Fantasma do Passado

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[As coisas mais velhas ficam presas na minha cabeça e se repetem várias e várias vezes]

— 2 DE JANEIRO DE 1979 —

Capítulo oito

...

Ezra balançava os pés em meio ao ar enquanto aproveitava o conforto da sua cama, admirando o teto com um breve sorriso estampado no rosto. O seu irmão, em contrapartida, estava sentado na janela, grunhindo baixinho em resposta a cada carro que passava.

Gostaria de ter um carro, assim como Ezra, mas compreendia que o seu pai possuía o favorito, e não usufruía de tanta grana para simplesmente comprar dois automóveis para os seus filhos. Afinal, ele tinha outras prioridades, como comprar caixas de cerveja e ficar bêbado nos fins de semana em uma tentativa fracassada de esquecer a perda da própria esposa.

— Vai cair desse jeito. — A voz de Erza chamou a sua atenção, tampouco virando-se, apenas permitindo que a fumaça do cigarro escapasse pela sua boca. — Se cair, não vou ir te buscar.

— Se eu cair, vou agradecer. — Murmurou, ouvindo-o rir de fundo. — Não morreria, de qualquer forma. — Deu de ombros, olhando fixamente para baixo. — Já calculei.

— Se quiser se matar, não deixe o seu corpo visível pra todos. Ninguém precisa ver o seu cadáver, Micah. — Levantou-se então, aproximando-se do rapaz e repousando a mão fortemente em seu ombro. — Corte os seus pulsos no banheiro, na melhor das hipóteses.

— Cortar os pulsos é pra maricas. — Respondeu ofendido, empurrando-o para longe, a fim de que não o tocasse mais, e então se levantou, jogando o cigarro meio-aceso pela janela. — Por que veio até mim, hein? O que você quer?

— Calma lá, irmãozinho. — Riu, desordenando os cabelos escuros. — Eu quero pedir uma coisa, na verdade.

— Ah, mas é claro... — Gargalhou em desgosto, afastando-se do seu irmão e dirigindo-se para o seu armário, pegando a mesma jaqueta azulada de sempre. — Que foi?

— Preciso que tu saia hoje de noite.

— E por que eu sairia?

— Primeiro porque sou mais velho e tô manda-.

— Você é, sei lá, 1 minuto mais velho, não enche o saco. — Resmungou, indo à frente do espelho e ajeitando novamente o seu cabelo.

— Tudo bem. — Deu de ombros. — A Anne vai vir aqui hoje de noite. Quero ficar a sós com ela, e quando você não tá fazendo merda pela cidade, tá enfurnado nesse quarto, então eu preciso que saia por algumas horas.

— Céus, se queria foder com a putinha era só me dizer. Não precisa bancar o santo.

A expressão de Ezra instantaneamente alterou-se, aproximando-se novamente do rapaz e agarrando-o fortemente pela gola da sua camiseta, ouvindo-o rir de deboche como resposta. E antes que pudesse lhe fazer calar a boca de uma vez com um soco bem dado, a porta abriu-se, revelando a figura alta do seu pai, então levando-o a afastar-se em temor.

— O que tá acontecendo? — O homem questionou, espreitando aos arredores e adentrando o quarto dos filhos, observando atentamente Micah dar de ombros e acercar-se da porta, na intenção de sair de uma vez, mas foi barrado. — Onde pensa que vai? — A mão pesou sobre o seu ombro.

Sentimentos InaptosOnde histórias criam vida. Descubra agora