Capítulo 3

598 63 5
                                    


4 anos depois.

-Louise - chamou Helena, mas não obteve resposta - onde está essa menina? - sussurrou para si mesma.

A mulher caminhava de um lado para o outro. Estava nervosa, tão nervosa que se esqueceu de laçar as fitas de seu espartilho, coisa que raramente acontecia. Jonathan, sentado em uma das poltronas, não aguentava mais o alvoroço da esposa, mas se conteve em dizer algo, afinal mulheres sempre são mais agitadas quando se trata de filhos.

Nana e Henri estavam para chegar, depois de quase dezenove anos longe de casa. Adelina adentrou a sala após Helena chamar. A ama estava mais velha, com poucos cabelos brancos, vestes novas e mais limpas.

-Onde está Louise? - Perguntou Helena.

-Lavando as roupas, senhora.

-Chame-a para mim, por favor. Preciso dela.

-Se a senhora quiser, posso fazer no lugar dela.

-Não! - exclamou a mulher um pouco irritada. - A quero aqui.

Adelina assentiu.

-Sim, senhora.

Após a escrava sair, Jonathan virou-se a ela, com os olhos semicerrados. O velho não havia mudado muito, ficou um pouco mais gordo, cabelos totalmente grisalhos, mas aparentava ser jovem.

-Porque chamar Louise? Adelina se prontificou a ir.

-Ela é mais jovem, Jonathan - respondeu ela gentilmente. - Tem mais força e mais disposição.

Helena respondeu convincente, mas não para o marido. Ele sabia que não queria que seus filhos vissem a escrava. Por um lado daria razão a ela, a amizade dos três era muito profunda, e cortar as raízes seria o mais apropriado. Mas por outro, não gostava das outras garotas da cidade, eram muito oferecidas e interesseiras, enquanto a humildade de Louise cativava a todos.

Depois de alguns minutos a menina chegou. Usava um vestido muito simples, um pouco molhado por estar lavando roupas, era longo e caía sobre os ombros, tomava uma cor amarronzada. Seus cabelos estavam mais compridos e armados, presos por alguns grampos atrás da cabeça. Sua beleza era simples, porém encantadora.

-Chamou-me, senhora?

-Sim. Vá ao mercado e compre trigo, verduras e... - Helena estalou os dedos ao tentar se lembrar do ingrediente que faltava - bom, compre só isso. Verei o que falta. Pode ir.

Louise assentiu. Não questionou quanto ao fazer compras no mercado, havia feito três dias atrás e garantia que tudo o que a senhora pediu estava no armário, porém só balançou a cabeça e se foi.

Eram por volta de 17h00min da tarde. O mercado, como sempre, estava cheio. Henri e Nana passeavam desde cedo. Passaram por todos os lugares que frequentavam na infância. Para eles, tudo o que havia ali era como um sonho, um sonho distante, mas cheios de boas e más lembranças. A menina segurava o braço do irmão. Seu vestido era um pouco pesado e incomodava, optou por um verde musgo, alguns detalhes dourados nas mangas compridas e barra. O espartilho apertava suas costelas, quase não respirava, mas tinha que parecer uma dama aos olhos da mãe, pois nunca se considerou uma. Gostava de fazer atividades que envolvesse movimento, coisa que não era muito aceita.

-Henri - chamou ela, empolgada, - lembra-se daquilo? - Apontou para uma banca de artesanatos logo a frente.

-E como não lembrar? - Disse um pouco sério. Por mais que estivesse com saudades, aquele lugar lhe trazia más recordações.

Nana bufou.

-Anime-se - pediu ela. - Desde que voltamos não deu um sorriso sequer. Não está feliz?

Era uma vez uma épocaOnde histórias criam vida. Descubra agora