A garota do parque

Capítulo 39

   Christopher sempre teve uma vida conturbada. A mãe foi  brutalmente assassinada – ele assistiu tudo com apenas sete anos –, meses depois foi morar com a avó, que três anos seguintes teve a casa incendiada por não conseguir pagar as dividas de sua filha. Sem ter para onde ir, Chris morou por quase um ano nas ruas, mais precisamente nas ruas da periferia de Owen Sound.

    Não demorou muito para ele se envolver com pessoas erradas e, consequentemente, fazer coisas erradas. Ele precisava de dinheiro para sobreviver, para comer... O "grupo" de assaltantes se reuniam numa cabana escondida no meio do mato, mas não demoraram muito para serem descobertos. Dos cinco, apenas Christopher conseguiu escapar.
   Aos dezesseis, o garoto já trabalhava para um traficante dos grandes, ele não tinha lá o melhor dos " cargos" ou era digno de maior confiança – afinal, ele só tinha dezesseis anos –, mas era relativamente bom no que fazia. Era rápido e calculista, quase invisível.
Christopher era como uma cobra, dessas que você só percebe quando é picado.

   A partir daí ele começou a trilhar o seu caminho para a vingança, era a única coisa que ele tinha em mente. Vingar sua família, ele tinha que pagar, ele matou sua mãe, destruiu a casa de sua avó e a velha que não conseguiu escapar teve o corpo carbonizado, isso não podia ficar "em branco".
   Subindo aos poucos, Chris chegou até Paul Williams, fazendo serviços pequenos, ganhado confiança, ganhando o seu terreno aos poucos.
   Dois anos depois ele teve a oportunidade de conhecer Megan. A garota foi até o pai por pura pirraça, ela não deveria estar ali, Paul a fez voltar para casa a pé, uma distância absurda.
  
   Christopher sabia que estava errado, mas deu uma desculpa qualquer para sair um pouco e levou Megan o mais próximo que podia da sua casa. Foi naquele dia que ele descobriu o quanto Megan odiava o pai, que não era só a vida dele que Paul destruiu, mas principalmente, que ele tinha uma aliada. Aos poucos e juntos, Chris e Megan planejaram o fim de Paul.

    Sempre se mostrando uma pessoa de confiança – ou fingindo ser uma–, sendo perfeccionista em todos os serviços que lhe foram confiados, Christopher ganhou a confiança de Paul.
    O homem sempre soube que aquele era o seu filho e que aquilo poderia ser perigoso, mas Chris quando assumiu que sabia da identidade do pai, deu mil e uma justificativas do porque ele não precisaria. O homem o estudou, caçou o passado do filho, mas não encontrou nada de suspeito, que soasse verdadeiramente ameaçador. Então, para Paul, ele não representava perigo.

   Estava enganado.

   O garoto não lembrava de tanta coisa, mas nunca esqueceria da conversa que teve com a avó pouco antes da morte chegar até ela.

   Scarlett Peterson morreu ainda jovem, aos vinte e quatro anos. Uma mulher muito bonita, alta, com sua pele negra, os cabelos cheios e cacheados, o corpo curvilíneo... Scarlett nunca passaria despercebida.
   Ainda muito nova, começou a usar drogas para " esquecer" as dificuldades que a vida lhe impusera. Os problemas aumentaram quando o dinheiro começou a lhe faltar e ela não conseguia mais pagar suas dúvidas de drogas.
    Na primeira oportunidade que teve, como " castigo", Paul abusou sexualmente de Scarlett e fez da vida dela um inferno, ele só deu um tempo quando a garota pagou uma parte da dívida, uma pequena parte.
  
    Mesmo descobrindo que estava grávida de Paul dois meses depois, Scarlett nunca pensou em abortar. Sua mãe trabalhava em dois turnos para dividir o dinheiro entre a casa e a dívida e Scarlett trabalhava um turno, até quando pôde.
   Elas nunca tiveram uma vida fácil, mas depois que Christopher nasceu as coisas se tornaram ainda mais difíceis, mas ao mesmo tempo o garoto era a luz da vida delas. Se passaram seis anos, Scarlett e a mãe pagando a dívida de pouquinho em pouquinho, mas o valor era muito alto. Paul só permitiu que isso acontecesse porque sabia que a mulher estava grávida e porque ele ainda estava sensibilizado pela gravidez da sua mulher, Diana. Mas logo a sua verdade veio a tona e acabou com o pingo de sensibilidade que poderia existir nele.

   Foi nesse momento que Paul virou a vida do próprio filho de cabeça para baixo, e agora, Christopher estava pronto para fazer a mesma coisa com o pai.
   Ele já tinha aliados da própria máfia. Os cinco homens desaparecidos? Chris achou a história cômica.

                                 ***

— Como estar se sentindo?— Chris perguntou a Megan. Ele sabia a resposta, ela estava nervosa, ansiosa. No entanto, ele estava muito bem, havia esperado a vida inteira por aquele momento.

   — Bem. Um pouco nervosa, mas bem.— ela respondeu.— Finalmente ele vai pagar pelo que fez. Por minha mãe, por Lilian, por sua família, pela família de Sam, por tantas outras...

   — Ainda não acredito que o detetive se juntou à nós para ferrar com Paul.— Christopher balançou a cabeça. — Tudo bem, ele não sabe sobre mim, mas ainda assim é estranho, e suspeito .

   — Não, não é suspeito. E Sam sabe sobre você, ele não precisa confessar isso, eu sei que ele sabe.— Megan fez uma pausa.— Ele é o homem de maior confiança que eu conheço...

   — Obrigado...

   — Não seja dramático.— ela diz.— Sei que você estar nessa por si mesmo e não por mim, mas não tiro sua razão.

   Chris, respeitando o semáforo, parou o carro, já que a luz vermelha estava em evidência.

   — Isso não é cem por cento verdade.— ele afirmou.— Estamos juntos nessa, estou por você também. Não seja idiota.

   Por alguns segundos o silêncio se instalou. A luz ficou verde e Chris seguiu com o carro.

   — Espero que Lilian esteja bem.— um pequeno sorriso brotou nos lábios da loira.— E Adrielle também.

   — Paul não vai ter tempo de chegar até elas.— Christopher acelerou o carro.

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   Capítulo curto né? Eu sei. Foi só para vocês conhecerem um pouco mais o Chris e como ele e Megan se juntaram nessa.
   Chris não foi um personagem planejado, como os outros, mas gosto muito dele e espero que vocês possam gostar também.

  

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