O inferno começou

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Me deitei na cama as três da manhã. A Izzy já havia ido embora faziam umas cinco horas. Não entendo nada dessa garota. Eu tenho tantas perguntas, por que ela se envolve com drogas e finge ser outra pessoa? Por que ela transa com o Jonny se não sente nada por ele? E por que além de tudo, ela quis me conhecer.. Mesmo já sabendo quem eu era?

Suspirei encarando o teto. Agora estou sendo rastreado com o meu consentimento, vou viver três dias em puro terror, além de minha vida estar dependendo de uma sociopatazinha de dupla personalidade linda e gostosa pra caralho. Três da manhã.. Amanhã é o jogo de futebol dos Fires, e eu deveria estar descansando mas ao invés disso, minha mente faz o favor de me lembrar o quanto estou fodido, além de ter tirado sete no teste, o que é muito ruim já que minhas notas devem ser sempre as melhores.. Passei a mão nos cabelos, além de tudo tem a escola. Que inferno de vida! Recapitulando tudo, eu não sei quando tudo começou a ficar tão louco. Depois que entrei na Avenues? Conheci a Izzy? E "defendi" o Hugo de uma briga onde ele mesmo planejou apanhar, vai se foder quando o Hugo melhorar eu mesmo vou matar ele.

(...)

-Você está horrível.. - A Ana me olhou e quando eu a encarei com cara de tédio ela sorriu. - O ta acontecendo?

- Nada.. - Dei de ombros. - O Hugo ta melhor? Ele não quer falar comigo, não responde minhas mensagens.

- Depois nos resolvemos, tá? - Ela pegou na minha mão. - Não muda de assunto, o que foi?

- Tentaram me atropelar ontem.. - Ela se espantou. - Eu estou bem.. Fisicamente.

- Puta que pariu.. Foi Ele? Não foi?

- Sim.. - Ela levantou da cama.

- Mas que porra, tudo culpa do Hugo.. Se ele tivesse nos avisado desse plano estúpido de merda! - Ela apertou as mãos.

- Ana, vamos resolver ta?.. - Eu sorri fraco. - Eu sei que vamos..

- Fodeu..- Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. - Não vou perdoar o Hugo se algo acontecer com você.

- Shi.. - Eu me levantei. - Não vai.. - Eu a abracei. - Confie em mim, eu vou dar um jeito.

(...)

Ana Narrando

    Saí da casa do Richard mais tarde do que tinha planejado. Está tudo fodido, e isso é um caralho! Eu não consigo pensar em como amenizar essa situação, se é que eu uma pequena aviãozinho tenho poder para fazer isso. Chorei tanto nos braços do meu amigo, que minha cabeça chega a explodir.. E apesar de querer ficar mais tempo com ele, o Hugo, aquele filho da puta, ainda precisava de mim.

   Chegando em casa, joguei as chaves na mesa e analisei o lugar, estava quieto.. Um silêncio compreensível já que são quase duas horas da manhã. Me joguei no sofá em um suspiro, eu estava acabada. Só queria voltar no tempo e deixar o Will quieto onde ele estava, se escondendo com medo, medo de que o nosso chefe o matasse. Medo que o Jonny o matasse. Esse plano de tomar o lugar do Hugo e ter acabado colocando o Richard - o único de nós que não tinha se envolvido nisso - pra mim é demais, egoístas do caralho. Até onde o Will vai por vingança?E por que?

   Minha mente é traiçoeira e em segundos estava revendo tudo o que aconteceu naquela noite; Dois anos atrás, estávamos juntos. Eu cuidava de uma senhora chamada Zilda, não queria ser prostituta como a Amelia - conhecida como minha mãe nas horas vagas - e estava feliz demais com isso. Richard entrava no Habbon's e o Will queria pedir a Morgana em casamento. Era perfeito, um cenário onde pobres garotos sonhadores, se reuniam para comemorar suas conquistas medíocres.  Fomos para o bar, nos sentamos e bebemos algumas coisas, foi a primeira vez que eu experimentei vodca e sinceramente o gosto a princípio era horrível. Foram quarenta minutos até as coisas complicarem. Eu, Hugo e Richard estávamos no bar, quando o Will chegou assustado, nos mostrando uma mensagem da Morgana, pedindo por socorro. Foi agoniante, ela era minha amiga. Desesperador também, corremos feito loucos, Richard sendo o mais rápido chegou primeiro até o local, onde sua última mensagem dizia estar. Eu não estava entendendo nada, até então não sabia que Will traficava drogas, e que o Hugo já estava nessa também.. O lugar estava vazio, era um depósito abandonado e imenso, não íamos encontrá-la... E não encontramos, invés disso, fomos expulsos a empurrões pelo segurança.

     Três dias... E nada da Morgana, me lembro como se tivesse acontecido hoje. Meu coração estava sofrendo, não saber de alguém importante é uma tortura. Até policiais baterem na minha porta, revirarem tudo dentro da minha casa, e me arrastarem pelas ruas como uma criminosa. De algemas e humilhada, eu era suspeita de ter praticado um homicídio.
    Em uma sala vazia fiquei por um tempo que não consegui cronometrar, estava em uma confusão mental, só queria ir embora. E fui, depois de passar o dia todo, repetindo tudo que tinha acontecido.. Encontrei  o Hugo e o Richard que tinha ganhado uma marca roxa no olho, por provavelmente ter perdido a paciência com algum dos policiais. Foi um alívio vê-los.
  
   Depois do nosso encontro, foi determinado ficarmos afastados por quinze dias até tudo ser definido .. Ao final, tínhamos sido cúmplice de um assassinato, até então não sabíamos como aquilo tinha acontecido, mas Will havia matado Morgana e nós tínhamos ajudado.
Era loucura demais, ele a amava. Os olhares sobre nós pesava, as pessoas tinham medo de mim, e minha mãe me olhava com desprezo, ela me olhava com desprezo, uma puta barata me olhava com desprezo.
   As mensagens da  Morgana no celular do Will tinham sumido. O Segurança tinha nos tirado do local onde o corpo foi encontrado dentro de uma lata de óleo. Pessoas próximas nos viram correndo saindo do depósito. Ninguém conhecido estava no bar para ser nosso álibi. As digitais do Will estavam na Morgana. E éramos todos mentirosos demais para que acreditassem que não a matamos. Nossa pena, foram alguns trabalhos comunitários e medidas socioeducativas. Para o Will, prisão. Para todos nós, olhares de nojo e medo, julgamento de todos os lados.

  E agora.. Sei que o Will quer se vingar do Jonny por achar que foi ele quem a matou. O por que? Eu vou descobrir, há mais nisso tudo, ninguém mata ninguém sem motivos.. Mas foi naquele ponto da história, naquele tempo, há dois anos atrás, que o inferno começou.

  

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