Capítulo 46

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Não consigo dormir direito, minha mente só fica imaginando formas de achar o desgraçado que fez o que fez com Paola. São 5:30 da manhã e já estou de pé, vestindo algo para ir ao hospital vê-la.

Ver seu rosto cheio de ferimentos devido a covardia daquele maldito, me enche de fúria, ódio. Sei que não posso carregar esses sentimentos, mas não consigo evitar que eles se manifestem. O pior dos sentimentos que eu poderia sentir hoje é a culpa, mas ela é inevitável. O engraçado é que, da mesma maneira que ela te corrói por dentro, ela também te dar uma força para você correr atrás de consertar seu erro. "Um lindo e maldito sentimento".

Já estamos na segunda-feira, segundo o médico, provavelmente ela já possa sair do hospital hoje, mas, aí começa a parte mais complicada disso tudo: a "readaptação" dela.

Além de todo processo na esfera da justiça que acontecerá, ela ainda precisará de suporte psicológico e também de que todos que a cercam, amigos, família, etc, tenham muita paciência e compreensão, pois ela carregará traumas que podem lhe atormentar durante toda sua vida.

Eu, mesmo que tentando disfarçar, já reparei em algumas mudanças em seu jeito. Por exemplo, ela tem comido muito menos que antes, mantém um sorriso forçado e os olhos perdidos, tem pesadelos constantes e/ou evita dormir e, o pior para mim, tem ficado mais contida com contatos simples como abraços, segurar sua mão, além de evitar que outras pessoas a vejam com poucas roupas.

Paola também desenvolveu uma necessidade de minha presença gigantesca, o que é preocupante, não por ela estar contando comigo, mas, por ela se sentir insegura a ponto de depender tanto de alguém assim.

Quero poder ajudá-la, mas não sei como fazer. Tenho medo de falar algo ou fazer algo que engatilhe seu trauma e, se o fizer, eu acho que morreria.

Termino de me vestir, pego minha bolsa já pronta para poder ir ao hospital, quero chegar cedo para saber como ela passou a noite e se já pode ir embora. Eu passei a primeira noite com ela, pois ninguém conseguiu me arrastar daquele lugar, porém, dessa vez, Isabel não permitiu, exigindo que eu viesse descansar e prometendo cuidar dela. Eu ainda tentei argumentar, mas ela foi categórica, dizendo que Paola não precisa que eu fique doente e sim que eu esteja forte para ficar ao lado dela. Diante dessas palavras, não me restou nada mais que abaixar a cabeça e vir.

Mas, sinceramente, se tivesse ficado sentada nos bancos da sala de espera, talvez eu teria passado uma noite mais "confortável". Durante toda a noite eu fiquei me virando na cama, olhando a tela do celular em busca de uma mensagem, ou pensando se deveria ligar para saber se ela estava bem ou não. O fato é que não preguei os olhos e vejo em meu rosto o reflexo disso: uma pessoa abatida, com um ar cansado lhe envolvendo e nem um pouco simpática.

Saio do meu quarto e vou em direção a sala de estar, atrás das minhas chaves que joguei em algum canto quando cheguei na noite passada, mais uma vez, bêbada. Olho em volta e nem sinal delas.

- Já de pé? - Ouço a voz de Helena às minhas costas, o que me faz virar para olhá-la.

- Oi... Sim, vou pro hospital, ver como a Paola passou a noite. - Falei voltando ao meu laboro, buscando em todos os cantos.

- Fernanda... eu sei que está sendo insuportável isso para você... - Minha irmã começa a falar e sinto sua voz hesitante, porém, continuo procurando as malditas chaves. - Você não pode se deixar abater por isso, essa é a última coisa que Paola precisa.

- Relaxa, eu vou ficar bem. - Respondi, finalmente achando o que buscava embaixo da mesa de centro.

- Será que vai, Fê? - Helena questiona. - Toda vez que você recebe um baque, você fica mal... você lembra bem o que aconteceu com Jaqueline...

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora