Capítulo 19

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(N/A: narração Kaleb)

Meu mestre.

Havia anos que eu não o via, mas ainda me lembrava de sua face, dos olhos, do poder que emanava dele... Opressivo, assustador, manipulativo. Meu mestre era quase perfeito.
Ele deixou-me livre para seguir com minha vida, quando voltou ao inferno, antes da filha nascer. Oh sim. A filha de meu mestre, sua única imperfeição, ao mesmo tempo em que é sua perfeição. Eu estava lá quando ela nasceu, fui o primeiro a segurá-la nos braços e olhar dentro de seus olhinhos inocentes e puros. Os olhos do pai. Os olhos de meu mestre.

Eu estava livre, meu mestre havia me dado liberdade, porém aquela menininha roubou meu coração, minha alma, a razão de eu existir. Tudo com um só olhar. Meu mestre aproveitou e me pediu para protege-la a qualquer custo, e era o que eu estava fazendo até o dia em que ela sumiu com alguns amigos.

Recebi ordens para aguardar, pois ela chegaria a mim, em breve. Eu só não esperava que fosse em tais circunstancias.

Estava andando pela floresta, passando por várias criaturas estranhas e assustadoras, alguns locais onde o tecido da realidade é mais maleável. Estava distraído, quando senti alguém perto da minha casa. Eram duas pessoas, pude ver quando despencaram do nada, batendo em vários galhos até se chocar brutalmente contra o solo.
Por um momento preparei-me para ataca-los e expulsá-los da minha floresta. Não estava com paciência alguma para idiotas brincando de entrar em portais.

Aproximei-me devagar para pegá-los de surpresa, mas ao chegar mais perto, meu coração quase parou por um momento, quando reconheci a cabeleira branca por entre as folhas.
Corri até o local, torcendo para que fosse e para que não fosse ela. Para minha alegria e preocupação extrema, era ela.

E não estava só.

Alyra de Artemis estava junto, a filha do Grande Magnus.

Estávamos há minutos da minha casa, carrega-las não foi problema algum. Ainda com as duas nos braços, fui até a sala em que realizada meus rituais, também funcionava como enfermaria, lá tinha duas mesas de pedra para sacrifícios. Depositei cada uma em uma cada e olhei para a que estava no pior estado...
Alyra.

Pegando algumas gazes umedecidas com um preparo de ervas magicas, comecei a limpar o corte feio que havia em sua testa. Aos poucos o corte foi fechando, enquanto eu tratava dos demais ferimentos de seu corpo, a grande maioria era apenas superficial, alguns poucos profundos e muitos hematomas. Quando dei-me por satisfeito com meu trabalho, virei-me para Laycan.

Ela estava com um olho roxo, vários cortes pequenos, seu queixo e blusa estavam sujos de sangue, o que me deu a certeza que ela expelira sangue pela boca. Ao que parecia uma de suas costelas estava quebrada e outras duas estavam trincadas no lado direito. Mas o principal continuava intacto, graças aos anjos... As asas.

Deixando as gazes de lado, fui buscar um tecido mais raro que eu usava para fazer os cachecóis que dava a ela de presente, o pano tinha um efeito diferente em anjos. Qualquer ferimento no corpo ou na aura de um anjo, não era curado com nenhum tipo de preparo de ervas, apenas por tecidos especiais, confeccionados pelas mãos de antigos nefilins que aprenderam a arte da necromancia, alguns filhos meu no caso.

Escolhi um aleatoriamente e voltei para onde deixara as duas. Olhando rapidamente para Alyra notei que seus ferimentos estavam todos completamente curados, ela só parecia exausta.

Quando me voltei para Laycan, notei que ela estava murmurando algumas palavras na nossa língua materna, apenas coloquei o tecido em cima de seu corpo e esperei. O pano brilhou por um momento e voltou a sua cor original.

Saí da sala deixando-as rapidamente, para arrumar dois quartos para hospedá-las, quando já estava voltando, encontrei no corredor a dona de uma longa cabeleira branca andando devagar.

_Laycan... – a chamei.

Lentamente era virou-se para mim. Notei que os olhos azuis que sempre mostravam alegria, energia pura, estavam abatidos, tristes e cansados, mas acima de tudo, estavam frios.

_Kaleb...

_você parece um pouco cansada...

_imagine... Quedas de barrancos são sempre agradáveis! – brincou, mas sem humor.

_onde estão seus cachecóis?

_devem estar em casa...

_quando deveriam estar se alternando na vez por seu pescoço alvo e indefeso! – ela sorriu.

_imagino que sim...

_venha, vamos ver como sua bela amiga está! – ela cerrou os olhos e sorriu.

_Kaleb, Kaleb, Kaleb...

_ora essa! Não vou fazer mal algum a ela! Vamos!

Eu a segui até a sala onde Alyra tinha permanecido inconsciente. Podia sentir a aura dela oscilando perigosamente entre a Laycan de sempre, e Laycan a filha de Lorde Lucios!

Mas realmente estava interessado na filha do grande mago... Alyra.

Segredos EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora