Capítulo Onze

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Capítulo dedicado à GuilhermeRodrigues14, eu sinto muito. ☇

O Aquário Municipal de Santos era um dos meus lugares preferidos da cidade.
Me levavam lá desde pequeno, e aquele lugar sempre me trazia mais saudade ainda de minha tia, lembro-me dela me mostrando os pinguins com tanta animação que me dava gosto relembrar. Ela parecia se sentir bem em me mostrar o mundo ao meu redor.
Desde sua morte, fui no aquário apenas três vezes, porém sempre que vou até lá, sinto muita paz e nostalgia me lembrando dos pequenos momentos ao lado dela.
O Aquário Municipal foi um dos primeiros aquários públicos construídos no estado de São Paulo e recebe cerca de 500 mil visitantes por ano, sendo uma das principais atrações turísticas de Santos.
Dentre as espécies presentes no Aquário Municipal de Santos, estão pirarucus, bagres, carpas, tartarugas, pinguins, polvos, moreias, tubarões, lagostas, ouriços, cavalos marinhos, leão marinho entre outros.
Em 2008 teve suas paredes externas pintadas pelo artista plástico californiano Robert Wyland.
Eu observava os pinguins e tirava algumas fotos enquanto meus pais haviam ido fazer o check in em um hotel próximo dali. O resto da viagem havia sido bastante tensa para ambos, mas não havia muito o que ser feito, além de que todos nós já havíamos nos acostumado com aquela situação desconfortável.
  Olhei para os pinguins e encarei o Pinguim-Imperador, eu achava fascinante sua plumagem multicolorida: cinza-azulado nas costas, branco no abdômen, preto na cabeça e barbatanas. Esta espécie apresenta também uma faixa alaranjada em torno dos ouvidos.
O padrão reprodutivo é bastante característico. As fêmeas põem um único ovo em maio/junho, no final do outono, que abandonam imediatamente para passar o inverno no mar. O ovo é incubado pelo macho durante cerca de 65 dias, que correspondem ao inverno antártico. Para superar temperaturas de -40 °C e ventos
de 200 km/h, os machos amontoam-se e passam a maior parte do tempo dormindo para poupar energia. Eles nunca abandonam o ovo, que congelaria, e sobrevivem à base da camada de gordura acumulada durante o verão. A fêmea substitui o macho apenas quando regressa no princípio da primavera. Se a cria choca antes do regresso da mãe, o macho do pinguim-imperador alimenta o filho com secreções de uma glândula especial existente no seu esôfago.
O aquário estava vazio naquela manhã, tinha umas duas ou três pessoas além de mim observando os pinguins. Eu estava bem próximo já que tirava algumas fotos, até que um cara se aproximou de mim, ficando do meu lado.
Eu o encarei rapidamente, o olhando de cima abaixo, ele usava óculos, estava com um chapéu que eu não lembro tão bem a cor, usava uma jaqueta azul e calça, e observava os pinguins tão fascinado quanto eu.
Voltei a olhar os pinguins dando uma pequena afastada dele, já que ele estava próximo demais.
— É maravilhoso não é? — Ele parecia ter falado comigo, olhei em volta para ter certeza que não falava com mais ninguém. — É tão lindo vê-los ali, parecem tão bem.
— Sim… — Eu disse um pouco tímido ainda. — Venho aqui sempre que posso.
— Eu vinha aqui mais vezes antes... Com a minha avó. — Ele sorriu, me fitando
rapidamente e voltando o olhar para os pinguins.
— Eu vinha aqui algumas vezes também... Com minha tia… — Eu sorri, tendo um momento nostálgico novamente.
— Ela também... — Ele virou-se para mim, querendo dizer algo que ele não queria que saísse de sua boca, como se vários momentos ruins fossem vir a sua cabeça.
— Sim… Tem alguns anos já.  — Sorri me recordando dela.
— A minha se foi tem algum tempo… Fez um mês no dia onze. — Ele parecia estar bem sentido, hora encarava os pinguins, talvez tentando segurar a emoção que ainda tomava conta de seu coração.
— Eu sei como é difícil… Principalmente quando essas pessoas são próximas de nos… Minha tia era como se fosse minha segunda mãe.  — Eu sorri me recordando de cada momento com ela. — E quando essas pessoas se vão, o que nos sobra é a saudade, e nos recordar dos bons momentos que tivemos.
— Sabe… Ela me faz muita falta. — Ele me encarou, seus olhos estavam avermelhados, mas agora ele não desviava o olhar encarando os pinguins, parecia que agora ele tinha confiança em si mesmo.
— Quando minha tia morreu eu fiquei muito mau, seu marido também ficou péssimo e devido a isso eu fui morar com ele algum tempo… Mas saiba que… Essa sensação ruim
de agonia que você tem agora vai passar, e daqui um tempo você vai ficar igual eu estou agora, tendo apenas uma saudade gostosa e me lembrando dos nossos momentos juntos com um sorriso no rosto.
— Obrigado por me dizer essas palavras… — Ele sorriu.
— A única coisa que realmente morre é o corpo, porque a pessoa continua com a gente, em cada momento bom, em cada momento que nos recordamos deles, pode ter certeza… Sua avó está com você... Nesse exato momento! — Eu sorri, falava tanto que nem parecia que a poucos segundos estava tímido.
— Muito obrigado... Eu precisava disso. — Ele sorriu novamente. — Agora eu tenho que ir, minha mãe está me esperando lá fora.
— Tudo bem… Podemos dar um role por aqui quando eu vier para Santos novamente… Qual seu nome?
— Me chamo Guilherme! — Ele disse antes de sair com pressa.

Fui para o hotel pensando no que havia acontecido no Aquário, e após tudo o que havia conversado com aquele garoto estranho, me senti em paz me recordando ainda mais de tia Ketlyn e de todos seus ensinamentos, e mais do que nunca eu sabia, que quando eu olhasse
para o céu estrelado em uma noite quente de verão, ela estaria lá.
Entrei no elevador para subir para meu quarto quando vi meu pai vindo as preces para entrar no elevador também, ele estava com uma sacola na mão.
— Onde estava? — Perguntei, nem me lembrava direito do que ele havia me dito mais cedo.
— Fui no mercado.  — Ele disse seco quando o elevador começou a subir.
Virei o rosto para o outro lado, por que ele era daquele jeito comigo? Será que realmente sentia vergonha de mim ou falava da boca para fora?
— Eu apenas queria ter uma conversa com você e esclarecer tudo. — Eu disse baixinho para mim mesmo. E talvez nesse momento, por ironia do destino, o elevador parou bruscamente, nos fazendo quase cair, a porta se abriu e estávamos de cara com uma parede, havia tido algum problema no elevador, estávamos presos, só nos dois, ali.
— Era só o que faltava! — Meu pai disse já ficando vermelho de raiva, vendo que passaria pela "terrível" experiência de ficar junto do próprio filho por mais de dois minutos.

O TOC DA ESTRELA (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora