Capítulo 45

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Minhas mãos estão trêmulas e manchadas naquela cor vermelha. Olho para elas e sinto uma dor sem tamanho, fechando meus olhos e torcendo para ter sido somente um pesadelo e no fim eu acordar, sendo abraçada pela única pessoa que quero ver agora.

Aquele corredor frio, aquelas pessoas passando, o som de seus sapatos ecoando pelo piso. Tudo está tão longínquo que nem tenho percepção do que realmente está ocorrendo a minha volta. Fecho os olhos, com força, querendo não ver nem ouvir mais nada, mas é pior, pois minhas lembranças me carregam direto para horas atrás.

.

Saí do trabalho tão feliz, havia me atrasado um pouco, mas não havia problema, afinal, eu poderia vê-la, além de ter conseguido fechar um negócio excelente para a empresa. "Ela vai ficar empolgada quando disser" pensei. Se eu soubesse... se tivesse chegado mais cedo...

Lembro que desci rindo e conversando animadamente com Cláudio, nós estávamos chegando no topo e aquilo era maravilhoso. Que irônico! Eu trocaria o topo só para voltar alguns minutos no tempo, quem sabe assim eu poderia ter evitado esse maldito acontecimento.

Peguei meu carro, mas antes de sair, disquei seu número, para avisar que estava chegando, para ela poder se aprontar. Chamou uma, duas, três, quatro... seguiu até cair na caixa postal e nada dela me atender. Por que não encarei aquilo como um problema? Por que só achei que ela poderia estar, sei lá, no banho e que me retornaria?

'Por que, se'... palavras que me acompanharão para sempre e, acreditem, elas são insuportáveis.

Segui pelo trânsito maldito dessa cidade, com a rádio ligada e uma canção animada tocando. Acho que nunca esquecerei a sequência que reproduziram aquele instante. Meus dedos batucavam o volante e eu fazia planos para o final de semana, o primeiro que passaríamos inteiramente juntas, só nós duas.

Depois de um tempo no trânsito, entrei em sua rua. Vi algumas pessoas passando, aquele clima bairrista de uma acalorada noite de sexta-feira. Estacionei em frente ao seu portão, desliguei tudo e desci, indo em direção a sua casa.

O portão estava fechado, toquei a pequena campainha e esperei. Peguei meu celular e nada de mensagens dela. Esperei, mas nada dela aparecer. Toquei novamente e esperei, mas, novamente, nada.

- Será que ela não está em casa?! - Perguntei-me, ali sim, estranhando a situação. Voltei a tocar, dessa vez insistindo mais tempo, porém o silêncio reinava.

- Oi minha filha. - Uma senhora falou, chamando minha atenção. Já havia a visto, era a vizinha de Paola, quem Gabriel chamava de vovó.

- Olá... sabe se Paola saiu? - Perguntei, pois não estava entendendo nada.

- Acho que não... ela chegou e conversamos... tem umas duas horas ou mais, mas não a vi sair. - Respondeu se aproximando e olhando para dentro.

- Estranho... ela marcou comigo, mas não atende. - Falei olhando para dentro. Somente uma luz estava acesa.

- Ouvi o cachorrinho dela latindo mais cedo... parecia que ela estava com alguém, mas não sei. - A mulher comentou.

Ao ouvi-la, senti um frio na espinha. Um daqueles mal pressentimentos que todo mundo fala que temos, mas que nunca damos bola.

- A senhora se importaria... - Falei hesitante, me virando para ela. - Seu muro dá para o quintal dela... eu estou preocupada e sou amiga dela... - Disse, mas ela logo me interrompeu.

- Fique tranquila minha filha, sei que são amigas, já te vi aqui... vem, pode entrar pela minha casa. - Falou já se dirigindo para seu portão e abrindo para eu entrar. - Ela sempre atende rápido, será que ela está passando mal? - Comentou, aumentando minha aflição.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora