(A)Normal

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Acordei com seu bom dia
Mensagem rotineira que sempre varia
Cada uma em meu coração tem estadia
Tua fala tens a melhor melodia
Respondi de forma carinhosa
Ela queria conversar
Normal, carente, vaidosa
Estava apressado, tive que dispensar
Muito atarefado, pouco focado
Constantemente a me julgar
Organizo meus materiais, meio largado
Meu desjejum venho a tomar
Saio correndo atrasado
Por um triz chego no horário
De novo, para variar

Chega 7:40 da manhã, duas aulas de português

Normalmente, mais um dia iniciará
Olho minha mochila mais uma vez
A procura de algo de suma importância
Droga, esqueci o trabalho do mês
O desespero veio em abundância
Já estava pensando em desculpas clichês
Conversei com deselegância
Mas já não havia o que fazer

Bate 9:10, o sinal toca, que inicie a discórdia

Encontrei-a, em meio ao caos
Aqueles cachos loiros, aquele belo olhar ardia
Meu coração palpitava,
Sentia quase hipercardia
Covarde com um gole de ousadia
Aproximei-me para perguntar o que querias
Descerrei os lábios de forma arredia
Contudo, fui intervalado de forma repentina Aconchegado com ânimo que irradia
Puxaram-me tão forte que quase caira
Arrastado para longe encontrei-me na quadra
Era inverno e o frio intenso me cobria
Estava na hora dos treinos de quarta
Normal, a temporada de jogos em poucos dias iniciaria
Ouvi um boato que meu colega dissuadia
Aparentemente relacionado à palavra... Vadia?

Veio 9:30, novamente o sinal, perdi o intervalo

Todos para suas salas
No caminho vi um salão ao fundo, isolado
Certamente jamais alguém passaria para aquela ala
Mais 4 aulas indiferentes, tédio transcrito no quadro
Normalidade, trabalhos e jogos, tentei me distrair para ver se o tempo passará
Passada as horas, veio o momento de recolher para meu lado
Apertado fui na condução lotada de adolescentes com mala

Chegando em casa, mensagem de meu anjo
“Preciso muito conversar contigo”
Rapidamente comecei a digitar
Com palavras fiz um arranjo
Repentinamente um som estrondoso vem dos confins de meu abrigo.
Meu irmão caçula, ao ouvir já imaginava o castigo
Pulei para ver o que ocorrerá
Vi, então, o armário de doces ao chão, moleque desleixado
- Sai daí, deixa que eu encaixo
Horas pareceram minutos enquanto trabalhava

Começará a anoitecer

Normal, hora de fazer o jantar, meu corpo definhava
Faminto, cozinhei, jantei
Meu banho, por fim, tomei e o dia aliviava
Finalmente deitei
Pude assistir minha série favorita e aos poucos meus olhos fechei

Toca o despertador 6:00 da manhã

Algo está diferente, minha estranheza está de passagem
Abro o WhatsApp, vejo que há algo em falta
Droga, esqueci de enviar a mensagem
Minha atenção não anda muito alta
Enviei mais de mil perdões pela vacilagem
Entretanto, não responderá, será que estava apreciando a paisagem?
Dirigi-me até a escola, novamente a rotina de aulas estava inativa
O sinal toca, o barulho mais reconfortante para minha mente hiperativa
Procurei-a pelo pátio
Ela não estava lá…
Meu pensamento estava torpe como sinal de rádio
O que fazer então?
Em meio aos pensamentos lembrei-me

Putz, ela tem depressão!

Essa não, MERDA, o que será que ela queria?
Meu coração batia forte, desespero e pesar em meu ser fazem parceria
Em minha mente a frase “Preciso falar contigo”
Eu corria desesperadamente pelo pátio
Subitamente tudo começa a ressoar em minha cabeça como um estádio
“Aquela loira cacheada é vadia”
“Há uma sala escura, isolada, com uma corda ao fundo da quadra”
“É inverno, a depressão com mais força procedia”
“Ela estava carente, por quê? O que será que ela queria?”
“O que ela tinha pra me falar?”
Ouvi um grito de horror ao fundo da escola

Vinha da quadra

Congelei por um instante, o que será que me aguarda?
Por fim disparei como uma bala em direção ao som que ouvira
Havia um amontoado de pessoas, pasmas

Então a vi…

“Será que eu a teria salvo?”
“Eu podia tê-la salvo, o que ela queria me dizer?”

Ela estava pendurada

E eu atordoado, minha mente torpe me torturava
“Negligente! O que custava parar para ouvir”
“Ela não vai voltar”
“Isso é minha culpa, meu maior mal.
“Posso olhar a vontade para o celular”
Mas nada a trará de volta, por eu acreditar que tudo sempre está (a)normal.

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