Ser Falho

3.4K 386 264
                                    

[Tem gente que esconde um mar de lágrimas nos seus olhos]

...

— 1 DE MARÇO DE 1996 —

Capítulo três

Isaac brincava com um carrinho no meio da sala de estar, erguendo-o por aí e passando-o pelos móveis e paredes, fingindo estar ganhando uma corrida importante. Anne, em contrapartida, estava na cozinha, preparando o jantar dos dois, concentrada em cada aspecto da comida para que não errasse nada.

— Isaac, pode me fazer um favor? — Mas então a mulher chamou a sua atenção, congelando os seus movimentos por um instante, temendo estar irritando-a. — A Brooke está lá fora, pode ir pegar ela pra mim? Tá na hora de ela comer alguma coisa.

— Ah... — Um sorriso surgiu no seu rosto, finalmente ela estaria confiando em si para cuidar da sua irmãzinha? — Tudo bem! Eu já volto.

— Não a apresse... E se ela cair no caminho, ajude-a a se levantar.

— Sim, mãe... — Concordou de cabeça baixa, jogando o carrinho no sofá e correndo ao seu lado.

Era a primeira vez em muito tempo que Anne o deixava ficar perto de Brooke sem qualquer supervisão. Será que Matthew realmente estava convencendo-a como lhe havia prometido? Esperava que sim.

Atravessou animadamente o corredor até a porta dos fundos, abrindo-a de uma só vez e encontrando a sua irmãzinha se lambuzando toda com o resto da neve que ainda não havia descongelado completamente. Suspirou, descendo as pequenas escadas e pondo-se à sua frente, inclinando a sua cabeça para o lado enquanto a analisava.

— Não pode comer neve. — Disse, afastando as mãos da menina do próprio rosto. — Faz mal. É por isso que tava com dor de barriga.

— Gelado. — Resmungou, negando com a cabeça quando Isaac tentou segurá-la.

— O quê?

— Mão. Gelado. — Fez uma careta, desviando o olhar e cruzando os braços.

Isaac dirigiu o seu olhar para as próprias mãos, não conseguindo compreender o que ela estava tentando dizer. Na maior parte das vezes, sempre que tocava alguém, reclamavam de quão gélidas poderiam ser, mas pensou que isso era normal devido ao frio rigoroso. Aparentemente, não.

A verdade é que as suas extremidades sempre estariam frias devido à mudança na sua pressão arterial, não alterando-se mesmo que o clima estivesse ameno. Suas mãos possuíam um aspecto doentio, mais pálidas que o resto do seu corpo e ligeiramente azuladas, mais fácil de encontrar-se as suas veias debaixo da fina camada epiderme.

— Tudo bem. — Mas concordou, então levando as suas mãos para as suas roupas, dando-lhe um impulso para levantar-se. — Melhor? — Viu-a concordar, segurando-se fortemente no seu braço para não perder o equilíbrio.

Isaac suspirou, caminhando lentamente até às escadarias, vendo-a subi-las de modo desajeitado, mas dessa vez não caiu como a ocasião que se lembrava. Um sorriso de orgulho surgiu em seu rosto ao vê-la soltar do seu braço e arriscar andar sozinha pela casa, parando às vezes e balançando-se para recuperar a estabilidade.

Sentimentos InaptosOnde histórias criam vida. Descubra agora