20- Casa.

4.7K 609 286
                                    

   Héstia empalideceu. Ela havia sentido a cor sair do seu rosto.

   — C-como...?

   Rita tirava sujeira debaixo de suas unhas.

   — Isso você já sabe.

   Héstia queria chorar. Não, não, não, isso não podia estar acontecendo.

   Ah, que se dane!

   A impulsividade de Héstia foi maior que ela.

   — Fechado. — ela quase gritou.

   Rita a encarou. Sorriu novamente.

— Fechado. — disse a loira com uma voz um tanto empolgada. Talvez estivesse realmente se sentindo entusiasmada por estar causando algum dano à Héstia.

   Rita se levantou, abriu as portas da cabine e, antes de sair, deu uma piscadela para Héstia e em seguida saiu cantarolando pelo Expresso de Hogwarts.

                                     -•-•-•-

   Héstia se revirava na cama. Não conseguia dormir.

   Uma brisa fria entrava pela janela, mas Héstia não se preocupava em fechá-la. O papel de parede do seu quarto, encantado por um feitiço feito pela sua mãe, brilhava no escuro. Era composto por inúmeras flores, o que fazia Héstia se sentir em algum jardim encantado.

   Ela olhou para o lado, para o relógio em cima de sua mesa de cabeceira. Marcava 23:45.

   Héstia desistiu de tentar dormir. Não iria conseguir, não com tantos pensamentos e preocupações na cabeça.

   Onde estava Dédalus? Por que não havia respondido às inúmeras cartas as quais ela havia enviado? Onde estava o resto da Ordem da Fênix? Por que Dumbledore não a havia contactado ainda? Será que algo grave havia acontecido?

   "Lumos" Héstia sussurrou, iluminando seu quarto.

   Haviam livros jogados pelo chão, um amontoado de roupas em cima de sua escrivaninha, tinta para a pena manchava o tapete de seu quarto. Héstia bufou. Nunca havia tido sucesso em ser organizada.

   Ela começou a recolher os livros jogados pelo quarto e amontoa-los em um canto. Os livros estavam no chão pelo fato de que Héstia estava estudando. Sim, nas férias de verão.

   Desde que havia retornado à sua casa (cerca de um mês e algumas semanas atrás) Héstia não havia parado de ler um livro sobre magia negra, feitiços ou poções. Seus pais também estavam bem empenhados em se defender e proteger a família. Héstia sentia um pesar no coração toda vez que seus pais, pela noite, realizavam um feitiço de proteção para a casa. Não era pra essa guerra estar acontecendo. Não era.

   Um barulho vindo da janela assustou-a. Ela deu um pulo e deixou cair todos os livros que estavam na mão e meteu o pé em mais um recipiente com tinta para pena, causando uma nova mancha no tapete. "Ah, droga!" resmungou.

Ela olhou para a janela. Grandes olhos amarelos arregalados a encaravam. Na pata do animal, havia uma carta amarrada com uma pequena fita. Héstia se pegou sorrindo, mais largamente do que queria... seu coração bateu mais forte, e então ela pegou a carta. Olhou desapontada para a coruja.

— Desculpa aí, amiga — Héstia disse, fazendo biquinho — não tenho nenhuma comida pra você.

   Héstia jurava que havia visto um olhar assassino vindo da coruja.

O animal bateu voo e Héstia fechou a janela com força. Não era bom deixar a janela aberta em nenhuma hora do dia; ela apenas a tinha aberto porque sabia que ele a iria mandar alguma carta.

Regulus.

Durante as férias de verão, Regulus e Héstia constantemente trocaram cartas. Era algo perigoso? Era. Perigoso demais. Após a primeira carta que Regulus havia mandado, Héstia o enviou uma resposta xingando-o tanto que acabou ficando com dó do garoto. Porém Regulus era estratégico e esperto, e sabia bem o que fazer e quando fazer.

Héstia segurou a carta em suas mãos por alguns segundos. Virou-a e viu o que ele havia escrito no verso do envelope.

Para H.
De R.

Héstia e Regulus tinham que utilizar nomes falsos para não serem descobertos. As corujas não podiam ser corujas de suas respectivas famílias... Era algo trabalhoso, mas valia a pena. Por Regulus... valia a pena.

Héstia abriu o envelope e começou a passar os olhos pelas letras bem definidas de Reg:

H,
Há alguns dias atrás me peguei pensado como que as sereias fazem xixi. Você têm alguma ideia? Pois eu não.

Héstia pausou sua leitura, colocou o dedo entre os lábios e sorriu. Sorriu de verdade. Héstia sentia a sua alma toda preenchida com um triunfo não exatamente conquistado. Um orgulho. De si mesma, por ter Regulus consigo.

Semana que vem às aulas em Hoghwarts retornam. Não comparecerei esse ano... você bem sabe o por quê. É até meio óbvio. Meu irmão, Sirius, se formou. Meus pais não o enviaram um presente sequer. Fico imaginando quantos presentes me darão se descobrirem que não estou totalmente ao lado deles. O presente, provavelmente, será uma dolorosa e incrível MORTE.
Enfim, enfim, não quero falar de coisas negativas... embora seja impossível não comentar sobre. E, não, Héstia, não a deixarei a par de qualquer coisa que os seguidores de você-sabe-quem irão fazer. Porque eu te conheço, e sei que você iria atrás deles. Ou avisar a ordem, que está em desvantagem numérica. E eu simplesmente não posso fazer isso. Eu sinto muito.
Amanhã receberei a marca negra. Isso me deixa aflito; não quero algo marcado em meu corpo para sempre... não quero. Mas sei que para conquista a sua confiança, a confiança dele, precisarei fazê-la. Sei que me essa marca me atormentará por dias, meses, anos. Mas que escolha eu tenho?
Espero que você esteja bem. Me preocupo com você. Tem se alimentado direito? Passado tempo com sua família? São coisas tão importantes...
Vai ficar tudo bem. Eu espero.
Com amor,
R.

Após ler a carta de Regulus, Héstia se sentou na cadeira e começou a escrever uma carta para ele. Contou sobre como haviam sido seus dias, sobre a guerra e sobre como as sereias faziam xixi. Héstia havia escrito duas páginas de texto, bem quando ouviu sua mãe andando pela casa, provavelmente reforçando feitiços de proteção. Héstia descansou a pena, e olhou para a janela.

Sangue começou a escorrer do nariz de Héstia. Ela limpou, com um pano que desde então sempre carregava no bolso, já que os sangramentos se tornaram mais constantes. Ela sabia que iria morrer, de uma forma ou de outra. E ela sabia que ela mesma a estava matando.

As nuvens estavam cinzas, embora fosse verão e as nuvens pela noite costumavam ser mais azuladas. Nada mais parecia vivo. Héstia não se sentia mais viva. A única coisa viva era os olhos cinzas de Regulus em sua memória, que podiam muito bem ser camuflados naquelas nuvens.

Fotografias - Regulus Black + Héstia Jones.Onde histórias criam vida. Descubra agora