[''A vida é um contrato de risco e que não há caminhos sem acidentes.'']
— 21 DE MAIO DE 1976 —
Capítulo doze
...
Matthew olhava fixamente para o quadro de anotações pendurado na parede do seu quarto. Lá, pelo menos uma vez ao mês, escrevia as suas metas bimestrais, como, por exemplo, as notas que esperaria tirar em cada prova que viria ou todos os livros que gostaria de ler até à data-limite. Era a única forma de manter-se organizado, ainda que se sentisse péssimo quando não conseguia realizar um dos itens.
Estava tão concentrado pensando em quais seriam as próximas conquistas que poderia redigir para o seu futuro, que tampouco atentou-se aos sons de passos do lado de fora do seu quarto, ou das vozes altas que rapidamente se alastraram e intensificaram. Apenas se deu conta do que acontecia quando a sua porta abriu-se de repente, revelando a figura de Micah, correndo até à sua direção.
Sobressaltou-se no mesmo instante, jogando para o alto o lápis que segurava em mãos e dando um grande passo para trás, provocando uma alta risada vinda do seu amigo .
— Não faça isso! — Gritou com raiva, aproximando-se do objeto e pegando-o novamente. — Eu estava concentrado!
— Ah, no quê? — Debochou, aproximando-se e deixando um dos braços sobre o seu ombro. — Nessas suas anotações inúteis de sempre?
— Não são inúteis. Me ajudam a me organizar. Já te disse isso. — Suspirou, afastando-se e só então fitando-o diretamente. — Cara. O que aconteceu com o seu olho?
— Tá roxo, né? — Riu, dando de ombros e sentando-se na cama do garoto. — Ah, meu pai ficou grilado com uma coisa que eu fiz e resolveu me dar uma lição.
— E você veio pra cá sem tentar nem disfarçar?
— Ah, e por que? Vai fazer diferença nenhuma. — Deitou-se nos lençóis, observando o teto. — Seria engraçado se algum dia ele nos confundisse e batesse no Erza em vez de mim.
— Vocês são diferentes demais pra isso.
— Qual é, tava brincando. — Resmungou, sentando-se parcialmente. — Teoricamente e geneticamente, a gente é gêmeo, então não é tão diferente assim. Não somos tão parecidos porque ele gosta de bancar ser aqueles hippies de merda, achando que vai parecer descolado.
— Ezra tá longe de ser hippie.
— Tá, que seja qual é o estilo de merda dele. — Suspirou. — Então somos diferentes porque "Deus" sabia que seria fatal demais ele ser parecido comigo. Seria muita beleza pro mundo.
— Vai se ferrar. — Matthew riu, acercando-se da sua cama e sentando-se na borda. — Mas e aí, tá doendo muito? Eu tenho gelo, posso pegar.
— Nah, tá de boa. Ah, enfim, lembrei o porquê vim aqui. Você quer ser psicólogo e é todo metido a entendedor das coisas, então bota essa cabeça pra pensar por um segundo. Quero ajuda numa coisa. — O garoto concordou, aguardando a sua pergunta. — Tu acha que alguém tocar o outro sem que ele queira é um método de aprendizagem?
Os olhos do seu amigo imediatamente se arregalaram, o fitando incrédulo, não compreendendo, e outra parte de si, não querendo nem saber a razão de tal pergunta e dúvida. No entanto, respirou fundo, ajeitou os seus óculos e recuperou a calma.
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Sentimentos Inaptos
HorrorE se você não conseguisse sentir nada? Isaac Evans é um adolescente portador de uma síndrome rara, que o impede de sentir qualquer estímulo externo em seu corpo. Em meio a descobertas circundantes à sua sexualidade e liberdade, também está atado aos...