A manhã estava calma e o clima ameno, algo realmente raro naquela era. O Sol se escondeu atrás de nuvens de chuva, mas ainda fazia calor.
O lago corria agitado levando consigo os dois barquinhos de papel, que apostavam corrida um com o outro.
O da direita seguia na frente, mas uma pedra em seu caminho o fez rodopiar e perder a posição, sendo ultrapassado pelo da esquerda, que cruzou a linha de chegada.
— Ganhei! — dizia Sara, rindo e sapateando de alegria.
Os dias alegres eram tão raros que decidi nos dar uma folga.
Era perigoso estar ali, mas viver com medo e fugindo era algo ainda mais assustador.
— Vamos de novo? — pediu ela, correndo em minha volta.
— É o último papel que tenho, só dá pra fazer um.
— Aaaah! É pra desempatar, você ganhou duas e eu ganhei duas.
— Vamos ver o que dá pra fazer.
Cortei a folha ao meio, em tamanhos iguais e fiz o origami.
Com algum esforço consegui fazer dois barquinhos de papel.
— Ficaram bem pequenos, como você! — disse, enquanto os entregava a Sara.
— Não sou pequena! Sou criança!
Ela seguiu até o rio e se ajoelhou na beirada, porém, quando foi colocar os barquinhos na água, viu uma gota cair no rio e então olhou pra cima.
Quando avistou as nuvens, Sara soltou os barcos e se afastou do rio. Ela estava pálida e com os olhos arregalados, em pânico.
— O que houve? — questionei.
— Chuva! Vai chover! Vamos correr! — disse ela, me puxando pela mão, apavorada.
— Mas qual o problema de uma chuvinha?
— Corre! Corre!
Decidi fazer como ela estava pedindo e fugimos pela rua, procurando abrigo.
Entramos em uma loja de roupas, que ficava em um prédio de quatro andares e Sara não descansou até que subíssemos até o terceiro, então sentou-se no chão, escorada em uma parede e segurando as pernas, bem longe das janelas.
Um trovão ressoou no local, seguido do clarão de um relâmpago.
— Ah, é dos raios que você tem medo? — perguntei a ela.
— Não! É da chuva. Ela é perigosa.
Alguns poucos segundos se passaram e a chuva começou.
Me aproximei de uma janela, devagar, quando Sara me alertou.
— Não! Não fica perto da janela. A chuva vai te machucar.
— Tudo bem, eu só vou checar uma coisa.
Já em frente a janela, estendi meu braço pra fora e deixei algumas gotas caírem sobre minha mão.
Imediatamente uma fumaça vermelha começou a ser expelida e minha mão começou a queimar, então a recolhi rápido.
— Ah! Sua mão! — exclamou Sara.
— Não se preocupe, foi só uma gota.
— Mas ela tá queimando. Não respira essa fumaça.
Por sorte eu havia desistido de respirar à muitos anos, já que me parecia totalmente desnecessário e não me fazia falta.
Seria aquela chuva ácida resultado do lançamento do tal Gás Vermelho que Lars havia mencionado?
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Memórias de um Imortal
AdventureDesde os primórdios dos tempos a humanidade busca uma forma de estender o seu tempo neste mundo, desejam a juventude eterna, a imortalidade. Mas quando se fala em imortalidade, diversas vantagens nos vêm à cabeça, como se a vida fosse se tornar um e...