Devaneio

Des-abafo

As palavras me parecem tão pequenas, tão chulas, tão… esquecíveis. Me esqueço das palavras, já não sei dizê-las no momento certo e elas já não me acolhem. Mesmo que ditas, são tão facilmente deixadas, esquecidas, por muitas vezes vazias e sem seu real significado. "Amor", penso na etimologia da palavra, vinda do latim, tendo seu mesmo significado desde sua origem, mesma origem que nos trouxe a palavra "mãe" para o português. E ainda sim, tão pequenas, tendo um significado tremendamente avassalador, são tão triviais.

Me pergunto o motivo pelo qual não escrevo sobre minha paixão, provavelmente porque já não a tenho, e esta dúvida fugaz me atormenta.
Paixão, palavra vinda do latim "passĭo,ōnis", etimologicamente dita, precursora das palavras "passividade" e "sofrimento".
Sem minha paixão já não há pelo o que "sofrer de amor", e sem a mesma minha escrita se torna tão frívola!

"Melagkholía", precursora da palavra "melancolia", tendo por si o significado de quem tem a condição de ter "bile negra" (de acordo com a escola de Kos, dentro da "Teoria Humoral" a bile/bílis negra faz parte do equilíbrio da "teoria dos quatro humores", sendo essa caracterizada por ser seca, fria e soturna). Essa condição me acompanha e nunca se vai, constantemente a me sufocar, ela jamais permitirá o ar entrar, afinal, sem o oxigênio do ar não se acende a chama da paixão, ocasionando assim minha morte lírica! Motivo pelo qual minhas mãos estão sempre tão frias.

Sem parte de mim sinto-me tão insuficiente, vazio, fico abafando meus gritos de súplica atrás da cara sorridente, implodindo por trás de minha masculinidade tóxica!
Dentro de mim está tudo tão calorento, palavras que estão entaladas necessitam do ar que jamais será emanado por um defunto pronto para ser cremado, aprisionadas dentro de um ser que as esquece! Carregadas junto com seus restos mortais, coisas tão pequenas, sem significado, por fim, serão lançadas ao vento e esquecidas por um (des)abafo.