Se você quiser

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Depois desse dia ficamos mais próximas. Na segunda-feira você me pediu para te esperar no portão e eu te esperei. Você estava linda com uma blusa verde, calça jeans e aquele sapato preto que você adora. Seus cabelos estavam lisos uma vez que havia feito escova no dia anterior.

— Você está linda! — Eu disse.

— Estou? É por você! — Eu sorri e super acreditei que estava te fazendo esse bem todo. Nos abraçamos e você entrou para a sala de aula, já que estava atrasada.

Encontrei a Duda nos corredores na hora do recreio e começamos a falar sobre você.

— Ela está linda!

— Ela disse que o marido e ela transaram muito ontem, por isso está daquele jeito: feliz.

Tirei na hora meu sorriso do rosto. Tudo bem, eu sabia que você era casada, mas escutar aquilo havia sido duro demais.

— Bom pra ela!

— Pelo jeito que ela fala deve deixar ela de quatro. Deve ter um... — Não a deixei terminar a frase, sabia muito bem o que ela ia dizer.

— Ai, Duda! Credo!

— Ah tá! Vai dizer que não, agora?

— Como eu vou saber?

Ela sorriu e começou a cantar uma das músicas que ela gostava.

Ele tinha sorte: sorte por tê-la, por acordar todos os dias ao seu lado e poder ver sua carinha de sono ao acordar. Ele tinha sorte por poder chamá-la de esposa e talvez isso eu nunca possa fazer.

Era engraçado pensar em você da forma que eu pensava, nunca pensei que minha vida e sentimentos fosse mudar de tal maneira. Sempre fui o tipo de menina que se não deu certo, bola pra frente! Mas você, Eliane, você foi totalmente diferente de qualquer sentimento que achei que tive. Você me mostrou que amar é sofrer intensamente. É querer a pessoa mais do que qualquer coisa. É não desistir na primeira oportunidade, e eu não desistiria de você. Nunca!

Os dias foram passando e com eles o mês. Na última quinta-feira do mês de junho, no dia 28, nos encontramos. Você faltou o seu trabalho para se encontrar comigo e eu falei aula. Nosso encontro era às 10h dá manhã, eu estava na casa do Victor, ansiosa te esperando.

— Oi, aonde você está? — Você disse do outro lado da linha.

— Oi! Estou vendo teu carro, já estou indo. — Desligamos.

Saí do condomínio e entrei em seu carro. Você sorriu para mim e eu quis morrer.

— Ela e seus chocolates.

— São para você! Não sei se você gosta desses. — Eu havia comprado uma caixa de raffaello.

— São os meus preferidos. — Sorri. — Então vamos conversar?

— Vamos!

Você deu partida e seguimos para sua casa, quando estávamos próximas de lá, você parou no mercado e comprou café e risoles, demorou uns 15 minutos. Sim! Eu contei.

— Eu não posso ir ali que ela me para querendo conversar. — Você disse sorrindo. — Desculpa pela demora.

— Tudo bem.

Fomos para sua casa, um sobrado dentro de um condomínio. Entramos e você foi abrindo as janelas.

— Não repara a bagunça.

— Eu não dou bola para isso.

— Vamos conversar, então? — Você disse e então começou a falar.

Disse tudo! Falou que não sabia o que estava sentindo, mas era bom estar comigo. Sempre quis que alguém dissesse as coisas que falei para você. Nunca imaginou que pudesse sentir algo por mulher, nunca teve atração. Então eu expliquei que o que estava acontecendo não envolvia somente o físico. Não era o que tínhamos dentro de nossas calças que poderia interferir no que sentimos. Você ficou me olhando e então continuou. Falou sobre sua vida e coisas que aconteceram ao longo do tempo. Falou sobre seus amores. Sobre as vezes que se apaixonou e sobre as vezes que eles te abandonaram. Não consegui entender o porquê alguém faria isso com você. Eu jamais poderia fazer algo assim.

Você parou de falar e colocou para tocar Nando Reis, escutamos e me abraçou. Beijou o topo de minha cabeça. Ficou calada por alguns minutos até que decidiu falar:

— Gi?

— Oi!

— Me beija?

Fiquei sem reação, não poderia fazer algo do tipo quando você, no dia anterior, me pediu para não beijá-la, pois não estava preparada. Eu também não estava preparada, eu nunca havia beijado uma garota antes e isso me deixava com medo. Medo de fazer algo errado.

Olhei para você e beijei sua bochecha. Sua expressão era de indignação, mas eu não poderia fazer nada além daquele simples beijo. Você levantou do sofá e saiu para fora de sua casa, fechou as janelas e voltou.

— Agora temos mais privacidade, mas você não quis me beijar, então me farei de difícil. — Encantadoramente sedutora, pensei.

— Desculpe, mas você disse para eu não te beijar, não posso fazer algo que você não queira. — Eu disse, você sorriu e sentou-se na poltrona à minha frente.

— Essa nossa relação é bem mais do que isso, né? Tem respeito!

— Nunca duvide disso! Sempre a respeitarei.

— Obrigada!

— Não precisa agradecer.

— O quê você quer de mim? Dinheiro eu não tenho.

— Eu quero você, não importa como!

— Eu não consigo acreditar nesse teu sentimento. Isso parece idealização. Você fala as mesmas coisas que falava para a Fernanda. — A olhei e deixei que continuasse falando.

Você estava tão errada, querida. Eu nunca falei nada para a Fernanda. Eu nunca quis que ela estivesse realmente dentro de mim. Eu nunca fiz nada para que ela estivesse em meu coração ou nos meus pensamentos. Escrevi aquela história, mas nada daquilo aconteceu, somente alguns episódios, mas nada mais aconteceu. Nada de intenso ou destruidor. Eu não gostava dela, fiquei afim dela. Achava ela bonita e queria somente trocar alguns beijos com a minha professora. Mas você, Eliane? Por você eu me apaixonei desde o primeiro dia que a vi. Eu não sabia seu nome, nem quem você era. Não sabia nada sobre você, só tinha essa vontade de ser alguém importante na tua vida. Alguém com quem você pudesse contar sempre. Queria ser seu amor.

— Você não é uma idealização, acho que sei bem o que estou sentindo por você. E eu te amo! Em algum momento você vai se convencer disso.

— Eu acho que também te amo! — Não pude conter o sorriso quando você falou isso. Mesmo eu sabendo que o seu "eu te amo" era falado para qualquer pessoa, eu queria que aquele "eu te amo" fosse único e verdadeiro.

— E então?

— Acho que voltamos ao início. — Você olhou no relógio, eram quase 14h. — Tenho que ir.

— Tudo bem...

— Vou comer antes de sair. — Você esquentou um dos risoles e me ofereceu o outro, eu não quis, estava sem fome. Fiquei a olhando enquanto comia, até comendo você era linda.

— Não me olha assim!

— Assim como?

— Do jeito que está olhando agora.

— Desculpa!

Você terminou de comer, escovou os dentes e pegou sua bolsa.

— Quer bubbaloo?

— Não. — Olhei para você e a goma de mascar estava entre seus dentes.

— Que pena, ia te dar ele de um jeito diferente.

Não soube o que falar, eu estava muito nervosa, sempre fico quando estou ao seu lado.

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