☄Já devíamos estar ali a uns dez minutos.
— Alguém arruma essa merda de elevador! — Meu pai gritou pela décima vez enquanto estava sentado no chão.
Estava do outro lado do elevador, ainda em pé, não sentaria ali onde várias pessoas passavam, eu nem ousaria encostar nas "paredes" dali.
— Para de gritar, o cara já falou que está tentando arrumar lá em baixo. — Disse passando álcool em gel nas mãos mais uma vez.
Ele me encarou e ficou calado. Em seguida abriu a sacola que trazia consigo e tirou de lá algumas roscas que havia comprado na esquina, ele me ofereceu e eu neguei. Em seguida fui torturado vendo-o comer aquela rosca que sujavam suas mãos que já estavam sujas, – Afinal ele não havia lavado as mãos antes de comer. — E depois eu o vi lamber os dedos que estavam sujos do melado da rosca.
— Qual é a dificuldade de lavar as mãos antes de comer? As mãos carregam tantas bactérias que…
— Lá vem você de novo… — Ele me interrompeu. — Você tem que parar com isso… — Ele virou o rosto para o outro lado, ainda lambendo os dedos.
— Você fala de mim de uma maneira tão... — Eu o encarei. — Desprezível… Como se… Não gostasse de mim…
— É claro que eu gosto, você é meu filho! Meu único filho! — Ele me encarou.
— Então por que me trata assim? — Minha voz começava a falhar.
— Eu estou te educando… Não estou lhe fazendo nenhum mal, quero que você seja uma pessoa de bem e…
— E cheio de mágoas do pai? É assim que é uma pessoa de bem? — Eu o interrompi.
— Você não sabe o que está falando… Quando estiver mais velho vai ver que todo esse assunto é besteira! — Ele se levantou e olhou
lá do lado de fora, onde havia apenas uma parede e mais para cima o andar onde iríamos ficar. — Você faz isso desde a morte de sua tia só para chamar nossa atenção, eu até que entendo mas já chega…
— Chamar a atenção? — Eu o encarei. — Você acha que eu ficar toda hora que nem um maluco lavando as mãos e não deixando as pessoas me tocarem é por simples atenção?
— Mas você...
— Cala a boca, que agora quem vai falar sou eu. — Eu disse bruscamente, estava com raiva. — Você acha mesmo que eu estou nesse estado por frescura? Por que não tem nada melhor para fazer? Eles riem da minha cara todos os dias na escola, e pode ter certeza que
isso dói, e eu faria qualquer coisa para parar isso, mas não, na sua visão eu acordo todas as manhãs e falo "Olha que lindo dia, vou brincar que eu tenho um transtorno para chamar a atenção dos meus pais, olha como é divertido!" — Eu não percebi, mas as lágrimas começavam a escorrer.
— Filho eu… — Ele virou-se para mim, estava com uma expressão seria no rosto.
— Você é um hipócrita! — Eu me aproximei dele. — Acha que não sei que você mijava na cama até os quinze anos desde a morte da vovó? Agora me fala, você fazia isso para chamar a atenção não era? Tenho certeza que meu avô tinha vergonha de você, porque você
fazia isso apenas para chamar a atenção dele não era? Fala! — Eu gritei, por fim.
Meu pai abaixou a cabeça, e quando a levantou seus olhos estavam avermelhados.
— Eu nunca fiz isso para chamar a atenção meu filho… A falta de minha mãe me deixava ansioso…
— Então me diz pai, por que eu "finjo" ter um transtorno para chamar atenção? — Eu o encarei, olhando no fundo de seus olhos.
Ele então abaixou a cabeça novamente, e um silêncio tomou conta do elevador enquanto as lágrimas caiam insistentemente.
Ficamos em silêncio por quase um minuto quando ele levantou a cabeça, olhando no fundo dos meus olhos novamente.
— Me desculpe… — Ele ia colocar a mão em meu rosto mas parou bruscamente. — Agora eu entendo…
Continuei a chorar sem parar após ouvir aquilo.
— Eu nunca quis ter uma relação tão ruim igual a que tivemos, pai. — Eu peguei um papel toalha que estava em minha mochila e enxuguei meu rosto. — Eu apenas queria ter a mesma relação de antes com o senhor.
— Eu fui um péssimo pai nos últimos anos… — Ele enxugou seu rosto. — Espero que você me perdoe algum dia por todas as palavras que lhe disse!
— Não há nada no mundo melhor para curar cicatrizes da alma do que boas palavras daqueles que você tem certeza que te amam. — Eu sorri, me aproximando ainda mais de meu pai, coisa que eu não fazia a muito tempo. — Eu te amo!
— Eu também te amo meu filho, mais do que tudo que existe. — Ele sorriu. — E sabe o que mais? Não tenho vergonha de você, você é meu filho, e agora eu entendo que se o mundo for contra você, é eu e você contra o mundo!
No exato segundo que ele disse essas palavras o elevador voltou a subir, ouvimos
comemorações lá em baixo após finalmente consertarem o elevador.
E após aquele momento finalmente fomos para o apartamento, aquele momento no elevador havia sido essencial, como se fosse o destino que quisesse nos fazer reconciliar, mas será que isso realmente existe?
Aquele final de semana acabou sendo um dos melhores de minha vida, pois finalmente, eu, meu pai e minha mãe curtimos cada momento, como uma família.
Mas eu não imaginava as surpresas que me esperavam em Itanhaém, e tudo que estava prestes a acontecer comigo e com minha estrela preferida.
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O TOC DA ESTRELA (2018)
RomanceQuando Everton vê sua estrela favorita cair do céu, sua vida fica de cabeça para baixo. Mas as coisas pioram quando a estrela se transforma em uma garota e agora além de enfrentar seu transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e problemas familiares te...