Capítulo 13

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O boneco de palha já tinha dezenas de furos, então houve um disparo e mais um buraco surgia em seu corpo.

— Agora é sua vez, Ben! — falei para Benjamin, agora com seus treze anos, enquanto entregava a espingarda para ele.

— Atirar não tem graça. Eu gosto é de usar a lança.

— Você fala isso porque não está conseguindo acertar o alvo, mas eu lhe garanto que é tudo questão de prática. Vem, eu vou te ajudar. — chamando-o para perto de mim.

Um pouco a contragosto ele se aproximou e pegou a espingarda.

— Dobre levemente os joelhos e segure firme. — ajudando-o a fazer mira.

Sem esperar muito, o ansioso garoto logo disparou, mas errou o alvo.

— Eu falei, essa arma é uma droga. — esbravejou, como uma criança mimada.

— A espingarda é ótima! Não coloque a culpa da sua falta de habilidade nela. Se você se focar mais e não for tão afobado, tenho certeza de que vai conseguir.

— Já disse que não quero atirar com essa coisa.

— Tudo bem! Você não precisa atirar com ela. Mas um dia terá de aprender.

— Quero que me leve com você pra caçar lobos.

— Sabe que não gostei nada do que você fez da última vez que te levei para caçar. Acho melhor esperar até que você amadureça um pouco mais.

Em nossa última caçada, encontramos um lobo preso à armadilha.

O procedimento é disparar e matar o lobo da forma mais indolor possível, mas Benjamin partiu para cima do animal e o perfurou diversas vezes com a lança, claramente sentindo prazer em torturar o animal.

Com a morte de Alonso, eu era a figura paterna de Benjamin agora, mas definitivamente estava falhando miseravelmente nessa missão.

Eu podia ver o ódio que ardia no interior daquele garoto e não sabia o que fazer para aplacar tanta fúria.

Ele me olhou fixo, com o cenho fechado, e então voltou para casa, pisando firme no chão.

O vento estava forte e aquele dia parecia especialmente frio, até mesmo para aquela cidade, então retornei para casa também.

Isidora me recepcionou com uma torta e comemos ao redor da lareira.

— Essas eram as últimas frutas. Tive de fazer essa torta antes que estragassem. — disse Isidora. — De agora em diante, só teremos carne e peixe, até o inverno acabar.

— Por falar nisso, esse inverno está mais frio do que nunca. — comentou Laura. — Parece que a cada ano esfria mais. Ano passado, mesmo no verão, houveram poucos dias com temperatura acima de zero.

— O mundo está mudando, minha filha. O homem está mudando o mundo e é para pior.

— Acha que essa mudança brusca do clima tem a ver com a guerra?

— Essas bombas explodindo em todos os lugares, não duvido que altere o clima do mundo.

— A torta está ótima, Isi! — comentei, tentando mudar de assunto.

— Que bom que gostou, coloquei as raspas de limão por cima, como você gosta.

Benjamin termina de comer, larga seu prato em cima da mesa, praticamente jogando-o, e sai porta afora.

— O que deu nesse garoto? — questionou Laura. — Ultimamente ele está impossível.

— Deixe ele, Laura. — reprime Isidora. — Essa idade é assim mesmo. Além do mais, ele ainda não superou a perda do pai.

Memórias de um ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora