[Ter um irmão é ter, para sempre, uma infância lembrada com segurança em outro coração.'']
— 10 DE MAIO DE 1998 —
Capítulo dezessete
...
Isaac olhava diretamente para a sua irmã, Brooke, enquanto ela rabiscava uma folha em cima da sua cama. Apenas detinha o privilégio de permanecer tão perto e no mesmo ambiente que ela, uma vez que o seu pai não encontrava-se em casa. Eram poucas as vezes, de fato, e a maior parte delas eram momentos efêmeros e que dificilmente conseguia aproveitar qualquer coisa ao lado da sua própria irmã.
Afinal, mesmo que não fosse tão próximo dela — não porque não desejava —, ainda assim mantinha em mente que nos instantes em que estava ao seu lado, faria de tudo para que Brooke ao menos conseguisse desfrutar de uma infância ligeiramente normal se comparada a dele. Sempre buscava abafar os gritos das discussões ou distraí-la quando aconteciam, ensiná-la a comer direito sempre que o seu pai não encontrava-se em casa ou até se divertir um pouco.
— Brooke, o que você tá desenhando aí? — De súbito quis perguntar à garotinha, que virou o rosto na direção do seu irmão, sentado na cadeira próxima. — Tá há um tempão aí...
— A gente. — Ela disse sorridente, ajeitando-se na cama e erguendo a folha de papel para Isaac ver. — Eu vi o seu desenho na parede. Quis desenhar a gente.
— O meu... desenho? — Franziu o cenho.
— É. O desenho da família. Quero fazer um desenho assim também.
— Ah, sim... — Levantou-se, sentando-se na beirada da cama para observar melhor. — O papai não tá aqui. Por quê?
— Porque... Ele faz mal pra mamãe. — Suspirou, largando o lápis e sentando-se, cruzando as pernas e olhando para o seu irmão. — E pra você também.
— Mas se ele ver esse desenho... não vai gostar de saber que não tá nele, Brooke. — Respirou fundo, encarando o boneco palito que correspondia a si mesmo.
— É só ele não ver. — Deu de ombros. — Guarda na sua gaveta quando eu acabar. Vai ser pra você.
Isaac sorriu, concordando então e bagunçado gentilmente os cabelos louros e curtos da sua irmã, que resmungou em desaprovação, afastando-se. O garotinho nada fez além de rir e se levantar uma vez mais, agora dirigindo a sua atenção para a janela aberta, proporcionando claridade e a visão do belo dia que se instaurava sobre a sua pequena cidade.
Desde a vinda daquele novo aluno para a turma de James, as vezes em que Tyler ou Jenny vinham para a sua casa ou era convidado para ir na deles diminuiu significativamente. O que eram três vezes por semana agora se tornou um evento raro a cada quinze dias. Para não mencionar que, mesmo quando eles iam para a aula, preferiam ficar com aquele garoto no horário do recreio.
Ainda estava um pouco irritado com isso e, de certa forma, com ciúmes do que acontecia, porém outra parte de si lhe dizia que aquilo sempre estava destinado a acontecer. Tyler apenas era o seu amigo porque não gostava verdadeiramente de James e reprovava as suas ações, e o mesmo se repetia com Jenny. E agora, com aquele tal de Jeff, até mesmo as provocações de James haviam cessado. Agora ele simplesmente ignorava a sua presença, limitando-se a esbarrar em seu ombro caso estivesse em seu caminho.
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Sentimentos Inaptos
HorrorE se você não conseguisse sentir nada? Isaac Evans é um adolescente portador de uma síndrome rara, que o impede de sentir qualquer estímulo externo em seu corpo. Em meio a descobertas circundantes à sua sexualidade e liberdade, também está atado aos...