Capítulo Dezesseis

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Devia ser quase dez horas da noite quando eu fui parar no hospital e tive que fazer uma limpeza estomacal.
  Tomei cerca de três litros de enxaguante bucal após o beijo, já que minha mente não havia me deixado em paz.
— Você vai receber alta apenas amanhã de manhã. O doutor pediu para que você ficasse em observação.  — A enfermeira que era bastante gentil disse ao me levar para meu quarto.
Era um quarto pequeno, nele apenas tinha mais um homem de uns quarenta anos, mais tarde descobri que seu nome era Samuel, ele havia quebrado a perna em um acidente e por isso estava ali, porém até então não havia sido atendido.
  Fiquei sentado em minha cama olhando para a parede, estava com aquelas roupas de hospital e me sentia agoniado, aqueles lugares são cheios de pessoas doentes e que estão a beira da morte, além do sofrimento que lugares assim passam, e toda aquela sensação de que ali eu estava completamente exposto a doenças, vírus e bactérias apenas me faziam querer sair dali, o mais rápido possível. 
Me levantei e fui até o corredor, onde tinha álcool em gel, era a terceira vez em dez minutos que eu passava nas mãos, mas aquela sensação de estar desprotegido não passava em momento algum.
  Voltei para o quarto e logo minha mãe chegou com algumas guloseimas que havia pedido e que o médico liberou.
— Você está bem meu filho? — Ela disse sentando próxima a mim na cama, estava preocupada.
— Agora estou bem mãe, não precisa se preocupar! — Eu sorri, sentia raiva de mim mesmo por fazer minha mãe passar por situações como essas. 
— Seu pai está saindo do trabalho e vindo para cá.  — Ela olhou as horas no celular.
  — Ele não precisava, já disse que não foi nada demais. — Eu sorri, tentando deixa-la mais calma.
  Ela levantou, indo até a porta, parecia mais inquieta do que eu.
  Terminei de comer, ela havia levado uma cartela de iogurtes e eu comi os quatro rapidamente, eram de morangos, o que me faziam lembrar-me rapidamente dela, o que fazia meu coração acelerar e eu sentir um frio na barriga.
Por mais que eu estivesse naquela situação, em momento algum havia me arrependido do beijo. Confesso que foi um tanto quanto estranho, afinal nunca havia beijado ninguém, mas aquele momento ao lado dela havia feito algo florescer dentro de mim.
   Antes de tudo acontecer e eu ver aquela estrela caindo que conhecidentemente me fez olhar no mar onde Adhara se afogava, eu via o mundo apenas cinza, onde tudo parecia ruim e sem sentido, onde as pessoas eram más e interesseiras, sim, essas pessoas existem, mas eu acabei conhecendo aos poucos um mundo mais colorido, onde as pessoas realmente são boas. E eu vi, naquele sorriso bobo e naquele rosto cheio de sardas algo que eu nunca havia visto em ninguém antes, algo que não pode ser explicado, mas sim sentido.
   Pensava em todas essas coisas quando meio que sem querer comecei a ouvir a conversa de minha mãe com uma enfermeira.
— Pois é menina, ele tomou todos os remédios da casa. — Era a voz da enfermeira, uma voz bem irritante, parecia que ela tampava o nariz para falar.
— Meu deus… E você o conhece? Ele está vindo para cá?  — Minha mãe falava preocupada, a essa altura eu não entendia nada da conversa.
— Sim, a ambulância vai traze-lo para cá, ele já deve estar chegando inclusive. A mãe parece que está aos prantos!
Me levantei e fui até onde as duas conversavam, estava curioso já que não entendia o que estavam falando.
— O que aconteceu, mãe? — Olhei para a enfermeira que era bem bonita.
— Um garoto do nosso bairro tentou se suicidar... Mas ela não soube informar o nome dele... — Ela me encarou, parecia até mesmo preocupada, talvez se imaginou na pele da mãe do garoto.
— Que triste… — Eu disse segundos antes de vários médicos adentrarem pela entrada do hospital com a maca com o garoto. Eles andavam rápido e iam passar próximos onde estávamos, eles estavam com pressa, de longe eu parecia reconhecer a mulher que provavelmente era a mãe do garoto, que como a enfermeira disse, chorava muito.
O quão grande foi minha surpresa quando a maca passou próximo a nos e eu pude ver deitado na maca desacordado, pálido e com a boca espumando meu melhor amigo de todo sempre, Pedro.

O TOC DA ESTRELA (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora