Capítulo 40

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   O carro estacionou não muito distante da nova casa dos Williams. Megan e Chris entrariam e fariam Paul se arrepender, pelo menos era o previsto.
   Antes de descer do carro, a dupla colocou um boné e vestiu o capuz. Christopher entrou primeiro, o lugar estava escuro, mas por conhecer bem o local, o homem não teve dificuldades. Teve muito cuidado ao observar tudo e procurar a presença de Paul... Nada, apenas o silêncio. Logo depois, com a mochila nas costas, Megan adentrou o espaço.
   Ela foi para um lado e Chris subiu a escada. Mas antes, calçou suas luvas. O rapaz subiu cada degrau com cautela, viu a luz que saía da fresta da porta do escritório.

   Problema.
  
   Christopher tirou sua pistola da cintura e a destravou, observou o pai através da fresta. Paul estava de costas, com o celular contra o ouvido obviamente conversando com alguém. Não era surpresa que o homem estivesse acordado uma hora dessas, ele precisa encontrar Adrielle e a castigar e depois levá-la para conhecer o inferno.
   Com uma camisa social branca e calça escura, Paul marcava sua elegância até para encomendar assassinatos, mas hoje, a sua camisa ganharia um novo tom. Vermelho-  sangue, o seu sangue.

   Com todo o cuidado, Chris abriu a porta um pouco mais e adentrou o cômodo, passos lentos e silencioso, com a pistola apontada para frente, para a nuca de Paul.
   O mais velho sempre teve um sexto sentido e Chris sabia disso. Paul virou-se abruptamente para o filho e não conseguiu esconder a surpresa.

   — Só um momento.— Paul disse para quem quer que seja pelo celular.— Que porra você estar fazendo? Como entrou aqui?

   — Desliga o celular.— Christopher falou, baixo. Palavras não poderiam descrever o prazer que ele estava sentindo ao fazer aquilo. Finalmente. Era como a realização de um sonho.

  Paul franziu o cenho e tentou um sorriso desconcertante, mas logo percebeu que Chris não estava brincando. Então virou a tela no celular para frente e desligou a chamada, estava tentando levar as mãos até a cintura quando o filho o surpreendeu.

   — Nem tente. Não me faça acabar com a festa mais cedo papai.— Christopher sorriu com deboche.— Mãos para cima.

   A única reação que Paul conseguiu ter foi erguer a sobrancelha esquerda.

   — Além de idiota agora está ficando surdo?— as palavras escorriam da boca de Chris como veneno, como a cobra criada que era.— Coloca as mãos para cima!

   Paul o obedeceu... E como isso era gratificante.

   Com isso, Chris se aproximou e pegou o celular erguido pela mão direita do pai e guardou em um dos bolsos.

   — Ok. O que estar acontecendo? Que palhaçada é essa? Se continuar Chris, eu juro, juro que você não vai sobreviver a morte para contar  história.— a ira estava presente na voz do homem. Mas Chris apenas riu. Gargalhou.

   — Eu já sobrevivi, duas vezes. Eu sou a morte agora. Você fez isso. Como o bom criador de monstros que você é. Estar na hora de você me conhecer de verdade.— o mais novo balançou a cabeça.— Olha a ironia disso.

   — Veremos.— foi a única coisa que Paul disse.

   — Okay, okay... Vira de costas. Não me faça mandar de novo.— Christopher disse, ou melhor, ordenou. Assim Paul fez, ainda com as mãos erguidas, virou-se de costas.
   Foi quando Chris tirou do bolso um pano preto e como se fosse sufocar o homem com o braço, pressionou o pano contra o nariz de Paul.
   O mesmo até tentou se debater e se manter consciente ou até pegar sua arma, mas não conseguiu. Sem se importar com o próprio pai, Chris  deixou o corpo de Paul chocar-se contra o chão.

   Observou o corpo jogado no chão e com um pé, empurrou o rosto do homem para o lado, certificando-se que ele estava mesmo desacordado.
   Agachou próximo a Paul e puxou  arma da cintura do homem. Guardou as duas em sua própria e levantou-se novamente. Agora era só tirar o corpo do escritório.

                                  ***

   Megan não podia se dizer feliz naquele momento, mas realizada seria uma boa definição. A garota estava sentada em um banco, de frente para o corpo do próprio pai. O capuz ainda estava cobrindo sua cabeça e as luvas já estavam devidamente calçadas.
   Paul estava sentado com as mãos e os pés amarrados, a boca devidamente amordaçada, mesmo que o local tivesse um perfeito isolamento acústico, ainda não era o momento dos gritos do homem ecoar.

   O lugar tinha uma iluminação precária, parecia não ter visto uma vassoura há dias e haviam caixas de papelão pelos cantos. Uma mala de viagem preta quase passara despercebida, mas ficou só no quase. Mais cedo quando Megan a abriu, descobriu roupas e... Armas de longo alcance.

   Paul estava acordando e Megan arrastou sua cadeira para trás, seu rosto não ficava tão visível, mas sabia-se que havia alguém ali.
   O homem começou a contorcer os braços na tentativa falha de os soltar das amarras, logo percebeu que seus pés também estavam presos às cordas, então lentamente levantou a cabeça. Tudo voltou a sua cabeça, Christopher e sua loucura o havia sedado.

   Apesar de Paul ainda não poder enxergar a face de sua filha, Megan podia ver o ódio em seu olhar.

   — Que bom que acordou.— a voz de Megan se dissolveu aos poucos pelo local.— Há quanto tempo não dorme?

   Paul firmou a sua postura na cadeira e tentou murmurar alguma coisa, mas  nada foi entendido. Ele conhecia aquela voz...

   Foi naquele momento em que Chris entrou no porão, sim, eles não podiam sair da casa com Paul daquele jeito, podia chamar a atenção de alguém, eles não queriam isso. Christopher foi até o pai e tirou a mordaça, Paul começou a ofegar.

   — Eu acho melhor vocês se entregarem enquanto há tempo, talvez eu os poupe da dor.— ele ameaçou, mas foi como nada, ou melhor, como o nada que ele era agora.

   Megan se levantou da cadeira e ajustou o capuz, Chris que agora estava ao seu lado, puxou o banco e sentou para assistir o show.

   A garota colocou as mãos dentro dos bolsos do casaco e caminhou mais para frente em passos lentos. O único barulho era o das suas botas.
   A curiosidade de Paul era visível, mas ele não iria explodir em perguntas, não daria esse gostinho para eles.

   — Não vai perguntar nada?— Megan perguntou.— Estar confortável?
   Ela caminhou até Paul e rodeou a cadeira que eles estava sentado, ficando atrás dele, apoiando as mãos no encosto da cadeira.

   — Eu conheço você.— Paul afirmou com convicção e um ar de deboche.

   — Não, você não conhece.— Megan deu dois tapinhas nos ombros dele.

   — Conheço a sua voz.— ele falou com um sorrisinho debochado.

      Megan respirou fundo.

   — Claro que conhece. Que bom que não se esqueceu de mim. Tornam as coisa mais rápidas.— ela mal podia esperar.

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A garota do parqueOnde histórias criam vida. Descubra agora