Capítulo Dezenove

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Eu estava olhando no fundo de seus olhos quando lhe mostrei a foto do cartaz que tirei de meu celular, estava esperando alguma reação de espanto, mas não foi isso que vi.
— Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria descobrir… — Ela estava seria, mas parecia muito tranquila.
— Por que não me contou? Por que fugiu? — Meu maior defeito sempre foi fazer perguntas seguidas uma atrás da outra.
  Ela então deu um passo para trás, enquanto olhava o céu estrelado, estávamos em pé nas enormes pedras próximas a praia.
— Não queria te deixar preocupado… Você sabe… Já tem problemas demais, eu não queria te envolver nos meus também... — Ela me encarou, virando-se para mim novamente. — Você me entende?
— Mas isso é errado… Seus pais devem estar bem preocupados… — Eu a encarei com uma expressão seria.
— Everton… Toda a minha vida eu vivi um inferno… — Ela voltou a olhar para o céu. — Eu fiquei dezesseis anos presa em casa, sem poder sair, eu precisava me libertar!
— Você acha que eles realmente não entenderiam se você dissesse que não tinha problemas você sair as vezes?
Ela começou a andar em círculos em volta de mim, parecia inquieta.
— Eu já sai de casa uma vez… Tinha dois anos… Eu não me lembro muito bem dessa história, eles que me contavam…
Eu me aproximei novamente dela, que agora estava do outro lado daquela pedra.
— E o que eles te contaram?
Ela virou-se novamente.
— Disseram que eu fui parar no hospital… Peguei uma gripe tão forte que quase morri… E foi por isso que nunca mais me deixaram sair… — Uma lágrima escorreu de seu rosto.
Eu me aproximei dela, de uma maneira que não me sentia incomodado.
— Eles apenas tem medo de acontecer algo com você... E você sair assim sem avisar e não voltar mais deve estar matando eles… Você tem que voltar Adhara…
— Eu não quero Everton… Eu sei que estou errada mas… — Ela continuava a chorar. — Se eu continuasse presa naquele lugar eu iria morrer só que de tristeza.
— E onde você está ficando?
— Estou em uma casa no meio do mato…
Nesse instante me lembrei da pequena cabana que havia visto na clareira, provavelmente era ali que ela estava ficando esse tempo todo.
— Eu vou até lá com você ver se não está lhe faltando nada…
— Não!  — Ela disse de imediato com uma expressão bem assustada no rosto. — Você não pode ir até lá Everton!
  — E por que não? — Eu estranhei a reação dela.
— Eu não quero que você vá lá... Eu tenho meus motivos… — Ela disse em um tom de voz seria. — Me prometa que você nunca vai até lá...
— Mas eu…
— Me prometa, por favor.
Eu respirei fundo olhando no fundo de seus olhos, ela parecia assustada e com medo, como se estivesse escondendo alguma coisa de mim, logo de mim, que apenas queria seu bem e queria que seus pais ficassem bem também. 
— Está bem Adhara, eu prometo. – Eu disse antes de enfim conta-la da minha apresentação de violino.

O TOC DA ESTRELA (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora