[Como uma pessoa cheia de vida pode sentir-se tão vazia? Até onde isso vai?]
— 1 DE MAIO DE 1996 –
Capítulo seis
...
Depois de muito insistir, foi-lhe permitida a ida para a casa de sua amiga Jenny. Claro, a resistência era por parte de seu pai, que pensava que o garoto poderia falar algo de esquisito na frente dos pais da menina e assim levantar alguma suspeita. Porém, depois de algumas horas de conversa com Anne tentando lhe convencer de que "trocar os ares" poderia ajudá-lo de verdade, Aeryn acabou por ceder.
Portanto, depois de mais um dia normal da escola, Isaac não voltaria para casa com o seu pai, mas sim no carro do pai de Jenny, o senhor Rhys. Assim que adentrou o veículo e o cumprimentou com um sorriso tímido, estranhou quão próxima Jenny ficou, até mesmo depositando um beijo em sua bochecha antes de sentar-se ao seu lado no banco de trás.
Não sabia que era possível que os pais pudessem ser assim tão próximos. Achou que ouviria o homem reclamar, gritar com ela para que isso não se repetisse, mas não aconteceu nada disso, pelo contrário, um sorriso surgiu em seu rosto antes de lhe perguntar como havia sido o seu dia.
Aeryn nunca havia lhe perguntado nada daquilo, e também não sentia que era importante o suficiente para compartilhar com ele, apenas ousando falar sobre quando a sua mãe vinha lhe pedir em certas ocasiões. O único com quem conversava sobre o assunto era Matthew, mesmo que fosse apenas durante um dia da sua longa semana.
— Foi legal, pai. — Deu de ombros a menina, olhando para o retrovisor e percebendo o seu olhar focar-se no menino ao seu lado.
— E o seu, Isaac? — Então ele perguntou-lhe, surpreendendo-o um pouco.
— É... normal. — Deu de ombros, desviando o olhar do vidro e dirigindo para a garota ao seu lado, como se lhe indagasse se havia dito a resposta correta.
O senhor Rhys gargalhou brevemente da sua resposta quase que atrapalhada, retomando a atenção para a rua. Ele, que de senhor não possuía nada. Provavelmente tinha a mesma idade do seu pai, ou quem sabe um pouco mais jovem. Não sabia muito sobre ele, tampouco no que trabalhava, mas sabia apontar que Jenny, sem dúvidas, não havia puxado por aquele homem de cabelos louros à sua frente.
Ele era realmente alto, assustadoramente alto, até mesmo maior que Matthew. Ou, quem sabe, pensava isso por ser apenas uma criança de seis anos. De qualquer forma, Rhys trajava um terno claro, o que lhe indicava que trabalhava em algum lugar importante. Poderia ser até mesmo um espião, ou, na melhor das hipóteses, o CEO de uma companhia de doces.
— Os seus pais deixaram que ficasse até que horário, Isaac? — A voz do homem novamente chama a sua atenção, retomando o olhar com o retrovisor.
— Até o fim da tarde.
— Se eles não tiverem como buscar, eu posso te levar. Não vai me custar nada.
— Não precisa. — Deu de ombros. — Meu pai vai vir. Ele disse que vinha.
— Ah, então tudo bem. Mas e aí, o que planejam fazer durante a tarde?
— Acho que podemos ir na casa da árvore... — Jenny murmurou.
— Casa da árvore?! — Isaac não conseguiu conter a sua alegria, virando-se imediatamente na direção da menina com um grande sorriso estampado no rosto.
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Sentimentos Inaptos
אימהE se você não conseguisse sentir nada? Isaac Evans é um adolescente portador de uma síndrome rara, que o impede de sentir qualquer estímulo externo em seu corpo. Em meio a descobertas circundantes à sua sexualidade e liberdade, também está atado aos...