-Conte-me, como foi? - Perguntou Nana enquanto Louise limpava a cozinha.
A menina virou-se para a sinhá e sorriu.
-Você é uma mulher muito levada, mas agradeço - a negra caminhou até a porta da cozinha, observou se alguém estava vindo e então voltou - estamos juntos.
Nana abriu um sorriso de orelha a orelha, soltou um grito abafado e abraçou a menina. A loira estava mais eufórica que a própria Louise, mas também, podia-se dizer que nem mesma ela acreditava falar isso um dia. Gostaria que sua mãe estivesse ali para apoia-la, coisa que seria muito difícil, afinal Isabel sempre alertou sua filha em relação a amizade dos senhores para com ela. Adelina ficaria uma fera se descobrisse, mas ao ver a sobrinha feliz, talvez reconsiderasse sua ideia. Sentia falta das duas, queria que ambas estivessem presenciado o que acabou de contar independente do que falariam.
-Mas não vamos falar a ninguém - Sussurrou Louise. - Não ainda. Tenho receio do que possa acontecer.
-Meu irmão protegerá você. Eu protegerei você também. Fique tranquila que nada lhe acontecerá.
Louise sorriu, mas ainda sim, não tinha a total segurança de que estaria a salvo, mesmo com as garantias que Nana lhe dava. Isso era muito mais complexo que se podia imaginar, afinal Henri não tinha sua posse e sim seu pai. Poderia vendê-la a qualquer momento, contra a sua vontade, isso era o que mais temia.
A negra respondia a tudo o que Nana perguntava. Não tinha nada a esconder, apesar de ficarem separadas um bom tempo, ela ainda era sua amiga.
O dia passou rápido para Louise, mesmo estando atarefada como sempre, porém seus pensamentos estavam ocupados por Henri. Ela estava feliz como nunca esteve antes e não se arrependeu nem um pouco do que acontecera no dia anterior. Cada toque, cada beijo aumentava sua paixão por ele e podia-se dizer que com ele não foi diferente. Sua pele formigava ao pensar em Henri, seu coração quase explodia, seu estômago revirava deixando-a agitada.
Não demorou muito a sentir aquela sensação novamente. Henri a abraçou por trás dando leves beijos em seu pescoço. A menina virou-se alarmada, porém cedeu aos seus caprichos.
-Encontre-me na estufa depois que todos dormirem - disse ele, quase em um sussurro.
-Eu não acho uma boa ideia - respondeu no mesmo tom.
-Por favor. Semana quem vem será seu aniversário, mas não poderei vê-la. Meu pai viajará amanhã e terei de ir com ele, então preparei uma surpresa esta noite.
O sorriso que estava em seus lábios diminuiu, mas não poderia pedir para ele ficar, por mais que quisesse. Louise elevou sua mão ao rosto de Henri acariciando-o delicadamente.
-Estarei lá.
Ele a beijou rapidamente e então se foi. Ela suspirou e sorriu olhando vagarosamente para o nada. Teria que separar sua melhor roupa, porém teria dificuldade já que todas estavam velhas e gastas.
As poucas horas que faltavam traziam, para ambos, uma espera angustiante. Uma noite fria e totalmente escura prevalecia no céu, nem mesmo a lua apareceu para clarear o pequeno caminho que levava a estufa. Louise aguardava ansiosamente dentro de seu quartinho, comendo o que restava de suas unhas, queria ver o que Henri havia preparado, com certeza iria gostar.
Após o silencio na casa reinar Louise abriu a porta de madeira lentamente para não ranger e saiu em direção a porta dos fundos da cozinha, mas antes ascendeu uma vela para ajudar a não tropeçar. Uma brisa gelada bateu em seus braços nus fazendo-a estremecer, mas não hesitou nem um pouco. Andou por uma trilha estreita de pedra até avistar as paredes de vidro da estufa. Sabia o caminho mais que qualquer um então não fora difícil chegar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma vez uma época
Romance"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...