Capítulo 9

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|| Marocas ||

Duas semanas se passaram em um piscar de olhos. Ainda me é estranho toda correria deste século. Samuel sempre ri de mim quando lhe digo o que as vezes sinto que um dia aqui é como três no meu século e sempre me lembra que agora meu século é esse.

Tantas coisas aconteceram nesses 14 dias. Optamos por manter Sr. Otávio como nosso fornecedor porque além do pouco tempo para procurar por outro, seu currículo e experiência são muito amplos. Confesso que me peguei pensando diversas vezes sobre o que Paulina me disse na noite em que ele nos foi apresentado, que a chegada dele parecia uma armação da senhorita Betina, mas optei por não falar nada a ninguém, não quero parecer grosseira e nem fazer acusações sem provas.

Samuel e eu estamos tão bem, suspiro ao lembrar de meu namorado. Ele realmente estava certo quando me pediu segredo sobre nosso relacionamento, parece que tudo aquilo que tentava nos atingir e separar não existe mais. Conseguimos focar em nossa sociedade durante o dia e nos entregarmos ao nosso amor durante as noites.

Tenho me sentido um pouco em falta com minha família, recentemente meu pai foi contemplado com um cheque de alto valor pago pela seguradora inglesa do Albatroz. Eu não achava que a senhorita Maria Carla iria consegui-lo, mas ela o fez, mesmo mais de 130 anos depois. Minha família se mudou para uma mansão e todos os dias meus pais e irmãs tem me pedido para eu mudar com eles.

Sinto braços me envolverem pela cintura e a boca de meu namorado encontrar meu pescoço. Gargalho com a sensação de cócegas e giro para ficar de frente para Samuel, envolvendo meus braços nele. Ele sorri, com a boca e com os olhos e deposita um selinho em meus lábios.

- Despertou, dorminhoco? - Pergunto, encostando nossas testas.

- Senti sua falta na cama, você tem essa mania de me largar lá sozinho. - Ele diz fazendo um biquinho, e eu quase perco minha sanidade.

- Se eu não levanto antes de você acordar - digo, me recompondo internamente - a gente passa o dia na cama.

- E isso é ruim? - Ele fala me puxando para si, uma mão se fechando nos cabelos de minha nuca e a outra me segurando pelo quadril, enquanto seus lábios encontram os meus.  Fecho os olhos, aproveitando a sensação, mas sei que se não pará-lo agora, terminaremos novamente em seu quarto.

- Samuel - digo, interrompendo o beijo, mas não o abraço. - Não podemos nos atrasar novamente.

- Tudo bem - ele diz - eu te solto, mas você terá que me dizer no que estava pensando antes de eu chegar. Definitivamente algo está te preocupando.

- Como pode ter tanta certeza disso?

-  Porque conheço você. Te encontro olhando pela janela, com os braços cruzados e mordendo os lábios, você faz isso quando está pensando demais em algum assunto.

- Ora, eu não faço nada disso.

- Faz sim. - Ele ri e continua. - Assim como franze a sobrancelha, exatamente como está fazendo agora, quando fica bravinha.

Olho em seus olhos e não consigo não sorrir. Eu também o conheço. Tenho a sensação de que conseguiríamos nos comunicar somente com o olhar se precisássemos. É como se tivéssemos algum tipo de conexão, algo que faça com que saibamos o que há de errado com o outro. Suspiro.

- Não há como esconder nada de você não é mesmo?

Ele acena negativamente com a cabeça e sorri de lado, colocando a língua entre os dentes.

- Bom. - Tento pensar por onde começar. - Você sabe que meus pais se mudaram da pensão da Coronela para aquela mansão nos Jardins, e eles têm constantemente solicitado que eu e Miss Celine nos mudemos com eles.

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