A biblioteca foi engolida pelo cheiro de bebidas excessivamente cafeinadas e os sons de dedos e testas batendo contra os teclados. Dexter Davis, por outro lado, não estava batendo a cabeça contra as teclas, mas sim descansando pacificamente. Pode-se pensar que em uma biblioteca lotada com área para computadores tornaria o sono uma tarefa impossível, mas se você é um profissional treinado para cochilar em lugares públicos como ele, nenhum lugar seria desconfortável o suficiente. Dexter conseguiu cochilar por tempo suficiente para que as teclas deixassem marcas em sua bochecha antes de ser acordado por algum papel enrolado. Ele levantou a cabeça procurando o culpado, quando seus olhos caíram na bibliotecária com estatura mediana, porém perigosa, Martha Johnson.
— Se eu soubesse que você ia aproveitar esse tempo para dormir, eu teria diminuído a iluminação para você, Davis. — Ela cruzou os braços na frente do peito e arrumou sua postura para que um quadril ficasse acima do outro. Dash jura que, se a mortalidade fosse capaz de derrotar Martha (o que ele honestamente concluiu que era impossível), ela seria enterrada exatamente na mesma posição, como se estivesse esperando a morte para lhe dar uma explicação.
— Bom, é melhor tarde do que nunca, certo? — Ele puxou seu rosto em um sorriso apertado. Nenhuma faísca de diversão passou pelos olhos de Martha, no entanto. Ele endireitou a postura. — Desculpe. Não vai acontecer novamente.
No geral, as pessoas tacharam Dexter como um preguiçoso, o que o surpreendeu. Ele não era preguiçoso, muito menos burro, ele só tinha problemas em se concentrar em algo por muito tempo. Na maioria dos dias, ele mal podia ficar dentro de casa, quem dirá em uma sala de aula. Ele ansiava por mais, algo que sentia falta, mesmo nunca tendo experimentado ainda. Além disso, ele tinha tentado de tudo. Mais de dez horas na academia por semana, paraquedismo, base-jumping, bungee-jumping, escalada, drogas. Sexo. Muito, muito sexo. Tudo que você puder nomear, ele tentou. E, enquanto aqueles breves momentos o proporcionaram a mais alta das viagens, a queda do outro lado foi do caralho. Ele odiava cada minuto legal. Dexter não entendia o porque nada nunca era o suficiente. Tinha que haver mais lá fora. Tinha que haver algo grande à espreita nas sombras.
Ele já até imaginou como seria pular de um penhasco sem paraquedas, e se os breves minutos que ele permanecesse em queda livre sabendo que não haveria volta o faria sentir alguma coisa, qualquer coisa.
Mas Dexter sabia que se matar nunca iria acontecer, na verdade, de qualquer maneira que fosse. Com a sorte que ele tinha possivelmente o inferno seria algo real, e ele só acabaria gastando toda eternidade com um vazio do qual sua vida já estava cheia.
Sua conta bancária ia bem. Sua família estavam bem. Sua vida amorosa era boa. Seus amigos eram bons. Deus, ele estava cansado de toda essa merda apenas boa. Ele queria algo grande. Qualquer coisa que fosse ótima, para variar.
Ele gemeu, seus ombros doloridos pela posição do cochilo.
Sua mente rodopiava com divagações internas que tinham revirado os olhos para ele mesmo. Mesmo suas emoções eram lógicas e medianas, ele notou. Dash não conseguia sequer ser extremamente irracional. Isso pelo menos teria sido emocionante.
Martha, no entanto, ainda estava parada no mesmo lugar.
Ela o olhou desconfiada. — Onde está a sua sombra?
Dash encolheu os ombros. — Com uma garota. Mas eu é claro, estou aqui para você, Martha. A única garota no meu coração. — Ele deu uma piscadela.
Ela balançou a cabeça e levantou as mãos, exasperada. — Eu não entendo você, garoto. Você diz que vem aqui para estudar, mas a única coisa que você faz é desconectar o teclado de Archie quando ele não está olhando. Sem contar todas as vezes que eu peguei você dormindo... — Dash revirou os olhos, olhando para o assistente da biblioteca que mantinha os olhos na tela do seu próprio computador. — Oh. E não pense que eu não sei que é você que anda bagunçando as configurações da impressora. Eu não posso proibir ninguém de usar isto aqui, mas se pudesse...
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As Quatro Estações do Namoro
RomanceEm toda sua vida, Presley Markey foi ensinada que existem muitos tipos de pessoas no mundo. No entanto, depois de vários relacionamentos desastrosos que acabaram em ursos gomosos e sorvete de baunilha, ela descobre que, no mundo do namoro, existem...