Capítulo 7

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(N/A: narração Laycan)

Não sei mais o que está acontecendo!
Primeiro eu, simplesmente, acordo em uma clareira no meio do bosque e ninguém me explica como eu fui parar ali e também não me explicaram o que estávamos fazendo ali, então meu pai tem um surto, deixando-me apavorada.

No dia seguinte meu “irmão querido” chega a escola para me infernizar. Eron fica odo estranho, Aly fica fugindo de todos os assuntos que envolvam aquele episódio e Cam está muito calado e observativo.

Parece-me que eles estão esperando alguma coisa acontecer. De qualquer forma, seja lá o que estiver acontecendo, eles estão tentando me proteger, pois estão se esforçando parar agir normalmente ao meu lado, mas logo notei que havia algo errado: os olhos de Alyra, eles mudam conforme seu temperamento; eles estavam escuros e oscilando, clareando e escurecendo de novo. Os olhos de Cam estavam dourado vivo e os de Eron, haviam se tornado poços de escuridão, sem fim nem começo.
Os olhos são o espelho da alma... Os olhos não mentem...

Mas eles estão se esforçando para agir normalmente, o mínimo que posso fazer é não pressioná-los em busca de respostas, por mais que isso me deixasse maluca.

E agora, com Leo rondando, tudo se complica ainda mais, pois ele realmente me detesta com todas as suas forças, mas não acho que ele vá desobedecer uma ordem do Inquisidor, não depois do episódio no reformatório, ele pode ser tudo, menos idiota.

Depois do almoço, notei que Eron sumiu e reapareceu somente na aula de educação física. Eu preferi ficar de fora de todos os jogos da aula, não estava muito animada ou fisicamente disposta e Eron aproveitou e queimou todos os traseiros, então acabei ficando aliviada por ter ficado de fora.

Depois fomos para a aula de biologia, com nossa professora fada. Apesar de ser uma fada, Didy vive com um cachimbo na boca, ela dá aula meio alombrada e nos ensina como fazer chás com ervas estranhas, por isso nossas aulas eram sempre na estufa que ela cultivava.

Ainda estava tentando entender o que estava acontecendo, mas algumas partes me fugiam da mente e foi com essas dúvidas que eu fui dormir. Não tive exatamente sonhos, mas também não tive pesadelos, eu só ficava submersa em um lago frio olhando para as estrelas ao longe, calmo demais.

Nada fazia sentido.

Acordei subitamente com um mal pressentimento. Levantei, tomei banho, vesti minha boa e velha calça jeans, minha camisa de mangas cumpridas e capuz preta, e meu inseparável all star de xadrez.
Sei que parece paranoia, mas queria ter certeza de que não havia nada errado.

Assim que abri a porta, fui brutalmente arremessada contra a parede, houve um pequeno estalo quando minha cabeça se chocou com a parede. Eu cai sentada, completamente tonta, só pude distinguir a silhueta de um homem que andava na minha direção.

_achei você anjinha... – ele falou, abaixando-se, deixando seu rosto na linha dos meus olhos, mas não sabia quem era ele, o mesmo pegou-me pelo tornozelo e arrastou-me para fora, enquanto eu me debatia debilmente – oh, acalme-se...

_quem é você? O que quer? – murmurei engasgada com o ar, ele me arrastava e eu tinha uma mínima noção de que estávamos saindo do prédio dos quartos, foi quando o solo sumiu, e eu me vi arremessada no ar, até o outro prédio.

_não lembra mais de mim? – sua voz parecia tão perto, e eu só notei que ele estava em cima de mim, quando levantou-me pelo pescoço, me imprensando na parede – Laycan...

_Alric? – o reconheci assustada.

_olá! – ele sorriu mostrando seus dentes perfeitamente brancos e alinhados – pensei que tivesse esquecido de mim...

_o que... – eu não conseguia entender quase nada do que ele dizia.

_você não imagina a minha felicidade quando meu pai me contou que você é uma farsa! – ele me levantou mais alto e me jogou dentro do prédio, eu cai desajeitada no chão.

_não sei do que você está falando... – murmurei, sentindo o sangue escorrer pela minha boca. Tudo em mim doía.

_sim! Isso é verdade! Você foi tão enganada quanto todos, durante toda sua vidinha medíocre! – ele se aproximou de mim, agachando-se ao meu lado, enquanto eu sentava com esforço – mas como você vai morrer mesmo, eu vou lhe contar... Seu querido papai, Alexander del Algels, o Grande Inquisidor... Não é seu pai... – ele gargalhou de forma doentia – seu irmão te odeia, porque sabe que não é seu irmão! – continuou – há muitas coisas que você não sabe, já que seu pai programou seu cérebro para obedecer a certos gatilhos... – sorriu, enquanto acariciava meu queixo – mas agora, eu tenho que matar você! Na verdade, eu quero muito matar você!

_estamos na escola... – murmurei debilmente.

_não há ninguém para lhe ajudar! Estão todos mortos! – ele sussurrou com um brilho insano nos olhos, o que fez meu sangue gelar nas veias, parecia que o ar não entrava mais em meus pulmões, eu estava sufocando – demorou um pouquinho, mas valeu a pena só pra ver essa sua expressão... – ele segurou firmemente meu queixo – todos tem razão Laycan, seus olhos são realmente lindos, e ficam ainda mais lindos quando expressão tão bem o seu terror – sorriu maleficamente.

Ele levantou-me pelo braço e começou a me puxar pelo corredor, do que parecia o caminho para o refeitório.

_venha! Eu quero lhe mostrar uma coisa! – falo eufórico, quando arrastava-me.

Ele me levou para dentro do refeitório, que estava em chamas. Tudo queimava! A fumaça me fazia lagrimejar e engasgar, eu estava sufocando ali.

_veja... Veja... – virou meu rosto em direção ás chamas, onde com algum esforço, pude distinguir algo que me deu ânsia de vomito.

O cheiro de carne queimada vinha daquela enorme pilha de corpos queimando. Meu joelho fraquejou e eu me vi ajoelhada, olhando para aquela monstruosidade, senti algo úmido em meus joelhos e olhei na débil esperança de que aquilo fosse água, mas como eu já suspeitava, era sangue, e ainda por cima a poucos metros a minha frente encontrava-se um braço, com dedos grandes e longos...

Ele pertencia a Stem.

Nenhum ruído fluía de meus lábios. Nada. Nem mesmo um mínimo som sequer, o pânico me consumia inteiramente. Alric me levantou, puxando-me pelo braço.

_todos eles... – murmurou em meu ouvido – todos eles morreram por sua causa, porque se colocaram no caminho entre você e eu... – ele levou uma mão a lateral esquerda da minha cabeça – sua humana idiota... – colocou a outra mão na minha bochecha direita, e eu tinha plena certeza do que ele ia fazer: quebrar meu pescoço.

Eu estava tão apavorada com tudo aqui, que apenas fechei meus olhos e fiquei esperando...

_não... Assim, não... – ele segurou meu pescoço com sua mão direita e me sustentou no ar, ele estava me estrangulando, e eu estava desesperada, me debatendo, enquanto o mesmo sorria.

O cheiro dos corpos queimando, a fumaça cobrindo tudo ao redor, fazendo-me engasgar e lacrimejar, enquanto a mão de Alric esmagava minha traqueia, ora apertava, ora soltava, me deixando respirar. Aos poucos minha visão foi se escurecendo, conforme eu não conseguia mais me mexer e nem respirar.

_adeus... Laycan... – murmurou, enquanto eu mergulhava na inconsciência.

Um fim trágico, e eu só queria ter me despedido de Cam, Alyra e Eron, que uma vez salvou minha vida. Queria dizer a ele, que ele não precisava se preocupar tanto comigo. Falar a Cam, que foi eu quem estragou a melhor camisa dele, sem querer. Dizer a Aly que, sem querer, havia estragado o pó de fada que roubamos da prof. Didy. Devolver a Ryan o CD favorito dele do Guns N’Roses; queria matar Leo e meu pai também.

Queria fazer tantas coisas quanto fosse possível, aproveitar cada momento aprontando com meus amigos; queria viver mais um pouquinho, mas conforme eu ia sentindo um frio me dominar e uma sensação de solidão... Me dei conta de que não viveria mais.

Tinha terminado o jogo pra mim.

Game Over.

Segredos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora