Vigia

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[''Eu ainda repito as coisas que você me disse na minha cabeça. '']

— 17 DE FEVEREIRO DE 1997 –

Capítulo nove

...

Matthew preenchia as fichas de alguns pacientes com as novas informações que recebera deles nas últimas consultas, atento a cada letra que se formava com a caligrafia precisa. Lembrava-se de quão rápido costumava escrever os seus resumos quando era adolescente, sempre com diversos livros à sua volta e um caderno velho servindo para depositar tudo o que a sua mente guardava. Foram bons tempos, e ao menos agora poderia desfrutar do conhecimento já nato em escrever com uma velocidade admirável.

Concentrado do jeito que estava, tampouco importou-se com as vozes que escutou na recepção, pensando que poderia ser a recepcionista com o seu rádio de sempre. Porém, assim que um tom raivoso e masculino prevaleceu por mais de alguns segundos, percebeu que havia realmente algo de errado. Poderia ser o familiar de algum paciente que estava alterado, ou até mesmo um delinquente.

Portanto, sem nem pensar duas vezes, deixou as fichas na mesa e prontamente levantou-se, caminhando até à direção da porta e abrindo-a em um único e veloz gesto, se deparando com ninguém mais ninguém menos do que Aeryn. Os seus olhares se encontraram no mesmo instante, levando-o a abaixar o tom e permitir que um sorriso asqueroso e irônico tomasse conta do seu rosto.

— Eu sabia que ele estaria aqui. — Permaneceu com o sorriso na face, aproximando-se de Matthew.

— Qual foi o motivo da gritaria?

— Erro meu, Matt. — A mulher suspirou. — Como estava preenchendo as fichas e pensei que não queria ser incomodado, disse a ele que não estava, mas aparentemente ele sabia... E enfim, acabamos nos esquentando com isso. Me desculpe.

— Deveria arranjar uma recepcionista melhor. — Então o homem grunhiu, respirando fundo em seguida. — Podemos conversar?

— Agora? — Arqueou uma das sobrancelhas, voltando a olhar para a desordem em sua sala. — Francamente, agora não é uma boa hora.

— Vamos lá, nunca é uma má hora para encontrar-se com um velho amigo, não é?

Matthew fitou-o por alguns segundos, bem sabendo que aquele termo já há muito tempo não poderia ser aplicado a ambos, mas mesmo assim compreendia que não passava de uma técnica para deixá-lo entrar de uma vez. Afinal, Aeryn já percebia que não iria começar uma discussão sobre esse assunto em específico na frente da recepcionista, que já semelhava interessada em alguma possível briga.

Por isso, dando-se por vencido, concordou juntamente à um suspiro, afastando-se pouco da porta para que Aeryn pudesse adentrar o escritório, por conseguinte fechando a passagem logo atrás de si, permanecendo no mesmo lugar.

— Fazia um tempo desde que não tínhamos uma conversa frente a frente, não é?

— Claro, sempre manda Anne para falar sobre Isaac. — Deu de ombros, passando ao seu lado e dirigindo-se até à sua cadeira, sentando-se e esperando que Aeryn fizesse o mesmo. — Eu não serei atencioso e amigável se é isso que espera de mim agora. Então, o que quer?

— Bem, o meu filho vem aqui quase semanalmente, acho que alguma hora iríamos nos encontrar, não acha? — Disse enquanto se aproximava, sentando-se à sua frente. — Anne não pôde vir hoje, então eu quero saber sobre os progressos e regressos do último mês.

Sentimentos InaptosOnde histórias criam vida. Descubra agora