CAPÍTULO 3

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   Olhos azuis escuros me encaram. Parecem querer me dizer algo, querem que eu entenda algo.
Mas eu não entendo.
Não entendo o porque de Olívia não estar gritando de indignação, não entendo porque ela não está abalada com tudo que eu disse, eu não entendo o porque de ela não dizer nada, apenas me encarar. E eu a encaro de volta , e lá no fundo de seus olhos a verdade se manifesta , se agita e se espalha por suas íris e me dizem tudo .
E eu entendo.
E não há mais culpa dentro de mim, apenas raiva. Uma raiva tão grande que faz minhas mãos se fecharem e ter uma enorme vontade de socar o rosto dela. Cravo a unhas nada palma da mão, sinto quando elas perfuram a pele e uma dor forte se espalha, mas não se compara com aquela que sinto no peito.
Lágrimas não derramadas queimam meus olhos, mas eu me nego a derramar uma lágrima sequer na frente de Olívia enquanto ela apenas me encara com olhos inexpressivos.

- Lívia, eu ...eu sinto muito que você tenha descobrido isso, eu não queria que você soubesse , sabia que iria te magoar - diz - eu sinto muito mesmo .

- Nada me magoou mais do que saber que você escondia a verdade de mim, quantas coisas mais você esconde ? Como eu posso confiar em você Olívia ?

- Você não entende Lívia, eu tenho que proteger você, eu não quero que nada te machuque !

Suas palavras são milhares de facadas perfurando meu peito,e de repente percebo o que estamos fazendo, o que estamos discutindo, percebo que tudo que eu quero, tudo que sempre quis foi a verdade. Eu sempre estou em busca da verdade, mas com Olívia isso não existe, pois tudo com ela é mistério, com ela tudo é um risco, e eu odeio correr riscos. Então o que estou fazendo aqui discutindo com ela ? O é que estou esperando? A verdade? Não a nada me esperando ali , não a frutos a se colher nessa conversa , apenas dor , e é por isso que eu me levanto e sigo até a porta, mas a voz de dela me para .

- Eu só queria lhe poupar- suas palavras são tão baixas que quase não as escuto , palavras que estilhaçam meu coração.Palavras que mostram o quão vulnerável, o quão humana Olívia também pode ser.
E eu estou correndo em direção a cama.
Correndo para os braços de Olívia.
Correndo para o conforto, porque eu sou fraca, porque não quero encarar a realidade sozinha, porque talvez eu precise mesmo da sua proteção, porque Olívia é forte e eu quero que ela que ela de um pouco de sua força para mim, eu quero que seja forte por nós duas.
Enfim eu permito que as lágrimas escorram , e eu aperto Olívia com todas as minhas forças, e ela aperta meu corpo que treme sem parar enquanto soluço com a cabeça aninhada em seu ombro.
As horas passam e nós continuamos alí coladas uma na outra, inseparáveis como nunca , apoiando uma a outra como sempre fizemos, Olívia me amparando como sempre fez . E uma eternidade se passa até que eu enfim me levanto e sigo  sozinha pelo corredor, perdida em milhares de pensamentos.
E só quando chego em meu quarto é que eu percebo que em meu ombro, onde Olívia tinha aninhado o rosto, estava todo molhado.

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Há dias o castelo tem andado agitado para o preparativos do baile de amanhã. Vários mensageiros saíndo a cavalo para entregar os convites e  entregas de bebidas chegando á despensa.
Tudo isso para meu aniversário de 17 anos . E o de Olívia também.
Dou um pulo quando um alfinete me espeta.

- Aii!- exclamo

- Parada mocinha ! Não sabe o trabalho que dá... - e lá vamos nós de novo, madame Georgette começa a nos informar sobre os detalhes mais inúteis da costura e como é difícil e blá blá blá.
Olho para Olívia, jogada na poltrona, sentada como não deveria, mas de alguma forma conseguindo parecer uma deusa em seu trono, irradiando elegância. Bem , se eu tentasse sentar daquele jeito , pareceria qualquer coisa menos uma princesa.
Ela olha para madame Georgette como se estivesse prestando atenção e balança a cabeça em concordância com os comentários mais absurdos já ouvidos , mas quando a falante costureira se virava para me espetar com mais um alfinete, Olívia fazia as caretas mais engraçadas, meu corpo sacudia pelas gargalhadas contidas, e como resultado eu conseguia mais algumas espetadas e ainda um novo sermão de madame Georgette, enquanto Olívia continuava esparramada na poltrona com o corpo intacto.
Quando madame Georgette se foi , enfim deixando meu pobre corpo em paz , eu já não sabia se o que mais doía eram os lugares espetados ( não havia muitos lugares onde aquela torturadora não houvesse enfiando um alfinete) ,ou minha pobre cabeça, que ainda ouvia a voz estridente daquela mulher endiabrada.

- Eu até te convidaria para correr comigo, se não soubesse que você está toda furada - diz Olívia, surgindo de repente do meu lado .

- Você só debocha por que não sabe o que é estar nas mãos daquela mulher !

- Pode acreditar... eu sei muito bem o que é ter que fazer um vestido com madame Georgette .

- Ei !! Você sabia que aquela mulher era a personificação do diabo e não me alertou sobre a tortura que ela inflingia ! - Olívia ri de meu drama , enquanto abraça-me pelos ombros.

- Lívia minha querida, para tudo se têm uma primeira vez , até para uma costureira louca por espetinho humano .

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Lívia (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora