Finalmente consegui viajar sem meu querido e degenerado noivo ficar sabendo, melhor assim. Se alguém tivesse me informado de que aceitar esse contrato me traria a condição de mulher apaixonada eu teria fugido para Milão.
A viagem de volta a fazenda foi tranquila, minha tia e minha irmã não paravam de conversar sobre os bailes que foram e que a todos eu consegui escapar, me deixaram livre do assunto para que eu pudesse terminar meu livro.
Chegar na fazenda nos deixou um pouco emotivas, minha irmã nos abraçou chorando, realmente aqui nos trazia muitas lembranças, então decidi que enviaria ela de volta a corte antes de mim. Fiquei parada na frente da casa grande olhando as marcas do tempo e temos que concordar que precisamos fazer uma reforma.
- Lizandra não vai entrar? - tia Ada pergunta.
- Vou dar uma olhada na mimosa antes tia pode ir se organizando para o almoço?
Acho que tia Ada deva lembrar que não temos criados aqui. Saí caminhando para o curral e ao longe vejo as vacas e em especial a mimosa que era a vaca da minha mãe. Não tinha nada a ver com ele mais eu senti o desejo que Eduardo estivesse aqui comigo. Precisava tratar de tirar ele de minha cabeça e aceitar que ele é como uma das ovelhas, "Um ser vivo perto de mim que não devo me apegar pois logo partirá". Essa frase que fora dita por meu pai e que eu repetia sempre que achava um animal fofinho.
Ao voltar para a casa já sinto o cheiro de comida ao longe e lembro que tia Ada é uma ótima cozinheira, apresso os passos para chegar logo pois estou morrendo de fome.
- Oh tia eu amo o cheiro da sua comida, pude sentir ao longe. - disse lavando as mãos para me servir.
- Obrigada Li eu faço o que posso.
- O almoço já está pronto? - Minha irmã pergunta ao entrar.
- Onde estava que não ajudou tia Ada a confeccionar a comida? - pergunto já com raiva.
- Fui tirar o pó de nossos quartos ou queria dormir na poeira?
- Tudo bem, obrigada por ter lembrado desse detalhe.
Sentamos para almoçar e eu estava animada para começar a ajeitar algumas coisas da fazenda ainda hoje se possível.
- Ah, Li eu esqueci o filho de sr. Macena deixou essa carta para você é da corte e do seu noivo. - minha tia diz me entregando a carta que faz com que eu engula em seco.
- Obrigada eu vou ler já já.
Termino minha refeição mais rápido e subo ao meu quarto para ler a carta, no fundo eu gostaria que fossem palavras de ternura como nos livros, mas eu sabia que seria uma bronca.
" Senhorita Marinho,
É com muito pesar que lhe escrevo essas palavras para lhe dizer que a sua partida as surdinas foi de um tom um tanto extravagante para mim, sei que errei e confesso que não fiz muito caso de me desculpar com a senhorita pelo meu delito e falta de respeito, mas isso não lhe dava o direito de partir assim, espero que a senhora mande me dizer o motivo de tal ato e o dia do seu regresso, pois já marquei a data de nosso casamento para o dia 15 do próximo mês. Caso a senhora permaneça calada irei eu mesmo lhe buscar, lhe garanto se houver tal necessidade a senhorita passará a conhecer um lado meu que a muito tentei lhe esconder.
Cordialmente Eduardo Salles"
Fiquei horas olhando para a carta em minhas mãos que o papel ficou amarrotado. Eu não posso crer que ele deita-se com outras mulheres e se faz de ofendido por eu ter viajado sem pedir permissão, sei que tudo não passa de um teatro para encenar o acordo, mas não vou baixar minha cabeça para o mesmo.
Esse afastamento foi bom para mim, pois não aguentava mais estar tendo que fingir que o amo e que estou feliz nessa história toda, vê-lo e tocá-lo é uma tortura pois sinto uma corrente elétrica passar por todo o meu corpo ao simples toque de seus lábios em minha mão ou quando temos que dançar.
- Oi Lizandra de que falava a carta? - tia Ada entra no meu quarto perguntando.
- Ele marcou a data do casamento para o dia 15. - digo ainda com a carta nas mãos.
- Não devia estar feliz?
- É complicado tia Ada. Eu estou me casando por um contrato e não por amor, nós dois só temos em comum a desenvoltura por administração. Ele é um libertino tia que recentemente passou a noite com mulheres, como acha que devo me sentir. - falei tudo bem ligeiro e sem perceber que já chorava.
- Ah minha menina, eu sinto muito pensei que fosse diferente pois via os seus olhinhos brilhar ao chegar dos passeios com ele ou sua face mudar de cor ao ver que ele chegou. Acreditava mesmo que o tivesse amando.
- A-amando? - pergunto enxugando as lágrimas.
- Sim filha, uma moça só ruboriza na presença de um homem do jeito que você faz, quando ama.
- Eu não posso tia amar um homem que não me respeita, que não quer casar comigo por amor e sim para conseguir um título.
- Não pode mais já ama não é?
- Eu não sei. - digo e deito minha cabeça com a cara enterrada no travesseiro.
- Lizandra não se martirize por isso, deixe o tempo falar, pois pela minha experiência vocês dois ainda vão ser muito felizes. - ela diz e sai.
- Será que eu o amo mesmo? - penso alto me olhando no espelho.
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Por acaso
RomanceLivro 8 Esta é uma história de um amor que surge por um contrato, um acordo entre duas famílias para beneficiar a dois jovens acaba unindo dois corações. Haverá resistência e luta para não cumprir a vontade de todos que é o casamento, mas em meio ao...