O primeiro passo

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      Deste que o colégio Avenues abriu, o sonho de praticamente todos os estudantes, era ingressar nesse mundo maravilhoso do conhecimento. Em pouco tempo, a escola se tornou conhecida mundialmente e sairia dela, jovens de caráter, prontos para  comandar o mundo.

     Comigo não foi diferente. À cada anuncio na internet, e comercial na televisão fazia meu coração apertar, quantas oportunidades eu teria após me formar em uma escola dessas? E quantas chances teria se me formasse na Murilo Braga, onde o ensino é péssimo e as condições são precárias?

     Eis que na quarta-feira de manhã, estava eu ligando o computador para finalizar um trabalho em grupo - onde apenas eu o tinha feito, organizado e estudado - quando um anúncio apareceu no rodapé do site : "www.avenues.com.br" Tem o prazer de anunciar que dez vagas serão abertas para todos os estudantes do ensino médio, clique aqui para mais informações. "

     Eu estava tremendo, era uma puta oportunidade! Minha mão involuntariamente clicou no link, que me direcionou à uma página de cadastro. Olhei a hora apressado, eram sete e seis havia tempo até sete e vinte. No cadastro pediam minhas informações pessoais e mais algumas coisas, como por exemplo a renda da família. Que, eu não sabia ao certo, o dinheiro do meu trabalho como faxineiro no Habbons, era apenas gasto comigo mesmo, dentre materiais de desenhos, livros e algumas roupas simples. Meu pai Hélio, é um machista ao cubo, e não gosta de explanar o quanto ganha, talvez por ser tão pouco, não assume que está individado, ou que precisa de ajuda, então chutei o valor da renda de acordo com as opções que havia no site, e fiquei boquiaberto quando li a opção sete mil e quinhentos, porra se uma pessoa ganha tudo isso, por que não pagar a escola e deixar a bolsa  para quem precisa?

     Entre informações e outras, procurei documentos, os perdi e achei de novo em meio a bagunça do meu quarto, finalizei o cadastro às sete e quarenta e cinco, e então relaxei na cadeira e soltei a bolsa.

- Que se foda aquele grupo. - Resmunguei sozinho pensando em quantas pessoas estariam sem nota, pelo simples fato da minha ausência. E me perguntei se no Avenues as coisas também eram assim..

     A verdade é que eu sempre fui bastante aplicado. Anotações e participações minhas, não faltavam. Entendia que a educação era o único meio de me tirar dessa vida, de me tirar das humilhações, de ajudar meus pais, eu sempre soube, e por nunca ter o que eu quero, hoje sei o que quero. 

(...)

- Você foi muito filho da puta em ter faltado ontem!!! - Ana estava muito irritada, ela era minha amiga, linda e com a boca sempre cheias de palavrões para soltar à qualquer momento. - Mas, por que não veio? - Amenizou o tom de voz e esperou minha resposta atenta.

- Tive uma oportunidade, e não podia perder. - Disse sem mais enquanto fechava o caderno, ela deu de ombros, nem ao menos tirou o caderno da bolsa esta manhã.

- Você tinha que ver a cara dos outros.. - Ela sussurrou e depois caiu na gargalhadas. - Estão todos fodidos em história. Você deveria fazer isso mais vezes...

- Você é má Ana. - Eu ri.

- Eu sou uma garota passada de ano. - Ela jogou os cabelos se gabando.

(...)

     Eram cinco e meia quando cheguei no Habbons, estava com pouco movimento mas sentia o cheiro de fritura de longe. No banheiro dos funcionários, vesti meu uniforme e comecei com a limpeza. Banheiros, e salões que não estavam em uso. Às sete, Luly parava a cozinha e eu limpava, para de oito horas o movimento voltar. Entre esfregões e outros, a cozinha estava um brilho.

- Bom trabalho Blake. - Ela sorriu estendendo um hambúrguer em minha direção.

- Ah, obrigada! - Eu o peguei feliz da vida, sempre era assim, deste o primeiro dia. - Estou morto de fome!!!

- Como sempre... - Ela cruzou os braços e balançou a cabeça.

- Oque foi? - Ela estava me encarando.

- Vai ter uma festa, às nove.. Queria que fosse comigo. - Ela sorriu.

(...)
    
       A lanchonete foi fechada e todos foram embora, ou quase todos. Eu entrei no banheiro e liguei o chuveiro, a água estava gelada e percorrendo pelo meu corpo parecia estar refrescando minha alma.

     Senti uma mão, tocar meu ombro e então me virei rápido, Luly estava lá, nua e linda. Dei um sorriso a encarando, enquanto a morena envolvia seus braços ao redor do meu pescoço. À essas horas, meu amiguinho lá de baixo já havia me traído, e estava pronto para o que viesse. Ela riu sapeca, e então me beijou. Seu beijo era lento e com vontade,  ela realmente se entregava a mim. Segurei firme suas mãos e a encostei na parede, seus gemidos fracos e agudos me atiçavam a continuar naquilo. Minha boca já conhecia cada parte daquele corpo bem feito, as mordidas no pescoço a arrepiavam, entre beijos e outras coisas ela me olhou.

- Então essa era a festa?

- Espero que tenha gostado. - Ela respondeu sedutora e voltou a me beijar. Mas agora, suas mãos brincavam comigo. E Puta que pariu, ela sabe brincar.

(...)

     A festa acabou às onze da noite. Ela saiu pelos fundos, e eu pela frente da lanchonete. As câmeras poderiam nos trair, como quando aconteceu a primeira vez. Perguntas foram feitas em relação as horas que passamos mas... Conseguimos nos sair.

Montei na minha motinha, e vi seu carro cantar pneu no outro lado. Eu gostava de estar com ela, não éramos namorados, mas vez ou outra estávamos na casa  dela, ou no carro ou no banheiro da lanchonete. Eu ri. Isso é loucura, poderíamos perder nosso emprego, mas eu não consigo dizer não à Luly, que é  seis anos mais velha do que eu, e talvez por isso nunca se torne realmente minha namorada.

(...)

      Após cinco dias que fora feito o cadastro..  Meu celular vibrou com uma mensagem, não me importei muito com o conteúdo. Na verdade, fiz descaso. Havia esquecido da Avenues, Luly e eu estávamos brigados. Na noite anterior cogitei a ideia de ir embora da cidade, sem ela. Sabia que no fim, nunca assumiriamos nada. Então por que incluir ela, no meus planos para o futuro?

     Outra mensagem chegou e finalmente o peguei, e após deslizar o dedo na tela meu coração se agitou. Havia algo da High Avenues!!!?????  Passei a mão nos cabelos e arregalei os olhos, será que.. Que eu realmente tinha chances de entrar nessa escola??  Prendi o ar e fechei os olhos com força, enquanto clicava sem ver na mensagem. Quando abri os olhos havia um pedido de desculpas, da Luly. Sorri, mas revirei os olhos, não era isso que eu estava esperando. Cliquei rápido na outra mensagem.

" Saudações estudantes de todas as partes do Mundo!! As dez vagas estão prontas para receberem seus respectivos donos e é com imenso prazer que informamos que você foi um dos trinta selecionados para fazer a prova de admissão no High Avenues, na sexta feira às oito e quarenta da manhã. "

PUTA QUE PARIU.

    (...)

A Face do Disfarce Onde histórias criam vida. Descubra agora