Teoria Do Caos

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[ Vazios ocupam muito espaço. ]

— 29 DE MARÇO DE 1996 –

...

Capítulo Quatro

Durante o intervalo, Isaac costumava sentar-se sob uma grande árvore no meio do pátio de sua escola. A brisa sempre era excelente, acariciando o seu rosto e levando para longe as folhas que caíam, por vezes distraindo-o do fato de que nenhuma criança aproximava-se de si. Suspirou, encostando a cabeça no tronco enquanto admirava o céu. Gostava de olhar as nuvens passageiras, o grande azulado e o sol tímido. Era um bom observador, afinal.

Às vezes algumas professoras vinham lhe fazer companhia, agachavam-se ao seu lado e perguntavam algumas coisas, mesmo que a maior parte das questões era se precisava de algum remédio em sua mochila ou alguma ajuda. Ninguém lhe indagava se achava o céu bonito, o que gostava de fazer em seu tempo livre ou se gostaria de brincar com as demais crianças. Não, tudo era acerca da sua síndrome, de como ela poderia limitá-lo.

Sabia que as pessoas possuíam certas dúvidas, e a sua mãe já lhe explicara que seria normal receber perguntas sobre isso ao longo da sua vida, no entanto, estava cansado de apenas falar sobre isso, como se aquela maldita síndrome fosse tudo o que era. Além de uma condição, era um garoto que desejaria divertir-se como o restante. Queria escorregar no escorregador como os outros sem receber olhares estranhos, escalar o trepa-trepa e sentir-se o rei do mundo assim que atingisse o seu topo.

Apenas queria divertir-se.

Levantou-se então, brevemente recebendo o olhar de uma professora, que aproximou-se como se o fim do mundo estivesse chegando.

— Isaac, querido, está tudo bem? — Indagou a mulher chamada Amy; era uma jovem de vinte e poucos anos, de longos cabelos volumosos escuros e um olhar amistoso sempre estampado na face. — Quer que eu pegue alguma coisa?

— Não, eu só... me levantei. — Fitou-a, confuso, percebendo a vergonha manifestar-se em seus olhos. — Eu quero ir com eles. — Apontou para o resto das crianças no pequeno parquinho.

— Querido, a sua mãe disse que devemos tomar cuidado com machucados, porque—.

— Eu quero ir com eles. — Insistiu. — Por que eles podem brincar e eu não? Eu também quero brincar.

— Querido, é porque se você se machucar, demora mais do que o normal para cicatrizar. Não quer ficar todo machucado, não é? — A moça agachou-se, dispondo gentilmente as mãos em seu rosto. — Lá você pode cair e se ralar todo.

— Mas eu quero.

Amy respirou fundo, virando-se para as crianças e pensando se deveria mesmo deixá-lo ir até lá. No fundo, entendia que o garoto precisava ter contato com outras crianças da sua idade e que provavelmente não arranjaria nenhum amigo se somente ficasse sentado sob a mesma árvore, mas ainda assim temia alguma resposta negativa de qualquer uma delas. Contudo, pensou que caso se mantivesse próxima de onde estava, ninguém faria nada por temor de uma autoridade por perto, portanto, assentiu para o garoto animadamente.

Um grande sorriso iluminou-se no seu rosto, logo correndo em direção ao parquinho. Amy partiu rapidamente atrás da criança alegre, percebendo alguns dos grupinhos que conversavam pararem subitamente, vendo-o acercar-se com um pouco de receio. Gostaria de falar alguma coisa, avisá-las para retirar essa expressão do rosto porque era feio, contudo, sabia que se o fizesse em voz alta, assim Isaac iria notá-las, e quem sabe ficasse verdadeiramente chateado. Ele agora parecia tão alheio aos olhares, indo até um dos balanços e inclinando-se para frente e para trás como se fosse a primeira vez que sentava-se em um. Não queria estragar o seu momento.

Sentimentos InaptosOnde histórias criam vida. Descubra agora