Noite

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Diferente dos meus outros escritos, essa será uma narrativa, um relato, sem rima, sem fórmula, sem costume... Mas afinal nem só de poesia vive o poeta.

NOITE

Mais uma noite, limpa, vem ofertando seu frio eloquente que aconchega e mal trata. O céu permanece em seu azul que migra vagarosamente para um tom de roxo em direção ao horizonte, e escurece no topo de minha cabeça. Estrelas, poucas, ofuscadas na paisagem urbana que se sobrepõe, não só como imagem, não como lugar, mas como ser. Este ser urbano sonolento ao dia com insônia ao luar. Melancólico, infeliz, soturno… Poeta, quase repugnante. Repudia a si mesmo e se expele em palavras harmoniosas que disfarçam seu caráter sórdido!

O foco é a luz, longínqua, inalcançável, distância criada de si para si mesmo. Seu interior a contém, mas não se contenta, há de perdê-la aos poucos para seus desejos. Impulsos racionalizados ilógicos sucumbidos a sua deusa de Milo. Seu cheiro, sua voz, sua pele, o calor de seu toque e o ápice de sua ligação! Permanente incluídos à noite, a senhora da escuridão, com sua iluminação cósmica que transitou em vossos corpos e transitará para toda a eternidade.

E por fim… O odor de sua presença perdura, agora o frio, finalmente, me cobre. Meus pés descalços se encontram em meio a bagunça deixada por ti, a desordem da noite, logo amanhecerá, chegará o Sol com seu calor que irá demarcar um novo começo. Seja o que for para ser e será, construa seu fim, para que então não seja igual a mim.

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