CAPÍTULO VINTE E QUATRO

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  No nono andar é uma correria danada; todo mundo anda como se os pés pegassem fogo e procurassem por água desesperadamente. Uma jovem baixinha corpulenta vem em minha direção com as mãos cheias de pastas,  paro-a e pergunto onde é a sala do gerente e ela aponta para uma porta no fim do corredor à direita. Sigo para lá enquanto minha curiosidade me leva a observar tudo e todos que vejo. Um homem de uns quarenta anos, baixo e com uma leve barriguinha de chopp me recebe quando sou anunciada por sua secretária; já o vi no refeitório antes na companhia de outros.

__Boa tarde.__digo entrando mais na sala. Pouco reparo na decoração ou na desorganização do escritório. E embora eu já o tenha visto outras vezes, nunca fomos apresentados, apenas sabia o nome da pessoa responsável pelo setor de pedidos.__Não fomos apresentados antes e acho que essa é uma boa hora.

__Ah, sim, Senhorita Valença,__sorri educado.__que bom que pôde vir.__aperta minha mão estendida e aponta para a cadeira.__Sinto muito se a interrompi, é apenas um erro pequeno, me desculpe por isso.

  Me sento.

__Não tem problema.__asseguro.

  Ele pega o relatório da pilha enorme em cima da mesa. Aliás uma das muito poucas coisas organizadas em toda a sala. Abre o documento e me mostra o problema que me trouxe até aqui. Como ele disse, é um erro pequeno, porém fácil de resolver. Peço a ele o fax de sua sala e aviso que mandarei a folha de pedidos refeita pelo mesmo assim que estiver pronta.
  Depois de tudo resolvido, volto para o elevador; aperto e espero uns segudos. As portas se abrem e meu estômago se revira ao ver Clarice ali dentro. Impecável em suas roupas Prada exalando luxo e beleza. Do salto alto ao cabelo loiro claro um espetáculo de mulher. Mas não do tipo de beleza épica que marca grandes nomes na história do mundo como a Monalisa de Da Vinci, ou a Vênus de Milo, muito menos como a Julieta de Shakespeare_____que ele me perdoe por tal comparação_____, mas Clarice se encaixa mais na categoria "cinco minutos de fama". Aquele em que você brilha seu máximo porque logo outro brilhará mais forte do que você.

Que vida triste...

  Entro sem nada dizer e as portas se fecham, confinando-nos no espaço limitado e claustrofóbico. Ficamos as duas em silêncio a princípio, uma tomando o máximo de distância da outra e atenta a seus limites.

__Parabéns pelo discurso de ontem, você estava fabulosa. Eu não queria ter atrasado Fernando, mas é que ele é uma tentação.__ela fala apreciando as próprias palavras num sorriso cínico. Fico calada, muito calada.__Você sabe não é?

  Viro o rosto pra olhar pra ela e é quando ela me bate com força no lado esquerdo do rosto me fazendo virar a face ardente e exclamar. Rapidamente ela aperta o botão de parar o elevador e sinto o solavanco dele ao ser freado; preciso de um rápido apoio na grade atrás de mim para não cair.

  Ergo o rosto e meu olhar orgulhoso para encará-la. Massageando o local da bofetada.

__Acho que eu não ia ficar sabendo que tem se agarrado com ele em todos os lugares? Na cozinha...!__sua voz está carregada de raiva e despeito.__Você é uma vagabunda mesmo, não sei o que ele viu em você.

__O que não viu em você.__falo entridentes me enfurecendo a cada palavra.
Nunca bateram em mim, nem mesmo meus pais.__Foi Elaina quem te contou, não foi?__questiono dividindo minha raiva e dedicando um pouco àquela poodle alpinista.

  Clarice sorri com desdém.

__Elaina? Aquela é outra piranha que se acha boa demais para dar em cima dos chefes, mas serve pra alguma coisa no fim das contas. Vocês duas são da mesma laia. Vocês trasaram?__a pergunta surge. E isso quer dizer que ela não tem certeza do que aconteceu entre nós. O que me faz sorrir.

QUEM É ELE?--UMA PAIXÃO (Livro 3 Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora