Segundo Passo

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      Eu estava em choque! Na verdade não sabia como reagir, eu tinha uma chance e já havia dado o primeiro passo. Anotei a hora, o endereço e saí do quarto entusiasmado para contar a novidade, mas isso passou logo em seguida, preferi não explanar até que eu esteja dentro da Avenues.

      Era hora do almoço, meu pai estava sentando à mesa, no lugar de sempre, na cadeira da ponta. Minha mãe estava o servindo, enquanto ele brincava com a colher. Me sentei na outra ponta e os observei um pouco. Não é como se fossem o casal mais infeliz do mundo, haviam dias que estavam felizes, poucos dias, mas ainda eram dias felizes.

       Enquanto comia, meu celular não parava de vibrar no meu bolso. Pela quantidade de mensagens, era a Luly.. Que mulher! Lembrei de todas as vezes que estivermos juntos, e da primeira vez que falei com ela...

       Era meu primeiro dia no Habbons, minha mãe havia conseguido essa vaga para mim. Desajeitado, alto e com os cabelos cortados baixo, entrei naquela lanchonete com toda determinação do mundo. O lugar era bem bonito, pintado de vermelho e com mesas coloridas. E havia uma morena, no balcão... Ela tinha os cabelos lisos e longos, um piercing no septo e um  sorriso maravilhoso, era a Luly, mas naquele primeiro momento fez pouco caso ao me ver.

      Ana me ligou interrompendo meus pensamentos enquanto meus pais me olhavam.

- Desculpa. - Disse me levantando da mesa, atendendo o celular. - Ana, você sabia que as pessoas almoçam à essas horas?

- Ela gargalhou do outro lado da linha. - Desculpa, mas eu tinha algo pra te contar. E não podia passar de hoje, agora!!! - Notei o entusiasmo na sua voz, ela estava realmente feliz. 

- O.K Ana, de todo modo eu já terminei meu almoço. - Falei entrando no quarto e fechando a porta. - Soltando os ouvidos..

- EU - Ela gritou e eu afastei o celular. - Vou fazer uma prova para estudar na Avenues!!! - Ela terminou a frase quase sem respirar, e eu sorri.

- Nossa Ana, que ótimo! É... - Algo no meu cérebro, se negava em dizer em voz alta que eu também faria essa prova, mas ignorei isto e falei de uma vez por todas. - Eu também farei essa prova. - Houve um silêncio no outro lado da linha...

(...)

       Estava no Habbons, trabalhando.. Quando Ana atravessou a porta, com seus cabelos curtos e ruivos chamando a atenção. Ela sentou no balcão, encarou Luly e sorriu pra mim. Eu retribui, mas não fui até ela, não até terminar meu trabalho.

- Poxa, quase não termina de esfregar ali. - Ela apontou, e relaxou a postura.

- Cala boca! - Eu joguei meu pano nela, e ela se esquivou.

- Por que não me falou da Avenues? - Ela me encarou. - Aposto que o Hugo sabe, ou aquela ali. - Ela olhou para Luly.

- Não An, ninguém sabe.. - Eu disse pegando seu Milk Shake. - Ou melhor, ninguém sabia. Preferi não explanar até o dia da prova.

- Se você diz, eu acredito.. - Ela deu um sorrisinho. - Já está estudando?

- Não.. - Eu ouvi alguém me chamar. - Podemos estudar juntos se você quiser.. - Eu falei me levantando. - Até depois. - Beijei sua testa e fui de encontro a dona da voz que me chamava. - Luly?

- Derrubei óleo ali, pode limpar por favor? - Ela me olhou e voltou para seu trabalho. Eu ri.  - O que?

- Nada.. - Aposto que ela derrubou isso, só para eu deixar a Ana sozinha.

(...)
        
         Todos os dias da semana, foram dedicadas à estudos. Eu e Ana nos encontrávamos de tarde, muitas das vezes Luly estava me tirando a concentração, fazendo drama e um bico que me deixava com vontade de beijá-la, mas mesmo assim, me concentrei nos estudos.

     Eram quatro da manhã, quando acordei. A ansiedade estava a mil, nem podia imaginar que essa prova poderia definir todo meu futuro. Às cinco e quarenta, Luly me mandou mensagem, desejando boa sorte. Hugo enviou algo com: Vai à merda, literalmente. Eu ri.  Eu, Hugo e Ana éramos inseparáveis, ele se magoou pelo fato de não contarmos nada à ele, mas era meio óbvio que ele estava muito bem no Murilo Braga, zoando todos e fazendo absolutamente nada de relevante.

       Encontrei Ana em frente a sua casa, que não era tão longe da minha. Pegamos o ônibus e eu estava tentando respirar, na verdade não consiga pensar em mais nada.

- Ei, relaxa.. - Ana sorriu. - Nós estudamos pra porra, vamos passar nisso e seremos ricos pra caralho.

    Eu ri. Ela tinha esse efeito sobre mim, me deixava animado para tudo e qualquer coisa. E, que bom que ela estava nessa comigo mesmo não sendo algo planejado.
       

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