1 - Jones.

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   — Que diabos! — exclamou Héstia, em um tom frustrado. Seus gritos soaram pelo dormitório feminino da Lufa-lufa.

   — Jones, quer calar a boca? — exclamou sua colega de quarto, Amelia Bones, com a voz abafada por conta do sono.

   Héstia, por mais estressada que estivesse, não pode evitar sorrir. De todas as pessoas que deveriam calar a boca no mundo, Amelia com certeza era uma delas.

   — Tudo bem. — disse Héstia, ainda sorrindo, mas agora em um tom mais baixo.

   Ela continuou remexendo as suas coisas, à procura de algo. Remexeu suas gavetas, embaixo da cama, dentro do guarda-roupa, mas não encontrou o que precisava.

   — O que você está procurando, afinal? — perguntou-a Amelia, que era curiosa como não deveria ser.

   Héstia olhou emburrada para a colega de quarto, que agora estava sentada na cama, com a pequena luz do abajur acesa, olhando para ela com olhos curiosos e petrificados. Amelia era louca por uma fofoca. Héstia às vezes gostava de comparar ela com Rita Skeeter, sua outra colega, porém da Sonserina.

   — Estou procurando os filmes da minha câmera. — disse, em um tom cansado — Não posso sumir eles... custam uma fortuna!

   Amelia revirou os olhos e deitou-se novamente na cama. Provavelmente esperava algo mais interessante, pensou Héstia com amargura.

   Héstia finalmente achou, depois de algum tempo, dentro do seu malão. Como poderia ser tão lerda? Pensou consigo mesma.

   Já que estava acordada, resolveu colocar o seu uniforme e sair do dormitório de uma vez por todas. Vestiu-se, pegou sua mochila, pendurou a sua câmera no pescoço (como de costume) e rumou para os corredores gelados de Hogwarts.

   Héstia adorava aquele lugar. Embora gostasse da sua casa, com seus pais e seus irmãos, em Hogwarts Héstia se sentia em casa e se sentia bem. Ela respirou fundo, observando as molduras nas paredes. Passou por algumas, que desejavam bom dia para ela. Héstia às vezes retribuía.

   Ela ficou zanzando pelos corredores, observando e absorvendo cada detalhe do castelo. Héstia gostava de andar: achava que aquilo a livrava de maus pensamentos. Consultou o seu relógio de pulso e se assustou com o horário: sete e meia.

   Isso acontecia com frequência, e Héstia não entendia o porquê. Ela às vezes se desligava do mundo, de tudo e de todos à sua volta. Era como se seu cérebro de repente parasse e se rebelasse e se recusasse a ficar focado. O seu pai, que era nascido trouxa, dizia que eles chamavam aquilo de Déficit de Atenção. Héstia não entendia muito bem o que era aquilo.

   Ela rumou para o Salão Principal, onde pode escutar alguns tintinares de talheres e xícaras de chá. Ela rumou para a mesa da Lufa-lufa, os seus cabelos castanhos se movendo de acordo com seus movimentos.

   — Bom dia, Freckles — cantarolou seu melhor amigo, Dédalus Diggle. A mania de chamá-la de Freckles começou logo no primeiro ano, quando as sardas de Héstia aumentaram em um tamanho significativo, porém ela só tinha sardas nas bochechas.

   Héstia sorriu.

   — Bom dia, Ded. — disse ela, sentando-se ao lado dele.

   Ele tomou um grande gole de chá.

   — Fez o dever de Transfiguração? — perguntou à ela.

   Héstia arregalou os olhos.

   — Tinha dever de Transfiguração? — perguntou.

   Diggle concordou com a cabeça.

   Héstia afundou sua cara na mesa.

   — Grandíssima merda. — disparou ela, fazendo Diggle soltar inúmeras gargalhadas, atraindo a atenção dos outros alunos próximos.

   Héstia deu um murro na cocha dele, fazendo ele tossir, porém cessar as risadas. Levantou a cara da mesa e olhou para ele.

   — Por que você tem que rir tão alto?

   Dédalus deu de ombros.

   Héstia sorriu. Ela conhecia o amigo melhor do que ninguém.

   — Você está tentando chamar a atenção de alguma menina! — disse, enquanto mordia um delicioso pedaço de torrada amanteigada.

   Dédalus abriu a boca para responder, mas Héstia apontou um dedo para ele, antes que o amigo pudesse retrucar.

   — Não diga que não. Vai ser pior para você. — ameaçou ela.

   — Olha só! — disse uma voz que estava-a atormentando desde Setembro — se não é a pequena lufana ameaçando alguém!

   Héstia e Dédalus se viraram para trás ao ponto de ver Rita Skeeter parada entre os dois.

   — Não é só porque somos lufanos que vamos ser bonzinhos igual um verme-cego — retrucou Héstia, antes que pudesse se refrear, se arrependendo logo depois.

   Skeeter sorriu.

   — Vejo que alguém está estressada.

   Dédalus tossiu e entrou na conversa.

   — Rita, por favor, com licença...

   Rita apoiou um braço na cabeça de Diggle como se ele fosse um escoro, fazendo-o calar a boca e olhar para a amiga pedindo socorro. Ela olhou diretamente para Héstia.

   — Gostaria de dar uma palavrinha com você, Jones. — disse, sorrindo maliciosamente para ela. Héstia estremeceu: não tinha medo de Rita, mas ela definitivamente a intimidava. Héstia não podia evitar se sentir fraca e lesada na frente dela. Talvez por conta dos boatos que Rita já havia espalhado sobre algumas pessoas por toda a escola. Talvez porque as pessoas preferiam acreditar nela do que na versão completa de algo.

   Héstia fechou a cara, tentando parecer durona. Ela era durona. Pelo menos um pouco.

   — Já disse que não, Rita. Semana passada você me incomodou três vezes, e na anterior à semana passada, cinco. Já disse não.

   Rita olhou emburrada para ela.

   — Você está perdendo uma ótima oportunidade. — disparou, os cabelos louros platinados voando conforme se mexia com raiva — Minha mãe é a editora chefe do Profeta Diário. Ela poderia te oferecer o cargo que você quisesse. Fotógrafa chefe... — disse, sorrindo.

   Ela realmente achava que poderia comprar Héstia com aquilo?

   Há!

   — Se manca daqui, Skeeter — Héstia retrucou, e embora quisesse soar brava, ela soou indiferente, o que fez Rita ficar ainda mais estressada.

   Skeeter bufou.

   — Você vai se arrepender. — disse, entredentes.

   Héstia deu de ombros.

   — Se eu for trabalhar em algum lugar, vai ser por mérito próprio e não por trapaça. Passar bem. — dizendo isso, virou-se de costas para Rita e continuou tomando o seu café da manhã.

   Héstia ouviu o farfalhar de vestes e soube que  Rita havia saído.

   Diggle assobiou e deu tapinhas nas costas de Héstia, como se a parabenizando por algo. Ela não pode evitar sorrir.

   — Vamos para a aula. — disse ela por fim, pegando sua mochila e se levantando, sendo seguida por Dédalus.

   — Cuidado com sua câmera — começou o amigo, apontando com a cabeça para a mesa da Sonserina — acho que o olhar enraivecido de Rita pode quebrar a lente dela.

   Héstia gargalhou, preparada para levar uma bronca da Mcgonagall por não ter feito o dever de Transfiguração.

Fotografias - Regulus Black + Héstia Jones.Onde histórias criam vida. Descubra agora