As estatuetas de cavalo moviam-se para cima e para baixo, enquanto davam voltas formando um círculo perfeito dentro de uma tenda semelhante à de um circo.
Montada em um dos cavalos estava Sara, enquanto eu empurrava a estrutura, fazendo o carrossel girar.
Ela se balançava e ria como se ouvisse a mais engraçada das piadas.
Nascida em um ambiente hostil, vivendo em meio à uma guerra e ao ódio, ela certamente não teve tempo para diversão e aquele talvez tenha sido um dos primeiros momentos em que Sara teve a oportunidade de ser criança.
— MAIS RÁPIDO! — ela pedia, com um enorme sorriso no rosto.
— Então segure-se firme. — respondi, acelerando o passo.
Empurrei o mais rápido que pude e o carrossel girou como um pião, talvez até pouco seguro, mas o que era um carrossel girando rápido comparado à realidade atual, onde a morte espreitava à cada esquina?
Ela ria sem parar, até que ficou calada de repente, então fui reduzindo a velocidade aos poucos.
Um pouco antes do carrossel parar totalmente, ela saiu correndo e se agachou no chão, vomitando em seguida. Foi quando percebi que exagerei na velocidade.
— Sara? Você está bem? — perguntei, colocando uma das mãos na cabeça.
Assim que se recuperou, ela se voltou para mim, ainda sorrindo.
— Vamos de novo?
Quando algo ruim acontece conosco, nosso cérebro faz a ligação entre o acontecimento ruim e situação em que ele ocorreu, então toda vez em que você estiver em uma situação semelhante, mesmo que nada de ruim esteja ocorrendo, seu cérebro irá dizer para você se afastar e você irá ficar desconfortável.
Ainda sim, mesmo passando mal, Sara queria continuar brincando.
Acho que vomitar estava longe de ser a pior coisa pelo qual ela havia passado e isso não parece ter abalado em nada seu emocional.
— Já ficamos muito tempo aqui, precisamos ir.
— Aaaah! — choramingou Sara. — Mas ainda é cedo.
— Desculpa, mas é perigoso ficar tempo demais em um lugar aberto assim. Precisamos ir.
— Tá, bom! — disse ela, cruzando os braços emburrada.
— Quando tudo isso acabar, prometo que te levo em um parque de verdade.
— Com carrossel que gira sozinho? — voltando a sorrir e com um brilho nos olhos.
— Claro! Tem carrossel que gira sozinho, tem a roda gigante, montanha russa... Túnel do terror. — fazendo uma careta.
Sara deixou escapar um leve riso e começou a me imitar fazendo várias caretas enquanto caminhávamos.
Ficou vesga, depois puxou as laterais da boca, enquanto cerrava os dentes, então revirou os olhos enquanto mostrava a língua. Forçou, colocando o máximo possível da língua para fora da boca, até que começou a tossir. Ainda sim não perdeu o bom humor.
O pequeno parque onde havíamos feito nossa parada ficava em um campo aberto na beira de uma estrada e contava apenas com o carrossel, uma espécie de montanha russa pequena para crianças e alguns estandes de brincadeiras, como tiro ao alvo.
Saindo do parque retornamos para a estrada, de onde já era possível avistar a próxima cidade.
Era menor que a anterior, possuindo uma meia dúzia de prédios altos comerciais e o restante parecia ser de residências.
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Memórias de um Imortal
AdventureDesde os primórdios dos tempos a humanidade busca uma forma de estender o seu tempo neste mundo, desejam a juventude eterna, a imortalidade. Mas quando se fala em imortalidade, diversas vantagens nos vêm à cabeça, como se a vida fosse se tornar um e...