Só Posso Dizer

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Eram 13h 30min, resolvi mandar uma mensagem para Eliane, perguntando como a mesma estava, ela demorou para me responder, mas quando respondeu fora em forma de vídeo. Um vídeo de seu filho fazendo brigadeiro de panela, na verdade ele estava pondo os ingredientes na panela. Ela conversava com ele, enquanto o menino colocava os ingredientes necessários para fazer o doce. Após eu terminar de ver o vídeo, tinha uma mensagem dela.

📱Eliane: Não quis ficar na escola, você viu? Resolvi voltar para casa para me fortalecer.
Eu: Sim! Eu vi quando foi embora. Você está bem?
Eliane: Sim! Um pouco chateada pelo fato das pessoas serem tão vazias, mas estou bem. Estou com os meus amores.
Eu: Que bom! Você merece estar rodeada de amor!
Eliane: E você? Como está?
Eu: Estou bem! Um pouco chateada com o acontecido.
Eliane: Não fique! Está tudo bem. O quê fará hoje?
Eu: Vou terminar de corrigir "The Mother" e te entregar. E você?
Eliane: Vou me resgatar! Ficar com meus filhos.
Eu: Que maravilha!📱

O fim de semana passou rapidamente e com ele minha vontade de ver Eliane só aumentava. Na segunda-feira fui para a escola e sai na troca de intervalos, como eu sempre fazia, vi Eliane arrumando algumas coisas enquanto caminha, não sei se ela me viu indo em sua direção, mas olhou para frente e revirou os olhos. Aquilo foi estranho e eu me senti muito mal, mas não dei importância. A abracei e a cumprimentei. Após isso fui até seu Sérgio, porém a Adriana estava passando e pediu para que eu fosse até a sala dela, pois ela queria falar comigo.

— Gi, me contaram algumas coisas que você fez para ajudar a professora Eliane durante o processo da foto. Sei que fez para protegê-la, mas ameaçar as alunas é algo horrível. Você não pode bater de porta em porta e perguntar quem tirou a foto... — A interrompi, era injustiça demais.

— Um segundo! Primeiro: eu não ameacei ninguém! Segundo: Não fui de porta em porta perguntando quem havia feito tamanha monstruosidade com a Eliane. Simplesmente perguntei de quem era o estojo, sem levantar nenhuma suspeita do que eu estava fazendo. Tenho provas de que estou falando a verdade! Jamais mentiria dessa forma, tão descaradamente. Elas fizeram uma coisa horrível e querem me levar junto? Não tenho problema em ser acusada de ter agido sem pensar, sei que deveria ter falado com vocês, mas era algo pessoal e só a Eliane poderia resolver esta questão. Procurei sim as meninas, mas em nenhum momento às ameacei.

— Calma, meu amor! Não estamos...

— Estou calma, Adriana! E sim, vocês estão sim me acusando. Mas tudo bem! Fiz e não me arrependo! Faria mil vezes, pois ela é uma professora maravilhosa e um doce de pessoa!

Adriana olhou para a Alessandra e voltou a me olhar.

— Tem como chamar a Eliane aqui? — Adriana perguntou para Alessandra.

— Agora ela está em aula.

— Para quê irão tirá-la de sua sala de aula sendo que não há nenhuma necessidade? Eu sei quem tirou a foto, porém não sei o nome dela, mas posso mostrá-la.

— Já sabemos quem foi. Foi a Luciele! Já resolvemos com ela.

— Que maravilha! Espero que ela crie vergonha na cara, porque a Eliane não merece nada disso. — Mexi nas mensagens do meu celular e mostrei as conversas que tive com as meninas no whatsapp para a Adriana, a mesma leu e me entregou. — Posso ir agora? Minha inocência acabou de ser confirmada.

— Sim! Mas... Não faça mais! Fale conosco que resolveremos!

— Claro! — Saí da sala e fui para a minha.

Não conseguia entender o porquê aquelas meninas haviam feito aquilo. Era ridículo, desnecessário. Como poderia existir pessoas que gostavam de fazer mal ao próximo? Ela era a professora delas, no mínimo elas deviam respeito.

As horas passaram rapidamente e fui para casa. Mandei uma mensagem para Eliane que rapidamente me respondeu.

📱Eu: Adriana me chamou para conversar, disse que eu havia ameaçado as meninas. Não fiz nada disso.
Eliane: Oi! Eu soube e te peço: não te exponha. Não vale a pena! Agradeço o que fez, mas não quero mais falar sobre isso.
Eu: Tudo bem... Desculpa...!📱

A conversa terminou ali. Respeitava-na demais para insistir no assunto. Tirei minha roupa, pus algo bem confortável e me deitei. Quando mexi no celular havia uma mensagem de Eliane, fiquei surpresa, pois ela nunca me chamava. Iniciamos uma conversa...

Na terça-feira daquela mesma semana resolvi conversar um pouco com o tio Sérgio e ele começou a falar sobre algumas coisas relacionadas ao espiritismo. Falei para ele que não acreditava nem em Deus, quem dirá do que ele estava falando, mas o respeitava por acreditar e admirar. Vi Eliane sair dos primeiros anos e sorri.

— O quê foi? Ele perguntando enquanto varria a sala.

— A princesa acabou de sair da sala. Merda, ela está olhando para cá. Vou fingir que não vi. Fala alguma coisa, seu Sérgio!

— Tu vai ir agora? — Eliane gritou, olhei para trás e vi minha professora de português sair dos terceiros anos, achei que ela estava falando com a professora, mas a mesma não respondeu.

— Está falando comigo?

— Sim! Vamos comigo?!

— O-Ok! Vamos! — Olhe para seu Sérgio.

— Vai sair correndo atrás dela?

— O meu amor está me chamando. — Sorri. — Não posso perder esta oportunidade.

— Vá de uma vez!

— Até amanhã! — Sorri e sai correndo.

A acompanhei até a parada, ela falou sobre o quão importante era dar aulas. Contou-me sobre um amigo que era advogado e ganhava muito bem. Perguntou o que eu queria ser — respondi que queria ser professora, ela disse que era uma profissão muito desvalorizada, mas eu não ligava. Queria aquilo para mim. O prazer de saber mais do que aquelas pessoas que estavam ali para prestar atenção no que eu tinha para dizer era revigorante. Queria aquela atenção e sei que poderia prendê-los com o meu amor pela minha profissão escolhida. Contei também que tinha uma segunda opção: direito. Ela disse que era uma ótima profissão e que ganhava muito bem, mas a verdade era que eu não ligava para isso, eu queria o prazer de amar o que eu fazia e não trabalhar só por dinheiro e viver infeliz.

Conversamos bastante. Ela falou sobre estar longe do cigarro havia uns 30 dias e que achava poder livrar-se dele. Falei sobre minha avó e ela me escutou como ninguém fazia. Fiquei constrangida e me calei. Ela então começou a falar, até chegarmos no ponto de ônibus. Tinha uns alunos lá e ela falou com eles, fique esperando, achando que ela subiria comigo, mas resolveu ficar com os alunos.

— Obrigada pela conversa e por me escutar! — Abraçou-me.

— Sempre que quiser estarei aqui! Tchau!

— Tchau! — Sorriu. E que sorriso?!

Fui para casa radiante. Tinha passado um longo tempo ao lado daquela mulher maravilhosamente incrível. Eu estava completamente realizada.

Cuida bem de mim Onde histórias criam vida. Descubra agora