Diagnóstico

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[Os homens temem a morte, como as crianças temem a escuridão.]

...

— 6 DE FEVEREIRO DE 1996 —

Capítulo Um

A noite já reinava nos céus quando o som estridente de um novo telefonema despertou Matthew do seu descanso. Tecnicamente, não estava realmente dormindo, era mais um cochilo motivado pela exaustão de permanecer horas no pequeno escritório da sua casa lendo sem parar. De qualquer forma, limitou-se a erguer a cabeça lentamente da sua mesa, semicerrando os olhos e franzindo o cenho ao não conseguir ver nem um palmo à sua frente.

Levou-lhe alguns segundos para perceber que estava sem os seus óculos, jogado a poucos centímetros de onde a sua cabeça descansava. Riu consigo mesmo, colocando-os novamente e então levantando-se da cadeira e dirigindo-se lentamente até o telefone que não calava a boca. Esperava que fosse algo importante, do contrário a pessoa do outro lado provavelmente não teria uma boa noite ao ouvir os seus xingamentos.

Contudo, assim que atendeu e deparou-se com a voz doce de uma mulher conhecida, a raiva e o sono dissiparam-se quase que no mesmo instante. Um sorriso fraco surgiu no seu rosto enquanto respondia com um simples: "Oi?".

— Matthew. Isso é importante. — No entanto, pela seriedade que era palpável, percebeu que não seria para uma conversa casual.

— Anne, o que foi? Aconteceu alguma coisa?

— É... na verdade, sim. É o meu filho... Tem algo de errado com ele. Quer dizer, é errado dizer que há algo de errado? Não sei, mas... Eu não confio tanto assim em psicólogos, e você é o mais próximo que eu posso chamar de amigo, então...

Isso poderia ser verdade se voltassem no tempo há pelo menos 30 anos. Mas claro que a amizade era apenas conveniente quando lhe traria algum benefício, sempre havia sido daquela forma, então por que mudaria algo agora? Matthew suspirou, encostando-se na parede enquanto os seus dedos enrolavam-se no fio.

— Diga.

— É o Isaac, não sei se o conhece, mas... — Parou de falar por um momento, como se estivesse tendo certeza de que ninguém estava por perto. — Ele... eu encontrei animais mortos no quintal de casa! Ele tem apenas seis anos...

— Como estavam mortos?

— De quê isso importa, Matthew?! Ah, bem, que seja... É... Eram passarinhos. Foram provavelmente acertados com uma pedra. Mas o que importa é que o meu menino de seis anos está matando animais! Eu... eu temo que...

— Ele se torne como o seu marido?

Silêncio.

— Bem, Anne ... eu não posso diagnosticar o garoto à distância e apenas com o que me diz. Preciso vê-lo pessoalmente e falar com ele a sós. — Virou-se, observando a estante de livros. — Mais alguma coisa?

— Ele tem a síndrome de Riley-day.

— O quê? — Franziu o cenho, interessando-se novamente. — Isso é hereditário.

— Não sabemos de que parte da família veio, mas julgamos que tenha sido da parte de Aeryn. — Suspirou.

— Não, é uma doença recessiva. Os dois devem ter o gene. — Interrompeu-a. — O seu filho foi azarado por ter pego o gene defeituoso dos dois.

Sentimentos InaptosOnde histórias criam vida. Descubra agora