CAPÍTULO 42

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Encaro as folhas das árvores que balançam com o vento, através da janela. Mas uma pontada de dor me faz desviar o olhar para a senhora de idade já avançada em minha frente.

Me encolho quando a curandeira arranca mais um estilhaço da minha mão, e recebo um olhar repreensivo da mulher. Ela enrola minhas duas mãos em um tecido e o prende com pequenos alfinetes.

- Obrigada - digo, ela resmunga alguma coisa e começa a guardar suas coisas. A pequena senhora está na porta, quando para e olha para mim.

- Dá próxima vez que tentar se ferir, é melhor se lembrar que está em meio a uma competição, e terá que usar essas mãozinhas ai.

Encaro a curandeira com desinteresse.

- Obrigada por seu conselho, mas já pode se retirar.

Ela balança a cabeça como se estivesse decepcionada.

- Acha que já suportou muito ?

- Acho que isso não lhe diz respeito.

- Ficaria surpresa com o quanto mais poderia aguentar, coisas piores do que perder um amigo acontecem princesa, e as vezes somos nós mesmos que o fazemos.

A porta bate antes que eu tenha tempo de responder, na verdade, não sei bem se teria palavras para respondê-la.

Olho para minhas mãos cobertas, a curandeira realmente tem razão, em um combate corpo a corpo elas seriam um problema, principalmente para segurar a espada. Mas não me importa, a coroa não é meu sonho, um dia ela foi, mas Olivia é a verdadeira líder entre nós duas, ela é forte e corajosa, o povo gosta dela, os nobres nem tanto, mas ainda assim sabem que Olivia merece mais.

Uma verdadeira rainha, é do que todos eles precisam, não alguém como eu. Sem esperança, sem força, fraca.

Ouço batidas fortes na porta.

- Entre.

Um guarda abre a porta.

- Alteza - ela faz uma reverência profunda - Está na hora, todos já estão presentes.

- Obrigada por avisar.

Acompanho o guarda pelos corredores, a cada passo que dou, mais me sinto desconfortável dentro da armadura.

Meu coração pesa quando percebo para onde estamos indo. A arena. Da última vez que estive nela foi assistindo os jogos com Dylan, mas antes disso, Olivia quase morreu ali uma vez, eu quase enfiei uma espada nela, um urso quase fez dela seu almoço. Pensei que demoraria para que tivéssemos que nos encontrar naquele lugar novamente, mas me enganei como sempre. A vida gostava de pregar peças, mas pelos deuses, nesses tempos ela estava se superando, e pior, havia deixado de lado piadas sem graça para começar a jogar lanças afiadas, que sempre me acertavam com precisão.

Vejo Olivia parada na entrada da arena, encarando a porta que nos separa de uma multidão que nos aguarda, ávidos por sangue. Caminho até ela e paro ao seu lado, o guarda vai embora rapidamente.

- O que aconteceu com sua mão ? - Ela não olha para mim quando pergunta, e faço o mesmo enquanto minto.

- Cortei sem querer.

- As duas mãos ?

Dou de ombros e não respondo, já não tenho mais palavras a dizer.

- Ouvi seu grito ontem a noite - olho para ela surpresa - Estava indo falar com você.

Sinto meu rosto esquentar de vergonha.

- Olívia..

- Não precisa me dizer nada se não quiser - Ela se vira para mim - Mas se quer um conselho, quando a dor for insuportável, é melhor descontar em alguma coisa, pessoas erradas podem ouvir você, e lamentações não são vistas com bons olhos na corte.

Lívia (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora