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Ficar próximo à aquela imensidão azul me trazia paz.
Ainda me lembro com muita clareza a primeira vez que vi o mar, e era de se imaginar foi ao lado de minha tia.
Até hoje em dia quando olho para o mar vem em minha mente um cheiro suave de rosas, não me lembro ao certo, deveria ser o perfume de tia Ketlyn.
— A primeira vez que você viu o mar deve ter sido muito especial. — Adhara disse ao meu lado me ouvindo contar.
— Acho que… — Eu comecei olhando para o sol que logo começaria a se por. — Não importa o que estejamos fazendo, seja lavar a louça ou ir na Disney, tudo se torna especial quando estamos com as pessoas que nos querem bem. — Virei para ela novamente.
— Você fala coisas tão bonitas. — Ela olhou no fundo de meus olhos como sempre fazia. — Já pensou em as escreve-las?
— Eu não levo jeito para escrever… — Sorri um pouco sem jeito.
— Suas palavras são músicas para a alma, Everton. — Ela sorria, até que olhou para o mar e pareceu entristecer de repente.
— O que foi? — Virei para ela, por um segundo preocupado.
— Ah… Não é nada… É apenas que… O pôr do sol me deixa um pouco triste… — Ela virou, me encarando novamente.
— Por quê?
Ela antes de me responder se levantou rapidamente e quase puxou meu braço, na qual recuei na hora.
— Vem comigo, tem um lugar que preciso te mostrar! — Ela disse já saindo em disparada, estava empolgada. Ela olhou para trás e viu que eu não estava indo com tanto entusiasmo quanto ela. — Vem, rápido!
Eu corri então em sua direção, ela corria rapidamente e parecia empolgada com algo que eu não sabia ao certo o que era.
Apenas quando finalmente chegamos que eu entendi.
Ela me levou para uma clareira, que era cercada de árvores enormes, e que ali, naquele momento parecia estar a noite, já que o sol do outro lado começava a vencer mais um dia, e nos ali ouvíamos os sons da natureza enquanto víamos vaga lumes que começavam a sair das árvores.
— Que lugar lindo! — Eu disse a encarando, estávamos no centro da clareira.
— Foi esse o lugar que eu vi pela primeira vez, quando sai. — Ela continuava a me olhar. — E assim como foi especial quando você viu o mar pela primeira vez, foi especial para mim quando vi esse lugar. — Disse sorrindo.
Dava para perceber sua empolgação, eu olhava em volta e via cada vez mais vaga lumes se aproximando, enquanto o céu passava de um tom avermelhado para um lindo tom azulado.
Estávamos próximos demais, mas por algum motivo, naquele instante o que eu menos me importava era com bactérias.
— Finja que existe apenas eu e você aqui. — Seu rosto era iluminado pelos vaga lumes que começavam a voar em nossa direção.
Eu continuava a olhar em volta, mesmo prestando atenção em suas palavras, observei que não muito longe dali havia uma cabana, cabana essa que eu nunca havia visto, fiquei um tanto quanto curioso para saber se morava alguém por ali, mas assim que começava a olhar para a cabana, pareceu que ela percebeu que eu começava a viajar e ela voltou a falar comigo.
— Everton… — Ela disse chamando minha atenção. — Você é especial para mim.
— Você também... Eu sei que eu não sei demonstrar essas coisas… — Eu disse sem jeito.
— Todos demonstramos como podemos. — Ela sorriu.
— Você caiu do céu e virou minha vida de ponta cabeça, Adhara. — Disse focando em seus olhos, que brilhavam olhando para os meus.
Enquanto conversávamos, começou a ventar naquele lugar magnífico, era uma brisa fresca que apenas fez os cabelos dela se mexerem como se fossem ondas do mar.
Os vaga lumes mais do que nunca estavam em nossa volta, como se estivessem esperando por algo.
— Pode contar comigo para tudo. — Ela disse dando um passo a frente. — Eu sempre estarei com você.
— Eu também sempre estarei ao seu lado, Adhara. — Eu disse me aproximando ainda mais dela, como se algo me empurrasse cada vez mais perto dela.
Eu sentia um desconforto, óbvio, não me aproximava daquela maneira nem mesmo de minha mãe, claro, não era por querer, mas todo aquele momento, todo aquele turbilhão de sentimentos, me fez me aproximar cada vez mais dela, e por meros segundos esquecer completamente das obsessões.
Se existia um remédio para o meu transtorno, com toda certeza seu nome era Adhara.
Nos aproximamos ainda mais, meus olhos presos nos dela, comigo sentindo seu corpo quente cada vez mais próximo do meu. Toda aquela cena, o sopro das árvores, o céu que começava a se cobrir de estrelas deixava tudo ainda mais atraente.
— Eu quero você comigo. — Adhara disse por fim, antes de nós dois nos aproximarmos um do outro ainda mais, com nossos rostos quase colando, com o meu cérebro dizendo "Se afaste" mas minha alma dizendo "Se aproxime", estávamos conectados eu sabia, era como se já nos conhecêssemos antes, de outros planetas talvez, mas eu sabia que já a conhecia.
Eu sentia cheiro de morango quando nos aproximamos ainda mais, e eu pude ouvir sua respiração ofegante junto a minha, podia ouvir seu coração, estávamos vivos! Sentíamos cada turbilhão de sentimentos juntos naquele instante quando finalmente seus lábios tocaram os meus, e eu pude sentir sua boca macia se encostando na minha enquanto eu fechava os olhos e começava a sentir tudo aquilo ouvindo nossos corações acelerando a cada segundo.
Eu podia sentir os vaga lumes voando cada vez mais rápido a nossa volta, como se fosse aquilo que estavam esperando.
Enquanto sentia aquilo, algo que nunca havia sentido antes, uma guerra interna começava, onde meu cérebro começava a dizer insistentemente para que eu me afastasse, já que estávamos apenas em uma troca de bactérias.
Eu tentei resistir ao máximo, enquanto sentia sua boca na minha e minha alma finalmente estava em paz estando junto a ela, mas eu tive que parar. Meu cérebro não estava me deixando proceguir, por mais que eu quisesse.
Eu parei de beija-la e passei a mão na boca limpando-a.
— Me desculpe, eu não queria mas eu…
— Eu entendo… Vai lá... — Ela disse sorrindo.
Antes de sair correndo desesperado lembrando das bactérias que existem em nossa boca eu olhei no fundo de seus olhos por um último instante.
— Eu te amo, Adhara.
— Eu também te amo, Everton.
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O TOC DA ESTRELA (2018)
RomanceQuando Everton vê sua estrela favorita cair do céu, sua vida fica de cabeça para baixo. Mas as coisas pioram quando a estrela se transforma em uma garota e agora além de enfrentar seu transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e problemas familiares te...