Capítulo 9

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(N/A: narração Belfier)

Tudo tinha saído como planejado, perfeitamente calculado com mínimas chances de falha. Não sou homem de brincadeiras. Jogo para ganhar ou ganhar, jamais impacto, jamais perco... ELE me ensinou a ser assim, ELE mostrou-me o mundo dele, e me ensinou tudo o que eu pude aprender. Me acolheu quando não tinha ninguém, me ensinou a ser alguém, quando eu não era nada.

Eu fui o único que sobreviveu ao teste dele, ELE me ensinou a ser como seu e eu queria cada vez mais, então brigamos e eu saí debaixo das asas malignas dele. Mas devo admitir que ele é surreal, tão determinado a ponto de tirar a memória da própria filha e a mandar embora, a ponto de matar a própria esposa. Extremamente sábio. Devo admitir que diz o mesmo com minha esposa, mas não pude fazer o mesmo com minha criança, não pude me separar dele, o laço de sangue falou mais alto.

Mas quando já crescido, para salvá-lo, o deixei com os avós, mas agora... O tenho ao meu lado, e o mesmo é fiel a mim. Posso quase ousadamente comemorar minha vitória sobre meu mestre...

_não! Você não pode! – uma voz ribombou na sala, respondendo aos meus pensamentos.

Meus joelhos vacilaram e eu me vi ajoelhado, ofegando... Havia uma pressão insana na sala, algo puramente maligno.

_olá, Belfier! – aquela doce voz aveludada, rouca e ainda sim grave, preencheu a sala. Eu não pude responder, minha voz havia sumido completamente – não se preocupe em me responder, você não deve fazê-lo, como você já deve saber! Então vou continuar... Recebi seu recado...

Ele se aproximou mais, me fazendo fita-lo com clareza. Usava um terno de linho negro, camisa social igualmente negra, havia um pequeno lenço azul cobalto, no bolso do terno, seus cabelos negros, agora longos, caídos pelas costas, ainda repicados, os lábios em uma linha reta, mantinham sua expressão neutra. E seus olhos... Ah... Aqueles olhos azul cobalto profundos e penetrantes, eles enxergam a alma de todos, e hipnotizam os que os fitam tempo demais, submetem os que conseguem ver a maldade que eles escondem. Já era tarde demais, quando percebi que ele leu meus pensamentos.

_sinto-me lisonjeado, com tão magnifica descrição de minha pessoa! – sorriu malicioso – mas estou profundamente ofendido com seu recado! – ele estreitou os olhos – quase não acreditei que aquele insolente do seu filho tentou matar a minha filha! Devo dizer que é de grande valia, a influência que eu tenho dentro da corte, que garante um acordo muito lucrativo com o clã de Avalon... Não achou mesmo que eu deixaria meu trunfo desprotegido, aos olhos de todos – ele gargalhou da minha inocência.

Eu sabia que ele tinha marionetes dentro de todos os lugares, mas não me passou pela cabeça, que sua influência chegaria tão longe.

_você se esqueceu que eu lhe ensinei tudo o que você sabe, mas lhe ensinei nem mesmo um terso do que eu sei, meu jovem Bell, mas não estou aqui para lhe matar assim, prostrado aos meus pés, olhando-me como uma criança assustada, ainda que com ódio, mas impotente... – sorriu – vim aqui para lhe dizer que aceito o desafio! Que a guerra comece, mas fique avisado... Que eu não meço esforços para conseguir o que eu quero! – ele se virou e afastou-se um pouco, aliviando-me da pressão de sua presença, mas parou repentinamente – ouça Bell... Apesar de estarmos em guerra, quero que saiba que você foi de longe o meu melhor aluno, na realidade, o meu mais brilhante e promissor, me orgulho de você, e me orgulho ainda mais do que eu fiz você se tornar, mas como a velha retórica é verdadeira... A criatura se vira contra o seu criador, o aluno contra o mestre, o filho contra o pai... Saiba Bell, que se um dia nossas espadas se cruzarem, eu o matarei de forma honrosa, pois digamos que eu fiquei sentimental desde a quase morte de Laycan – sorriu brevemente – mas como inimigo a minha altura, não medirei esforços para tirar você do meu caminho!

Então ele se foi em chamas negras, eu pude novamente respirar sem sentir aquele peso no ar, aquela aura assassina aterrorizante, o mal encarnado em pessoa. Aos poucos fui me recuperando, justamente no momento oportuno, pois Alric entrou no meu escritório.

_algo errado? – perguntou-me.

_não! E Jason?

_no quarto dele! Pai, não entendo porque não eliminar Laycan de uma vez?

_eu preciso daquele coração, ou seja, preciso daquela menina, tanto quanto o meu ex-mestre a quer para si!

_e quanto a Eron e Cambriel?

_você os matará na hora certa! Lembre-se Alric, nós devemos estar, não um e nem dois, mas cinco passos à frente dos próximos movimentos... – falei enquanto sentava-me no sofá.

_entendo...

_ótimo, pode ir descansar agora! Poupe suas energias para nossa próxima tacada! – virou-se e se retirou a passos lentos e firmes.

O único problema, é que meu filho é idêntico a mim, e assim como eu, Alric pode querer se voltar contra mim. Precisava mantê-lo na linha, pois ele era forte, mas descontrolado, e se continuar assim aprendera a controlar todos os seus reais poderes e se tornará uma ameaça, e terei que matá-lo.

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