Capítulo 6

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|| Samuca ||

Desperto com o toque do celular. Ao meu lado, Marocas dorme um sono tranquilo, um leve resquício de sorriso em seus lábios. Nem acredito no que fizemos a noite passada. O toque insistente continua e eu atendo antes que o barulho a desperte.

— Alô? - tento disfarçar ao máximo a voz de sono.

— Samuca? Onde você está? - Betina parece enfurecida do outro lado da linha.

— Em casa, Betina, onde mais eu estaria?

— Bom, considerando que tínhamos uma reunião há meia hora atrás, eu acho que você deveria estar aqui na casa da sua mãe.

Congelo, perdemos a hora. Como vamos explicar que nós dois nos atrasamos mas que não estávamos juntos?

— Betina, me desculpa. Pede desculpa para todos aí, eu acabei perdendo a hora. Avisa todo mundo aí que eu já chego. Pede para a Marocas ir tocando a reunião. - Deposito todas minhas esperanças nessa frase, não custa tentar não é mesmo? Sinto Marocas se mexendo ao meu lado, despertando. Ela é tão linda acordando. Não quero mais nada na vida além de ter essa visão todas as manhãs. Me perco com esses pensamentos, e só volto a mim quando Betina grita do outro lado da linha.

— SAMUEL? Tá me ouvindo?

— Oi Betina, o que você falou? - pergunto já sem paciência.

— A sua querida Maroquinhas também não está aqui - ela responde com sarcasmo. - Achei que vocês pudessem estar juntos.

Engulo a seco.

— Porque eu estaria com a Marocas? - pergunto e sinto Marocas ficar em alerta, ela senta e seus olhos aflitos encontram os meus. - Ela não está comigo. Pode ter se atrasado também. Betina, se não se importa, vou me arrumar. Logo estarei aí. - desligo o telefone não dando tempo para resposta. Marocas se levanta e começa a andar de um lado para o outro da sala.

— Samuel, eu sabia que isso não daria certo. Mentir é errado e tem pernas curtas. Não podíamos ter nos deixado levar a ponto de perdermos nosso compromisso. Agora como haveremos de explicar dois atrasos? - ela começa a falar descontroladamente, como sempre faz quando está nervosa. Eu sorrio, percebendo que mesmo em tão pouco tempo sei muito sobre ela. Ela para de frente para mim e me encara. - Porque esta rindo? Por acaso zombas de mim? Oras, estou falando muito sério. Não podemos deixar que desconfiem que estamos juntos, não consigo nem imaginar o que...

Eu a puxo pro sofá, para mim, e a calo com um beijo. Sinto toda sua tensão se dissolver quando ela abre a boca me permitindo a passagem. Eu poderia morar em um beijo dela, ficar o dia todo aqui. Ela parece ouvir meus pensamentos porque quebra o beijo e se levanta novamente, ganhando uma certa distância de mim.

— Samuel, temos que ir. Eu preciso ir em casa, tomar um banho e trocar de roupa. Você vai indo na frente, não é sensato que cheguemos juntos se queremos manter essa farsa.

— Tudo bem - concordo, me levantando. Ela da um passo pra trás, como que com medo de que eu a agarre novamente. - Você pode usar meu banheiro. Vou tomar uma ducha rápida no quarto de hóspedes e te deixo em casa antes de ir para lá.

Ela assente com a cabeça, se dirigindo ao meu quarto. Após me trocar, a encontro na sala, me esperando. Ela se levanta assim que me vê. Percebo um olhar de dúvida e tenho medo do que possa vir.

— Samuel, estive pensando - ela começa e eu a interrompo.

— Marocas, olha só, vai dar certo. Por favor, não desiste de nós de novo. - digo e ela me olha confusa.

— Desistir de nós? Seu tolo, como eu poderia? Não seria capaz de cometer essa insensatez novamente - ela me acalma e continua - Mas precisamos ser mais cuidadosos, ou haverão de descobrir-nos. Mas podemos conversar sobre isso depois, precisamos ir.

Ela pega minha mão e vai me puxando em direção à porta. A deixo em casa e sigo para o apartamento de minha mãe. Ao entrar, me deparo com Bento, Natália, Paulina, Betina e Carmen sentados no sofá, todos olhando em minha direção. Dou um sorrisinho amarelo e me desculpo pelo atraso.

— Cadê a Marocas? - tento disfarçar.

— Pois é Samuca, também não sabemos. Ela não atende o celular. - Paulina responde, um leve tom de preocupação que eu gostaria de poder retirar.

— Tenho certeza que nada aconteceu. Marocas não é de atender celular, ainda não está acostumada com as tecnologias atuais. — Vamos esperar mais um pouco para nos preocupar. Qual a pauta da reunião? - pergunto, me dirigindo a Natália.

— Precisamos definir os fornecedores da Miudeza. A Betina agendou uma reunião para após o almoço. O Bento também está com os desenhos da embalagem, só precisamos que vocês aprovem. - Natália responde com prontidão.

— Então está certo, podemos ir distribuindo as opções para quando a Marocas chegar somente avaliarmos - digo, me dirigindo a sala usada como escritório.

Faço uma nota mental para lembrar de procurar um local maior para abrigar nossa empresa. Betina me segue de perto, e eu já imagino que ela tem algo a dizer.

— Não acha muita coincidência, Samuel, logo você e a Bela Adormecida, que são tão responsáveis, se atrasarem no mesmo dia? - destila.

— Não acho não, essas coisas acontecem. Em uma cidade como São Paulo, acontecem com mais frequência do que o que seria necessário para ser considerado coincidência. - digo em um tom indicando final de conversa e me afasto antes mesmo de avaliar sua reação.

Ouço a porta do apartamento ser aberta e de repente Marocas entra na sala, sua luz particular iluminando o ambiente, e o meu dia.

— Peço perdão pelo atraso, tive a ideia de visitar minhas irmãzinhas pela manhã e acabei me demorando mais do que esperava. - sinto a fraqueza em sua voz ao ter que inventar uma história.

— Tá tudo bem Marocas - falo antes que alguém a pergunte alguma coisa. Posso imaginar o tempo que ela ficou pensando nessa desculpa e não sei se seria capaz de elaborar mais respostas caso fosse questionada de repente. — Eu também me atrasei, acabei dormindo demais.

— Ora Samuel, não podemos deixar isso acontecer novamente - sinto o tom repreensivo em sua voz. — Não é certo que os dois sócios se atrasem, o que haverão de pensar?

— Devo confessar que pensei que vocês estavam juntos - a voz de Bento interrompe nosso diálogo e todos se viram para ele, que recebe um tapa de Natália.

— Ta louco, Bento?

— Ai senhorita Nat, eu só respondi o questionamento de senhorita Marocas. - Bento responde, alisando o local do tapa.

— Deixe de falar asneiras, Bento. E vamos trabalhar. - Marocas se recompõe e se aproxima da mesa, onde separamos as opções de embalagem.

Ao final de algumas horas já temos muitas decisões tomadas, o que eu considero uma reunião de sucesso. Almoçamos ali mesmo, em meio a papéis, ideias, atas e risadas. De repente ouço a campainha tocar, e Betina prontamente vai até o outro cômodo atender a porta. Volta com um homem ao seu lado, que ela nos apresenta, porém não consigo prestar atenção no que ela diz, já que estou mais preocupado com o olhar do cara, que paralisou em minha namorada.

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