Capítulo 20

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(N/A: narração Alyra)

Silencio. Era tudo o que me rodeava. Estava com frio também, sentia algo duro em minhas costas. Pensando bem, eu estava deitada sobre algo duro, num local frio e silencioso.
Foi então que ouvi passos e vozes. Uma familiar e a outra... Era diferente. Rouca e grave, porem suave. Era incoerente. Abri os olhos devagar e olhei ao redor, tentado achar o dono daquela voz, e logo o achei.

Alto, moreno, com cabelos curtos e presos como os de um samurai. Tinha olhos acobreados, algo próximo do caramelo ou bronze derretido. Era forte, musculoso, mas também esguio, lembrava alguns magos.

Mas ele não era um mago. Eu estava sentindo uma aura estranha, forte e maligna, tranquilamente assustadora vindo dele.

_Aly... – Laycan me chamou. Ao olha-la pela primeira vez a vi como um anjo, algo além de minha amiga humana.

_Lay... O que aconteceu? Onde estamos? – perguntei – como chegamos aqui? Onde estão Eron e Cam? – ela permaneceu séria, com uma expressão neutra e olhos frios.

Ela fechou os olhos por um momento, e eu soube, e a realidade atingiu-me como um tapa na cara.

_eles não poderão mais seguir viagem conosco! Foi minha culpa...

_não seja tola! – o outro presente no recinto a repreendeu severamente.

_Aly, esse é meu padrinho, Kaleb! – falou enquanto se encaminhava para a porta – Kaleb vai ajudá-la com o que precisar! – e simplesmente saiu.

Fechei os olhos e relembrei todos os momentos com Eron e Cam. Foram anos... Lagrimas quentes já molhavam meu rosto, enquanto chegava a conclusão mais óbvia, havia perdido meus amigos. Eron e Cam estavam mortos. A Laycan que eu conhecia, praticamente já não existia mais. A julgar pelo modo como deixou a sala, podia jurar, que seus olhos azuis gélidos, refletiam sua alma.

_Alyra... – uma voz me trouxe de volta a dura realidade. Abri os olhos e acima de mim, Kaleb me encarava – vai ficar tudo bem!

_como você pode saber? – a pergunta soou infantil.

_o segredo de tudo, é estar sempre em movimento! Porque quando paramos, tudo desaba como uma avalanche! – ele sorriu e sem aviso algum, foi me erguendo até que me colocou sentada – está sentindo dor? – ele me encarou com aqueles olhos misteriosos.

_não... – o sorriso dele se alargou – Kaleb, não é? – ele acenou positivamente ainda me encarando – você é o que realmente para Laycan?

_uma espécie de padrinho! Para os anjos nascidos na terra, o primeiro individuo a carregar a criança, sem ser os pais, é considerado o padrinho ou a madrinha! As vezes quando o parto ocorre inesperadamente, o pior inimigo pode se tornar o padrinho ou a madrinha, nunca é planejado. E só pode haver um de nós! Ou um padrinho ou uma madrinha!

_curioso...

_somos responsáveis por garantir a felicidade dos nossos afilhados, também somos nós quem damos o primeiro beijo pecaminoso! – sorriu maroto.

_serio? – perguntei incrédula.

_sim!

_isso é estranho, Laycan... Oh! Minha nossa, quer dizer, que você a beijou... – e estranhamente esse fato me incomodou profundamente.

_é uma tradição!

_até mesmo quando padrinho e afilhado são do mesmo sexo? – ele estreitou os olhos e sorriu.

_sim... Mas voltemos ao foco! Alguma dor?

_não! Acho que não...

_tudo bem! Consegue se colocar de pé?

_sim! – ele ergueu a mão e ajudou-me a ficar de pé.

_nenhuma tontura?

_não! – ele sorriu, parecia satisfeito consigo mesmo.

_sua aura ainda está um pouco instável, peço que me acompanhe, para que possa descansar!

_obrigada... Por tudo! Quer dizer, você nem me conhece, e está sendo muito gentil, não apenas por cuidar de mim, mas por responder minhas perguntas! – falei encabulada, mas eu não era assim.

_não há de que! Venha! – ele virou-se e começou a andar, ainda me olhando por cima do ombro. Eu o segui.

_han... Kaleb...

_sim...

_sua aura é... Um pouco... – procurei a palavra certa para me expressar, mas nada estava vindo.

_diferente? – perguntou.

_é mais ou menos isso! – falei sem graça.

_você deseja saber o que eu sou, suponho, já que você sabe quem eu sou!

_sim! Desculpe! Eu não deveria, mas... – ele me interrompeu.

_você não imagina? Diga seu palpite! – incentivou-me.

_um anjo? – ele gargalhou, e sua gargalhada ressoou pelo corredor, gerando um eco, atingindo-me, causando arrepios na pele, aquele som era agradável.

_que comediante fabulosa você é! – brincou – sou um demônio! Um demônio de porte maior! – falou demonstrando orgulho pela sua casta.

_ah, sim... – eu tremi inteira. Conhecia apenas histórias de demônios de porte maior, e agora reconhecia o perigo. Ele era da mesma casta que meu avô.

_não, não como ele! – respondeu ao meu pensamento – não se preocupe! Não vou machucar você! Apollyon e eu temos algumas desavenças e também eu sempre estive no lado vencedor, e isso o irrita até hoje!

_você acha que Laycan está bem? – desconversei, ele suspirou.

_ela está cada vez mais parecida com o pai... Então sim! Ela vai ficar bem! Mas não o bem que você conhece... É outro tipo de bem... – murmurou o final.

_você o conhece?

_quem? – perguntou-me distraído.

_o pai verdadeiro dela! – insisti.

_ah, sim! Ele foi me mestre no passado... – como que por um passe de mágica, já estávamos em outro cômodo, muito mais amplo, parados em frente a uma porta – chegamos!

_onde exatamente? – estava tentando entender como chegamos ali. Não reparei no caminho? Ou estava tão focada nele, que me distrai?

_quarto de hospedes! Onde você poderá descansar! Laycan deve estar na cozinha! Trarei algo para o desjejum! Levaria você até lá, mas prefiro que descanse! Você perdeu muito sangue! – ele abriu a porta, e deu espaço para que eu entrasse, eu o fiz – descanse!

_obrigada! – ele fez uma reverencia e fechou a porta ao sair.

O quarto era muito bem organizado, havia uma cama de casal, coberto por lençóis cor de pastel, mais à esquerda havia uma porta que parecia levar ao banheiro, ao lado da cama havia um criado mudo, à direita havia um armário enorme. O quarto não tinha janelas, mas havia uma brisa fria que deixava o ambiente confortável.

Fui para o banheiro, havia uma toalha dobrada em cima da pia, espelho, o sanitário, e um box que separava o chuveiro e havia uma banheira também. Eu estava precisando relaxar. Enchi a banheira com água morna pus alguns sais de banho, despi-me e entrei nela. Os músculos estavam doloridos, e minha mente estava cansada. Eu estava esgotada.
Acabei por adormecer com o encantador Kaleb em meus pensamentos.


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