Sem a presença do homem, as águas pareciam mais limpas do que nunca e um peixe nadava despreocupadamente, quando foi atravessado por uma lança.
— De primeira? — disse o rapaz, espantado com minha destreza.
— Fiz isso por alguns anos. Hoje em dia parece bem fácil, mas no início eu era um fiasco. — enquanto puxava a corda que se prendia à lança, trazendo o peixe consigo.
— Com esse já são doze. Já é o suficiente. Melhor não ficarmos por aqui mais tempo.
Coloquei o último peixe na cesta e segurei em uma das alças, enquanto o rapaz segurava na outra e levamos para nossa base.
Já haviam passado algumas semanas e acabei decorando o caminho de volta, que mais parecia um labirinto.
Os encarregados de cozinhar utilizaram os peixes com os demais alimentos que tinham, preparando a refeição para todos.
— Onde está o Lars? — alguém perguntou.
Todos se olharam, sem respostas.
— Ele deve estar no terraço, fumando. — respondeu outro.
— Pode deixar que eu levo o almoço pra ele. — falei, enquanto servia um prato.
Fiz o caminho para saída, mas continuei subindo a escadaria, ao invés de seguir pelo corredor, indo até o topo.
Passei pela porta de aço e lá estava ele, fumando no terraço.
Aproximei-me devagar e parei ao seu lado, largando o prato em cima de uma mureta.
— Pensando na vida, Lars?
Ele tragou e revirou os olhos como se aquele cigarro lhe desse a sensação mais prazerosa de sua vida.
— Ao contrário. Pensando na morte. Na morte daqueles que já se foram. Você disse que perdeu seu pessoal, não sente falta deles?
— Sabe o que é mais assustador? Vivi por alguns anos com eles, mas bastou dois ou três dias para eu superar a perda. Às vezes sinto que estou me tornando menos humano à medida que o tempo passa.
— De fato, você parece uma máquina. Sobe doze andares de escadaria sem ficar ofegante.
— Tenho uma boa resistência.
— Já eu, quantos anos acha que tenho? — ele disse, abrindo os braços e ficando de frente para mim.
— Eu diria que uns sessenta e cinco.
Ele deu uma gargalhada.
— Tenho cinquenta e dois. Essa vida me judiou bastante então eu acabei envelhecendo rápido. E você? Tem uma postura de quem já viveu muito, mas parece ter uns vinte e poucos.
— Vinte e cinco. — a idade que decidi mais viável para sustentar a minha história e conciliar com a minha aparência. Além do mais, eu já não fazia ideia qual era a minha idade real.
— Tão novo. Na sua idade foi quando tive minha primeira filha.
— Ela está aqui?
— Não! Ela está aqui. — apontando para seu próprio peito.
— É sobre ela que estava pensando, antes de eu vir interromper sua nostalgia?
— Sobre ela, sobre minha família e amigos. Todos ficaram para trás. Apenas minha filha mais nova e eu sobrevivemos.
— Quer falar sobre isso?
— Já ouviu falar no Gás Vermelho, garoto?
— Não!
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Memórias de um Imortal
AdventureDesde os primórdios dos tempos a humanidade busca uma forma de estender o seu tempo neste mundo, desejam a juventude eterna, a imortalidade. Mas quando se fala em imortalidade, diversas vantagens nos vêm à cabeça, como se a vida fosse se tornar um e...