Epílogo

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Assim que acordei me encontrei em um lugar diferente.

Passei os olhos pelo quarto e observei tentando descobrir onde eu estava.

Algo me dizia que eu não estava mais no castelo, e nem em meu próprio tempo.

— Blair! Acorde, menina preguiçosa.

Blair? Ela estava aqui?

Olhei ao redor mas não encontrei ninguém além de mim no quarto. Assim que tirei as cobertas de cima de mim e vi minhas mãos quase gritei.

Algo estava muito errado. Corri para o espelho no canto do quarto e me olhei.

Santo Deus! Eu era a Blair, só que mais nova!

Estava vestida apenas com roupas de baixo, passei a mão pelo meu corpo abismada, meus seios - que antes eram como os seios de uma menina de quatorze anos - agora eram exuberantes, assim como o resto do corpo. Os cabelos de cor preta caiam soltos em minhas costas. Eu diria que tinha dezoito ou dezenove anos no máximo.

Andando devagar fui até uma cadeira perto da penteadeira e peguei um roupão para me cobrir.

Antes mesmo de eu fechar o roupão um homem entrou no quarto. E pelo visto eu - ou Blair - tinha feito algo que ele não gostou.

— Você sabe que horas são? Menininha inútil - o homem era de estatura mediana e moreno, estava vestido como se tivesse ido a uma taverna e passado a noite toda lá.

Pelo seu mau hálito, eu diria que foi isso mesmo.

— Cadê o meu café? - ele ainda estava me olhando esperando por uma resposta, o que eu deveria dizer? "Vai fazer você mesmo?"

— O que você disse? - ops, parece que acabei falando isso em voz alta, podia notar que ele ainda estava bêbado e confusão era a última coisa que eu queria causar.

Mas eu não estava mais no comando desse corpo, só estava lá como uma espectadora.

— É isso mesmo que você ouviu, não permitirei que me torne sua escrava, já basta a mamãe. Passou a noite toda bebendo? Então faça seu próprio café.

Resposta errada.

Blair estava tão concentrada em sua raiva que não conseguiu desviar do golpe a tempo. O homem - que agora sabia que era seu pai - levantou a mão e a esbofeteou, mas Blair não se deixou abalar, apenas colocou uma das mãos na bochecha atingida e lhe dirigiu um olhar de morte.

Imediatamente o homem começou a tossir e a sufocar apertando a garganta. Percebi que o sentimento era novo para Blair e de algum modo... Satisfatório.

Surpresa, ela olhou para seu reflexo no espelho e seu pai assim que perdeu o olhar de Blair, parou de sufocar respirando fundo e lentamente.

Sem dizer mais nada, o homem saiu cambaleando deixando Blair e a mim sozinhas no quarto.

Uma risada começou a surgir no interior de Blair e soube que esse era apenas o começo.

***

Acordei assustada e aliviada ao mesmo tempo por reconhecer o quarto azul de Clara, mas o que eu estava fazendo aqui?

Tentei levantar, mas notei no momento em que levantei a cabeça que foi uma má idéia. Parecia que a mãe de todas as dores tinha vindo me comprimentar.

— É eu não faria isso se fosse você, teve uma queda e tanto - olhei na direção da voz e encontrei Clara em uma poltrona perto da janela, seus olhos estava duros e gélidos.

— O que aconteceu? - minha voz estava rouca e fraca, feia de se ouvir.

— Você bateu a cabeça assim que Blair foi embora e tem dormido desde então.

— Q-quanto tempo?

— Dois dias.

— E por que estou em seu quarto?

— Era o lugar mais próximo em que poderíamos te levar, e depois disso Sra. Vivian achou melhor não movê-la mais, até que estivesse melhor.

Ela estava calma e ereta, não demonstrava emoção. Mas por que?

E então as lembranças vieram. Blair tentando nos matar, Joshua ferido, Clara pressionando Blair na parede com seu poder, ela sabendo a verdade sobre mim...

— Clara eu...

Kate, aconselho você a não falar agora, sua recuperação só será possível se houver repouso.

Tentei levantar novamente, precisava que ela me escutasse, comigo na beira da morte ou não.

— Clara, eu quero...

— Por favor, vamos ter essa conversa mais tarde sim? Ainda não estou pronta - sussurrou.

Grace.

— Eu sinto muito pela sua irmã - disse pausadamente.

Clara simplesmente assentiu.

Se levantando, Clara arrumou a frente de seu vestido e indicou uma bandeja. Nela havia alguns alimentos leves e chá que estavam em cima da mesinha ao meu lado.

— Assim que estiver melhor tente comer, como disse você ficou dois dias dormindo e deve estar um pouco fraca.

Concordei com a cabeça a observando ir até a porta e abri-la.

— Ah quase me esqueci, ontem chegou uma carta endereçada a Kate, imagino que seja você. Está junto com o chá.

Assim que ela saiu me estiquei a contra gosto e peguei a carta.

Estava endereçada mesmo como Kate, então tinha poucas opções para imaginação. Decidi abrir logo e acabar com o suspense.

Kate,

Irei lhe contar uma história que creio nunca ter contado antes.

Há dezesseis anos invadi uma vila chamada Storm Wild, afim de saquear e fazer outras coisinhas.

Quanto estávamos invadindo uma casa pobrezinha de um casal, o casal em questão tentou dar uma de heróis e impedir que roubassemos sua casa. Mas uma fatalidade aconteceu. Eles morreram e deixaram duas crianças que chamaram muito a minha atenção. Uma menininha de aproximadamente um ano e um menininho de aproximadamente três anos.

A menininha estava chorando e a peguei em meus braços, já o menininho estava parado vendo os pais mortos no chão. Perguntei o nome da menina para o garoto, mas o nome dela não tinha me agradado e também não combinava com ela. Então passei a chamá-la de Kate.

Quando perguntei o nome ao menino, ele disse-me que se chamava Cristhian. Depois de pensar muito, decidi levá-los para minha casa e treiná-los para serem meus assassinos. Mas não contei a menina que tinha um irmão e a escondi dele, para que ele pensasse que ela tinha morrido de febre como eu havia contado. Assim eles não teriam laços emocionais e nem nada que os tornassem fracos.

Mas se você recebeu essa carta, devo estar morto e não me custaria nada lhe contar a verdade.

Então resumindo:

Sim, eu matei seus pais e não me arrependendo em nenhum momento. Não se engane querida, não sou um homem bom.

E sim, você e Cristhian são irmãos. Parabéns, você tecnicamente acabou de ganhar um irmãozinho.

Adeus querida,
-Edgar.

Parabéns para nós irmãzinha. Estou ansioso para o nosso próximo reencontro.

-C.

Greenwood - Nem tudo é o que parece ser. [CONCLUÍDO] Onde histórias criam vida. Descubra agora