--Sim.—confirmei. Ele ponderou por um tempo.—Não vai dizer nada?
--Você mordeu ele e só sonhou três dias depois?—quis saber, assenti.—Estranho esse intervalo.
--Olha, eu sei que deve ser um alívio pra você encontrar alguém como você, mas... acho que esse alguém não sou eu. Não posso ser, só foi uma coincidência.
--Tessy... vampiros não sonham.—Tate disse—Vampiros podem passar dias, semanas... sem dormir... tudo que nos resta é nossa memória. Podemos revivê-las ... mas sonhar, não. Sonhar nunca é um retrato do que vivemos. Sonhar é algo abstrato, uma utopia. O que eu e você temos é algo diferente, por que conseguimos reviver as memórias dos outros, mesmo não tendo participado do mesmo.
--Mas pelo que li no seu diário... por que comigo só começou agora? Por que eu?
--Por que você ainda não sei.—disse—E por que agora... bom, tenho uma teoria para isso. Como humana, como era seus sonhos? Sua percepção do mundo ao redor quando acordada?
--Eu...—me calei, relembrando partes da minha vida como humana. Engoli em seco, ao perceber que quando era humana, eu tinha problemas pra dormir normalmente por causa dos meus olhos. E quando dormia quase sempre eu sonhava com algo que já tinha acontecido, mesmo que de forma incoerente e confusa. Eu sempre acordava cansada, e com sensação de déjà vu.—OK... vamos dizer que quando virei vampira, isso se revelou...
--Vampiros tem tudo aumentado.
--Pode ser apenas uma coincidência, Tate.
--Que tal uma pequena experiência?—sugeriu, levantando da cama e sentando no sofá ao meu lado. Seu rosto apesar de lindo, estava claramente abatido. Linhas cada vez mais escuras marcavam seu rosto. Seu cabelo despenteado.
--Como assim?—perguntei, desconfiada. Ele deu um meio sorriso.
--Não vai soar de maneira atraente o que vou lhe propor.—me avisou—Mas acho que é a única maneira de provar que temos algo em comum. Que temos o mesmo em comum, ou pelo menos parecido.—sua mão lentamente afastou meu cabelo revelando meu pescoço. Sua outra mão pegou a minha, mostrando seu pulso.—Quero que me morda, Tessy.
Enrijeci, fitando-o de maneira chocada.
--Você ta falando sério?!—engasguei, olhando pros lados, pensando em correr ou fugir dali.
--Tudo bem se não quiser.—ele me garantiu—Mas você já veio até aqui, e acho que se fizermos isso podemos descobrir a verdade.
--Por que tenho que mordê-lo?
--Por que foi assim que você sonhou com Demetrios. Eu só preciso de algo seu, um fio de cabelo... algo de sua essência. É mais difícil pra mim chegar la com esse método, claro.—explicou—E quero facilitar as coisas pra você.
Dessa vez ri.
--Facilitar pra mim?! Continue tentando.—falei. Ele riu também.
--Caso tenha passado despercebido pra você, eu não estou pedindo só pra te morder... estou pedindo pra você me morder também.
--Como se isso soasse menos sórdido.
--Chamo isso de "experiência compartilhada".—contrapôs.
Mordisquei o lábio, indecisa. Olhando ao redor, pensando em tudo que eu sabia até ali que se resumia a muito pouco. Parte de mim estava assustada com tudo que Tate havia me dito. Outra parte sabia que ele não pedira por aquilo, que ele sofria em silêncio todo esse tempo. E que ter a mínima possibilidade de eu ter algo parecido com o que ele tinha. Pensei em tudo que ele vivera até ali. Sentindo-se sozinho e diferente de todos. Sem ninguém. Respirei fundo.

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RENASCER
VampirosTessalia Dragon, ou Tessy como gosta de ser chamada, levava uma vida normal aos 16 anos e sua maior preocupação era sobreviver ao ensino médio. Mal sabia ela que carregava uma herança milenar que mudaria sua vida para sempre. Agora longe de todos q...