Capítulo 18

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A manhã estava calma e o clima ameno, algo realmente raro naquela era. O Sol se escondeu atrás de nuvens de chuva, mas ainda fazia calor.

O lago corria agitado levando consigo os dois barquinhos de papel, que apostavam corrida um com o outro.

O da direita seguia na frente, mas uma pedra em seu caminho o fez rodopiar e perder a posição, sendo ultrapassado pelo da esquerda, que cruzou a linha de chegada.

— Ganhei! — dizia Sara, rindo e sapateando de alegria.

Os dias alegres eram tão raros que decidi nos dar uma folga.

Era perigoso estar ali, mas viver com medo e fugindo era algo ainda mais assustador.

— Vamos de novo? — pediu ela, correndo em minha volta.

— É o último papel que tenho, só dá pra fazer um.

— Aaaah! É pra desempatar, você ganhou duas e eu ganhei duas.

— Vamos ver o que dá pra fazer.

Cortei a folha ao meio, em tamanhos iguais e fiz o origami.

Com algum esforço consegui fazer dois barquinhos de papel.

— Ficaram bem pequenos, como você! — disse, enquanto os entregava a Sara.

— Não sou pequena! Sou criança!

Ela seguiu até o rio e se ajoelhou na beirada, porém, quando foi colocar os barquinhos na água, viu uma gota cair no rio e então olhou pra cima.

Quando avistou as nuvens, Sara soltou os barcos e se afastou do rio. Ela estava pálida e com os olhos arregalados, em pânico.

— O que houve? — questionei.

— Chuva! Vai chover! Vamos correr! — disse ela, me puxando pela mão, apavorada.

— Mas qual o problema de uma chuvinha?

— Corre! Corre!

Decidi fazer como ela estava pedindo e fugimos pela rua, procurando abrigo.

Entramos em uma loja de roupas, que ficava em um prédio de quatro andares e Sara não descansou até que subíssemos até o terceiro, então sentou-se no chão, escorada em uma parede e segurando as pernas, bem longe das janelas.

Um trovão ressoou no local, seguido do clarão de um relâmpago.

— Ah, é dos raios que você tem medo? — perguntei a ela.

— Não! É da chuva. Ela é perigosa.

Alguns poucos segundos se passaram e a chuva começou.

Me aproximei de uma janela, devagar, quando Sara me alertou.

— Não! Não fica perto da janela. A chuva vai te machucar.

— Tudo bem, eu só vou checar uma coisa.

Já em frente a janela, estendi meu braço pra fora e deixei algumas gotas caírem sobre minha mão.

Imediatamente uma fumaça vermelha começou a ser expelida e minha mão começou a queimar, então a recolhi rápido.

— Ah! Sua mão! — exclamou Sara.

— Não se preocupe, foi só uma gota.

— Mas ela tá queimando. Não respira essa fumaça.

Por sorte eu havia desistido de respirar à muitos anos, já que me parecia totalmente desnecessário e não me fazia falta.

Seria aquela chuva ácida resultado do lançamento do tal Gás Vermelho que Lars havia mencionado?

Memórias de um ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora