Capítulo 51

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Há dias que venho me sentindo com mal estar. Nos primeiros dias que senti uma pequena vertigem, encarei isso como consequência da má alimentação que vinha tendo devido ao abuso que sofri, então, mesmo sem vontade, decidi me forçar a comer melhor.

Outra coisa que pensei que era a causador desse mal estar foi todo o estresse que vinha enfrentando naqueles dias. Os pesadelos, medo de Fernanda não aguentar e me deixar, o pavor dele voltar e me machucar novamente ou, o pior, roubar meu filho. Tantas coisas aconteciam comigo, tantos traumas surgiram naquele dia que, pensei que era por isso que eu estava daquele jeito.

Os dias foram passando e os "sintomas" se abrandaram, as coisas foram se acertando e eu estava mais leve. Morando com Fernanda, formando uma família com ela, voltando a trabalhar, encontrando um grupo que me dava motivos para continuar e, o melhor, ele ser preso. Tudo corroborava para eu estar me sentindo melhor, porém, as coisas nem sempre são simples como a gente quer.

Fernanda está viajando a trabalho, uma oportunidade e tanto para a agência, algo que ela almejou muito e que estava se tornando realidade. Eu estava feliz e orgulhosa dela, por tudo que ela alcançou em sua vida, ainda mais depois de tomar ciência de todos os males que ela teve que enfrentar para chegar onde chegou.

Pensem comigo: Diante de tantas coisas boas, qual não foi minha surpresa ao notar que algo estava errado, que algo estava faltando e, pior ainda, passar mal com enjoos enquanto cozinhava para você e seu filho?

Aquilo não era um bom sinal e, mesmo com medo, mesmo temendo descobrir que minhas suspeitas podiam estar certas, aproveitei a ausência de Fernanda e fui até uma farmácia qualquer e comprei o famoso teste.

Fiquei naquela noite de quinta, horas andando de um lado para o outro dentro daquele banheiro depois de colocar Gabriel para dormir, antes de, finalmente, decidir por fazer.

Sentada na tampa do vaso sanitário, fiquei olhando aquele teste sobre a pia e respirando fundo diversas vezes para retardar o momento de olhar o que havia dado.

Quando vi aquela listra, quando vi o resultado, desabei chorando. Não podia ser! Não podia ser verdade aquilo. Eu já havia passado por tanto, sofrido tanto e agora isso? Sentada na tampa do vaso sanitário, com o rosto entre as mãos, desabei em desespero.

Mil e uma coisas passaram por minha cabeça: vergonha, medo, ódio, pavor, raiva, nojo... tantos sentimentos envolvidos que não sabia julgar.

Tantas perguntas me envolviam: O que devo fazer? Quem devo procurar? O que Fernanda vai pensar? Etc.

Naquela noite eu não dormi, não tinha vontade de fazer nada. Eu carregava em meu ventre um bebê... um filho daquele homem, daquele maldito que me fez tanto mal. "Por quê?! Eu não mereço passar por isso!"

Estava em meu quarto e de Fernanda, chorando sem parar, quando a porta do quarto se abriu e por ela entrou, em passinhos curtos e lentos, esfregando os olhinhos e arrastando um pequeno cobertor, meu pequeno. Meu filho Gabriel.

- O que foi, meu filho? - Perguntei o olhando e tentando disfarçar meu péssimo semblante.

- Mamãe... tive um sonho ruim. - Ele respondeu e pude notar como seu lábio tremia devido ao medo.

- Ohhh meu filho! Vem cá com mamãe, vem. - Falei me levantando e indo até ele, pegando ele no colo e levando para cama comigo. - Fica aqui que eu cuido de você. - Disse o abraçando e ele se aferrou a mim com força.

Zuma, logo subiu na cama e deitou a nosso pé, se esticando todo. Eles são inseparáveis e não adiantava mandar sair, se Gabriel dorme conosco, Zuma dorme também.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora