.
- Vai ficar tudo bem, meu amor.- me consolou - Só precisamos ficar unidos.
- Eu te amo.- falei ficando na ponta dos pés e beijando delicadamente seus lábios.
- Eu também, dona Lilian e muito.
O restante do dia, passamos namorando.
Porém, quando anoiteceu uma angústia sem fim, me dominou.
A imagem de Colin, vinha a minha mente a todo instante. Eu sentia algo de errado devia estar acontecendo com o meu menino.
Mas para não aborrece -lo, tentei focar minha atenção no jantar que ele preparou.
Porém, ele me conhecia até do avesso e não pude continuar com meu fingimento por muito tempo.
- O que está acontecendo, Lilian ? - me encarou complacente .
- Amor, tem alguma coisa séria acontecendo com o Colin ...
- Seriedade e Colin na mesma frase não combinam, meu amor. - tentou me confortar - À essa hora ele deve estar namorando, sem lembrar da nossa existência.
- Luís, estou com um pressentimento. Sei que há algo, eu sinto ...
- Lilian !!! Você prometeu que ia deixar que eles vivessem a vida e que nós iríamos, fazer o mesmo. Estou cansado de ficar em segundo plano !!!
Nesse instante, meu celular tocou e atendi automaticamente.
- Senhora Lilian ? Aqui é do hospital Albert Einstein, nosso contato é sobre seu filho Colin ...
Hospital.
Colin.
- Lilian ?! O que houve ?!
A voz de Luís soava longe, enquanto eu tentava absorver o que o atendente dizia.
- Estamos à caminho. - desliguei sem saber metade do que havia sido dito.
Só sabia que Colin tinha sofrido um acidente de carro e que tinha sido transferido para lá, após receber os cuidados emergenciais em um hospital público.
Eu sabia que meu menino precisava de mim.
Olhei para Luís, que pálido esperava por minha reação.
- Colin, sofreu um acidente de carro e está no hospital. Precisamos ir, agora.
Ele assentiu e imediatamente nos colocamos à caminho.
Que Deus protegesse, meu amor.
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Uma nova chance para amar
RomanceNoah, jovem, bonito,arquiteto, bem sucedido e com a vida do jeito que havia planejado, tem seus planos alterados drasticamente ao ser diagnosticado tardiamente com uma doença autoimune e degenerativa. Acostumado a ter o controle de tudo e de todos e...