Capítulo 7

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O som da chuva batendo na janela tornava-se mais forte, só abafado pelos trovões, cujos relâmpagos me permitiam ver o rosto de Julia, morta em meus braços.

Por longos quarenta minutos eu me mantive exatamente na mesma posição, catatônico, ignorando a enorme quantidade de ferimentos em meu corpo, ainda com o pedaço de vergalhão de ferro atravessado em meu abdômen, apenas tentando assimilar o que havia acontecido.

A mulher da minha vida acabava de ser assassinada em minha frente e só havia uma coisa em minha mente naquele momento.

Coloquei-a suavemente deitada no chão e, quando levantei-me, senti o ranger de minhas costelas quebradas.

Meu joelho doía demais, mas eu teimei em caminhar com aquela perna assim mesmo.

Abri a gaveta do armário e retirei a arma de dentro da meia.

Carreguei a arma com a munição, guardando-a em seguida nas costas, presa na calça e também peguei o maior dos cacos de vidro que achei, do abajur estilhaçado, apertando o caco de vidro com força na mão, de forma que ela começou a sangrar.

Saí pela porta, parei em frente ao meu portão e fechei os olhos, enquanto levantava minha cabeça, recebendo as gotas de chuva que levavam embora boa parte daquele sangue e também parecia levar consigo o antigo "eu".

Caminhei até a rua e entrei naquele beco escuro, sentindo meu coração bater tão rápido quanto era humanamente possível.

Diferente da outra vez, não havia sequer uma gota de medo em mim e marchei pisando firme até aquela casa com o furo de bala na porta.

Fiz menção de colocar a mão na maçaneta, para abrir, mas optei por outra forma de entrar.

Chutei a fina porta de alumínio, que se quebrou facilmente, estourando os vidros da grade da parte de cima dela.

Lá dentro avistei dois deles e, sem pensar, avancei contra o primeiro, enfiando o caco de vidro em seu ombro. Eu havia mirado o pescoço, mas em sua reação de se defender, errei o alvo.

Golpeei a socos o rosto dele, que cambaleou para trás, enquanto o segundo me segurou pelas costas, me aplicando um mata-leão.

Ele parecia saber o que estava fazendo e senti que começava a perder os sentidos, quando lembrei o vergalhão cravado em meu abdômen. Segurei-o com ambas as mãos e então empurrei com força, de forma que ele terminasse de atravessar meu corpo, saindo nas costas e perfurando junto o corpo do meu adversário.

Por causa da dor, ele me soltou.

Inclinei rápido a cabeça para trás, lhe atingindo o nariz com minha nuca, então me virei e o golpeei com três socos, até que ele caiu.

O primeiro abriu uma gaveta e procurava algo, provavelmente uma arma, então terminei de remover o vergalhão do meu corpo, puxando pelo buraco que se abriu em minhas costas, e parti para cima dele.

Com os braços ele conseguiu se defender, mas os golpes do vergalhão certamente quebraram seus ossos e ele caiu, encolhendo-se.

Quando os dois já estavam fora de combate, o terceiro surgiu porta a dentro, provavelmente por ter visto ou ouvido o barulho da briga.

No momento em que ele entrou, agarrei-o pelo pescoço, o coloquei contra a parede e enfiei o vergalhão de ferro em sua barriga. Por ironia do destino era o mesmo que havia feito o mesmo em mim, na minha casa.

Eu vi o medo nos olhos dele e, certamente, ele viu ódio nos meus.

— Onde ele está? — perguntei, enquanto pressionava mais o vergalhão contra o abdômen dele.

Memórias de um ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora