CAPÍTULO 15

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Nas semanas seguintes, não saí do lado de Olívia, o tempo passava surrealmente devagar, e a única companhia que eu tinha era a das servas e da governanta Genevre, que me ajudavam a cuidar de minha irmã. Uma vez ou outra a curandeira aparecia, deixando suas ervas e explicando a Genevre como aplica-las, apesar de ela nunca dizer nada sobre o estado de Olívia, eu via em seus olhos que ela achava um caso perdido.
Era ela a melhor curandeira do reino. E saber que ela pensava aquilo era desesperador,a cada uma de suas visitas eu ficava sem esperança, e depois me sentia um tanto culpada por pensar de forma negativa.
Os dias passavam e nem mamãe e muito menos papai apareceu no quarto de Olívia,eu realmente me sentia muito satisfeita em não vê-los, sempre que lembrava dos olhos de meu pai , tinha vontade de quebrar alguma coisa, de preferência a cara dele. De mamãe eu não sentia nada,era estranho isso ver a pessoa que você adimirava se tornar uma estranha, eu não conhecia mais minha própria mãe, e sinceramente também não tinha a mínima vontade de conhecer. Eu deveria sentir raiva dela por ter se tornado tão indiferente e ficar do lado de papai, mas a única coisa que sentia era um vazio, era como se eu houvesse perdido a capacidade de sentir qualquer coisa por ela, aquilo era assustador e muito pior que o ódio que tinha pelo papai.

- Eu acabei de trocar o curativo e aplicar as ervas, já pode entrar. - disse a governanta abrindo uma fresta na porta, antes de fechar novamente.
Eu ficava a todo momento com Olívia, exceto quando íam trocar os curativos. Da última vez que eu permaneci no quarto, acabei jogando para fora o pouco que eu havia conseguido comer no almoço, ainda irei demorar muito para conseguir fechar os olhos sem ver de novo a lateral da barriga de Olívia, a forma como a pele rasgara era terrível,o odor do líquido amarelado que saia fazia o estômago revirar, aquela parte dilacerada contrastava com a pele de um tom fantasmagórico. Eu já vira alguns homens morrer,e já matará alguns para conseguir sobreviver,mas havia uma grande diferença entre ver um soldado de reino inimigo morrer tentando invadir Sarabely, do que ver sua própria irmã perder a vida. Sim , é isso que penso, a cada dia é como se Olívia morresse mais um pouco, como se a cada segundo ela perdesse mais a batalha contra a morte, era errado pensar dessa forma,mas chega um momento em que não a mais como se enganar, e temos que encarar a realidade.
Me levantei do chão,onde estava sentada de frente para a porta, esperando a governanta Genevre terminar seus cuidados com Olívia. Assim que entrei no quarto me direcionei a cadeira do lado da cama de Olívia. Sentei-me ao seu lado e peguei as mãos dela que estavam assustadoramente frias. Aquilo havia se tornado minha nova rotina, ao invés de treinar com o capitão Zion de manhã, todo meu tempo era dedicado a Olívia, eu gostava mais da parte da noite,no quarto iluminado apenas por velas, era só nós duas novamente, como quando éramos crianças. Eu me deitava ao seu lado eu falava por horas, mesmo que ela jamais acordasse e continuasse imóvel, eu gostava daquilo, as vezes parecia que ela realmente escutava.
Olhei para Olívia deitada na cama com o vestido branco de um tecido fino grudado em seu corpo suado.
Olhei para a mesa do outro lado da cama, onde Genevre guardava as ervas, fui invadida por uma profunda tristeza ao ver duas cordas em cima da mesa.
Era o que usávamos para conter Olívia.
Não se passava um dia que Olívia não delirasse, ela se debatia falando coisas que eu nunca entendia, mas o maior problema é que quando isso acontecia ela esfregava a própria pele, não podiam correr o risco dela fazer isso na barriga, então cortamos um tecido para amarra-lá a cama, o que não deu muito certo,ela acabou rasgando o tecido. A única coisa que nos restou foi a corda, mesmo que essa opção não seja a mais confortável.
Olhando agora para nossas mãos entrelaçadas, vejo seus pulsos avermelhados e sinto uma enorme culpa por ela estar naquela situação. A governanta se aproximou de da cama e como sempre antes de me deixar sozinha com Olívia prendeu as mãos e os pés dela.

- Já vou indo - disse a governanta Genevre andando em direção a porta levando a tigela com a água usada para limpar Olívia - se precisar de mais alguma coisa é só me chamar.

Lívia (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora